O talento. E o trabalho!

OPINIÃO14.12.201800:21

JÁ Cristiano Ronaldo o disse um bom par de vezes, mas um destes dias, vendo um precioso documentário na Bola TV, ouvi o mesmo da boca de outro excecional atleta como é o basquetebolista alemão Dirk Nowitzki, o mais norte-americano dos jogadores europeus da NBA, que aos 40 anos ainda é a grande estrela dos Mavericks. Tal como o nosso Cristiano Ronaldo, diz também Nowitzki que o talento representa apenas 15 a 20 por cento do sucesso na carreira de qualquer atleta; os outros 80 por cento, diz Nowitzki, como muitas vezes já ouvimos de Cristiano Ronaldo, «são força de vontade, trabalho, determinação, empenho, paixão, profissionalismo e espírito de sacrifício».
Fala quem sabe, porque quer Cristiano Ronaldo quer Dirk Nowitzki, dois campeões absolutamente notáveis, sabem bem como chegaram ao topo, e o que precisaram realmente de fazer para chegar ao topo a que muito poucos têm acesso.
Cristiano Ronaldo talvez como melhor atleta de futebol da história, Nowitzki talvez como melhor jogador europeu da história da NBA, com uma carreira de duas décadas na mais exigente e fantástica competição de basquetebol do mundo.
Claro que o talento é essencial. Pode, por vezes, ser até suficiente para um sucesso momentâneo, uma vitória pontual, um troféu decidido num só jogo.
Mas o que Ronaldo e Nowitzki querem dizer - e não serão apenas eles a dizê-lo, evidentemente - é que o talento jamais dará para construir uma carreira de êxito. Pode chegar para ganhar um jogo, mas nunca para ganhar um campeonato. É um pouco como a diferença entre arrogância e humildade; a arrogância de um talentoso pode sempre trazer-lhe algum sucesso, mas será sempre a humildade a dar-lhe grandeza. E só os realmente grandes marcam a história!
Servirá tudo isto um pouco para nos ajudar a estabelecer as reais diferenças atuais entre as duas mais fortes equipas portuguesas de futebol, um FC Porto que se afirma, mais uma vez, como capaz de competir ao mais alto nível na Europa, e um Benfica que vai agonizando entre tímidas vitórias e a muito discutível qualidade do seu jogo.

TÊM os jogadores do Benfica inquestionável talento e esse talento tem-lhes sido, apesar de tudo, suficiente para conseguir vencer alguns jogos, e a verdade é que  venceram realmente os últimos cinco, jogados desde que no comando técnico da equipa Rui Vitória sucedeu… a Rui Vitória.
Ou seja, com o Rui Vitória que esteve quase para ser despedido e acabou, afinal, por continuar, o Benfica só venceu. Mas se o talento dos jogadores vai chegando, nalguns jogos, para atingir o sucesso, o talento já estará longe de ser suficiente para dar ao Benfica a dimensão competitiva que o plantel justificava e a qualidade de jogo que todos os adeptos esperariam.
O plantel do FC Porto também tem, naturalmente, jogadores de talento mas o que tem levado até agora o FC Porto ao sucesso - como o da fase de grupos da Liga dos Campeões - é muito mais do que talento, porque o valor da equipa parece ser já superior ao valor individual dos jogadores.
O FC Porto tem talento, mas tem sobretudo muito trabalho, organização, intensidade, envolvimento, seriedade competitiva - como ainda na edição de ontem de A BOLA chamava, e bem, a atenção o diretor Vítor Serpa - e uma força coletiva que ajuda a superar as dificuldades e transforma, repito, jogadores de menor talento em competidores absolutamente extraordinários.
Como é, emblemático,  o caso de Marega.
Pode, pois, parecer o Benfica ter mais e melhores soluções individuais, e tem o Benfica, na minha opinião, realmente o melhor plantel das três grandes equipa nacionais, tendo em conta a qualidade e a quantidade.
A verdade é que este Benfica, como mais uma vez se viu frente ao modesto AEK, da Grécia, não consegue mostrar proporcional competência nem, no mínimo dos mínimos, uma capacidade competitiva constante. É uma equipa de soluços, demasiadamente entregue a esses soluços, que se deixa ir conduzindo pela conjuntura do jogo e não pela estrutura do seu futebol, que ora se embala nalguns movimentos de ataque encantadores, ora se perde entre a incapacidade de agarrar no jogo e a incompreensível atitude de ir esperando para ver o que o jogo dá.
Não acredito, de resto, que haja algum adepto benfiquista contente com o futebol que a equipa mostra.
Só mesmo o treinador do Benfica parece deliciado com o que a equipa joga.
Vá lá perceber-se porquê.

SOU verdadeiramente um fã de Seferovic, o avançado suíço que andou desaparecido na Luz sabe-se lá, também, porquê, até parecer ressuscitar depois do Benfica comprar dois misteriosos avançados como são ainda Castillo e Ferreyra.
Sou um fã de Seferovic sobretudo pelo que a força de vontade, trabalho, determinação, empenho, paixão, profissionalismo e espírito de sacrifício do avançado internacional suíço representam para a equipa do Benfica e não tanto pelo seu talento, que não chega, naturalmente, aos calcanhares do talento de Jonas, companheiro de equipa que de vez em quando lá substitui, mas com quem podia perfeitamente jogar muitos mais vezes do que tem jogado, porque na verdade o que Seferovic mostra sempre que está em campo merecia, na minha opinião, contar com o apoio direto de um jogador tão talentoso - mas muito menos agressivo e intenso - como é Jonas.
O treinador do Benfica lá saberá porque não deve ser assim, apesar do que se tem visto sugerir, por vezes, exatamente o contrário.