O tabu de Cristiano Ronaldo

OPINIÃO23.07.202206:30

Sejamos francos: este tabú de Cristiano Ronaldo não faz sentido e cada dia que passa se está a tornar cada vez mais insustentável

CRISTIANO RONALDO é nosso, orgulho de Portugal e exemplo de sucesso para os portugueses. Percebe-se que, por isso, todos tenhamos um olhar condescendente e uma visão complacente, mas feliz, ou infelizmente, a função do jornalista não é a de ser passivo perante a dúvida, ser colaborante com o que não é, mas precisa de ser explicado.

Vejamos o assunto desta forma simples: o leitor é, por um qualquer acaso da vida, um comprometido adepto do Manchester United. Ouve e lê as declarações do treinador principal da sua equipa, Erik ten Hag, e percebe que nem ele sabe, ou pelo menos diz que não sabe, o que se passa. Mais: informa que, perante a realidade da ausência de Cristiano, não vai esperar que ele regresse, vai continuar a trabalhar com os que estão presentes e admitir que se Cristiano voltar logo se verá como poderá integrá-lo. Só falta dizer, sem dano para a saúde coletiva da equipa.

Sejamos francos. Este tabu de Cristiano Ronaldo não faz sentido, até porque ninguém pode estar acima de um clube ou de uma equipa. Nem mesmo Cristiano Ronaldo. Ele próprio, pela sua própria inteligência e experiência, sabe que a situação não é sustentável, a menos que todos estejam a representar um papel numa peça de teatro em que os espectadores são ludibriados e Cristiano, a estrela, esteja apenas a ganhar tempo para uma despedida de Manchester e tratar de uma nova colocação na Europa, talvez para encerrar a sua carreira ao mais alto nível.

Para já, vai-se vendo Cristiano e a família, felizes das suas vidas de privilégio, numas férias prolongadas. Há a garantia - e nisso podemos acreditar - que Cristiano cuida do físico e treina-se todos os dias. Convenhamos que não se trata de cumprir uma exigência mínima para um futebolista profissional, que é a de se treinar em conjunto, conhecer o treinador, inteirar-se de novos sistemas e de novos processos. Não é possível, nem mesmo a um superatleta como é Cristiano, treinar em casa, porque é uma chatice ter de fazer um estágio na Austrália e na Tailândia, demasiadas horas de voo, jet lags infernais, saudades da família, do barco, do Aston Martin e do Rolls-Royce, e depois chegar fresquinho a Manchester, o corpo bronzeado e finalmente disponível às canseiras dos jogos, e entrar com passadeira vermelha estendida no onze principal do Manchester United, uma equipa e um clube demasiado célebres para permitirem uma tão grande exceção a tudo, incluindo ao bom senso.

Portanto, a verdade é que fora do círculo familiar, amigo e, talvez, de uma célula profissional que gira em redor de Cristiano, ninguém sabe muito bem o que está a acontecer, o que verdadeiramente pensa o nosso eterno e inesquecível herói nacional.

Poderão dizer que não devemos tomar como nossas as dores de outros, para mais estrangeiros dessa Britânia que nem sempre foi tão amiga e aliada. No entanto, a verdade é que também nos preocupa a imagem real da grandeza de caráter daqueles que são para todos nós um exemplo.

Alguma coisa se irá passar, certamente, nos próximos dias, não vejo como possa ser de outra forma, mas a verdade é que o caso me intriga, me surpreende e, na medida em que gosto de ser, além de um cidadão, um jornalista informado, me preocupa por não perceber exatamente a dimensão do assunto.

A ideia que ressalta da reação do clube e do seu treinador é que não parecem contar muito com o regresso do capitão da Seleção portuguesa e que o nosso CR7 poderá vir a conhecer, mesmo, novas paragens. Mas que tipo de portas se poderão abrir nestas circunstâncias tão estranhas e tardias?
 

Ronaldo não está a treinar-se com a equipa 


DENTRO DA ÁREA – O MAGNÍFICO TOUR DE FRANCE 

É a corrida mais bela do mundo. Tive o privilégio de a viver por dentro, não tanto como o inesquecível Carlos Miranda, mas ainda assim um pouco. Um mundo único e inesquecível, capaz de criar um dos mais deslumbrantes espetáculos deste planeta. Termina amanhã, em Paris, com o esplendor habitual, este fantástico Tour de France. Os ciclistas de elite são cada vez mais supertatletas, com uma resistência ao cansaço e à dor que parecem sobrehumanas. Vê-los a subir montanhas atrás de montanhas é como  ver um filme de super-heróis.  
 

FORA DA ÁREA – VERÃO DO NOSSO CONTENTAMENTO 

Dois anos depois de um isolamento que suspendeu as nossas vidas, a sensação é a de que este é o verão da vingança, o verão do nosso contentamento. Queremos ir a todo o lado e com toda a gente. Queremos ser felizes e gastar o que for preciso para esquecer os tempos de clausura. Por isso, ouvimos com distanciamento o alerta que já nos lançam. O aumento das taxas de juro, mais dinheiro em cima das prestações da casa, do carro, da televisão. Primeiro foi a crise financeira, depois a pandemia, agora a guerra. Não nos tiram o verão.