O respeito vence sempre
O tal limite entre o mero desabafo e outra coisa qualquer tem que estar muito bem definido
AAPAF lançou ontem uma campanha intitulada O respeito vence sempre. Trata-se de mais uma grande iniciativa de uma classe fundada há décadas e que é agora liderada por uma equipa honesta, humilde e comprometida. Uma equipa que soube ultrapassar a relutância inicial de muitos dos seus associados, recorrendo à mais eficaz das armas: discrição, dedicação e trabalho. Muito trabalho.
Tal como acontece com outras associações de classe, a APAF geralmente só é notícia quando reage às peripécias dos jogos que envolvem os grandes. Como se essa visão redutora definisse quem são e o que fazem. A verdade, obviamente, é outra. Longe dos palcos mediáticos e dos olhares mais críticos, a associação tem desenvolvido ações diárias em prol da arbitragem e, sobretudo, dos(as) árbitros mais jovens. Aqueles cerca de quatro mil e tal que estudam, treinam e dirigem jogos de futebol/futsal em todo o país, sob diferentes condições.
Quanto à iniciativa que ontem lançou, levanta questão antiga mas sempre atual.
Se repararem, o futebol tem todos os ingredientes para ser jogo de risco em matéria de valores essenciais na vida: muita gente envolvida, objetivos e egos em colisão, ambições pessoais distintas e dinheiro em jogo. Além disso é imprevisível, falível e tem N variáveis que permitem que cada um faça a leitura que o coração pede. Enfim, um cocktail explosivo, a que acresce mediatismo excessivo, dramatização de circunstâncias, memória seletiva e dependência financeira.
Não admira que uma indústria assim, poderosa mas tão vulnerável, admita excessos pontuais que raramente definem o quilate moral e ético de quem os comete. Mas o tal limite entre o mero desabafo e outra coisa qualquer tem que estar muito bem definido. Mais do que está.
Há coisas que não se podem dizer nem fazer e é aí, precisamente aí, que entra a palavra respeito: o respeito por si mesmo e pela família; o respeito pela profissão e pelos companheiros; o respeito pelo jogo, pelo adversário e pelo árbitro; o respeito pelo resultado, pelas circunstâncias e por toda a gente que rodeia. O respeito mesmo quando se impõe apontar o dedo, censurar ou criticar.
Vem aí período bom para (nova) reflexão a este nível. É importante que o usem sensatamente. Como já se viu esta época, para ganhar basta ser melhor em campo. Dentro de campo.