Opinião O que fez Varandas sair derrotado?
Foi chumbado o modelo que ia acabar com o princípio ‘orwelliano’ de que uns (da Grande Lisboa) são mais iguais que os outros...
Os sócios do Sporting decidiram, sem surpresa, assinale-se, chumbar a proposta da Direção do clube que pretendia institucionalizar um tipo de voto eletrónico que podia ser exercido sem que o votante estivesse fisicamente na Assembleia Geral (AG).
E digo sem surpresa porque se está, por um lado, perante uma questão de exercício de poder - quem pode estar nas AG não vai querer tornar-se igual a quem não tem essa possibilidade, diluindo, assim, a sua própria relevância eleitoral - e, por outro, porque existe ainda alguma desconfiança quanto à fiabilidade do voto eletrónico, pairando no ar (como recentemente se viu no Brasil e nos Estados Unidos) fantasmas de desconfiança, que saem à rua quando se perdem eleições.
Assim, uma boa ideia, que ia acabar com o princípio orwelliano de que todos são iguais, mas uns (os da grande Lisboa) são mais iguais que os outros, fica por terra, adiada para as Calendas.
Respeitando os princípios estatutários dos leões e o tipo de democracia que lhes subjaz, esta pode não ser uma causa completamente perdida.
Tal como João Benedito, voz respeitada no clube de Alvalade, alvitrou nas páginas deste jornal, será possível, chumbado o modelo que me parecia mais justo e inclusivo, encontrar formas de atenuar a injustiça presente no facto de um clube do tamanho do mundo ficar sujeito apenas às decisões de quem pode participar nas AG. Abrir secções de voto, em urna (para o caso de haver impugnação) e ao mesmo tempo eletrónico, nos núcleos do Sporting seria uma forma honesta e quiçá mais consensual de dar modernidade a um modelo de decisão que foi pensado para uma realidade que já não existe. Ou então criar assembleias delegadas (com cerca de dois mil representantes), como têm, por exemplo, os maiores clubes que se mantêm dos sócios, o Real Madrid e o Barcelona.
De qualquer forma, gostava que me explicassem qual o mal de - uma vez garantida a segurança do processo - a participação poder ser feita no telemóvel, no tablet ou no computador? Pode haver falta de esclarecimento? Essa é uma falsa questão, o debate que agora é feito é de faz de conta, promovido com a votação a decorrer. O que está em causa aqui é apenas uma relação de poder. E quem o tem, dele não quer abrir mão…