O que é que o Benfica não tem
Quando chegou à Luz, há pouco mais de um ano, Roger Schmidt surpreendeu pela velocidade com que deu com a tecla da equipa, encontrando os executantes ideais para o tipo de futebol que queria praticar. Ao Benfica foi estendido um tapete vermelho, que pisou de sucesso em sucesso, até garantir um avanço confortável no Campeonato e a vitória num grupo Champions onde também estavam PSG e Juventus.
E o que é que os encarnados faziam de especial, que explicasse a lua de mel que a equipa passou a viver com os adeptos? A defender, compromisso total, a começar no ponta-de-lança e a acabar no guarda-redes; a atacar, uma verticalidade trabalhada desde o primeiro dia, de olhos postos na baliza contrária.
Ao longo da época houve apenas uma fase periclitante, que coincidiu com quatro jogos malditos para Schmidt – os dois com o Inter, a derrota caseira com o FC Porto e tropeção em Chaves – mas a equipa foi a tempo de recompor-se e celebrar o 38.º título nacional da sua história no Marquês.
Na temporada em curso, com reforços sonantes como Ángel Di María e Kokçu, tudo parecia indicar que a equipa evoluiria em qualidade e teria mais e melhores soluções de banco para mexer com o jogo. Porém, aquilo que se tem visto no Benfica, passa por uma crise de identidade, como se tudo o que foi aprendido em 2022/23 tenha sido esquecido, ao mesmo tempo que os novos ensinamentos ainda não frutificaram.
A isto há também que acrescentar que a influência que Gonçalo Ramos tinha do ponto de vista defensivo (e não só, mas fiquemo-nos por aqui) e Alex Grimaldo, na ótica atacante, não foi colmatada, começando muitas das brechas do atual Benfica precisamente por aí.
Porque ninguém duvidará de que a equipa da época passada era bem mais fiável do que o conjunto deste ano.
Ao Benfica desta época falta equilíbrio defesa/ataque.
Indo direito ao assunto, se Ángel Di María, pela genialidade que aporta, é indiscutível na equipa, então haverá que contar com uma participação defensiva de menor intensidade, que deve ser compensada por uma nova dinâmica. E se Musa ou Arthur Cabral não são capazes de entregar, também defensivamente, aquilo que Gonçalo Ramos entregava, logo será necessário repensar a forma de jogar.
Identificados estes handicaps, valerá a pena falar do duplo pivot, nesta altura formado por João Neves e Kokçu. Por mais que cada um deles jogue bem (embora o turco ainda não desenvolva o que seria de esperar), os dois juntos não dão nem equilíbrio à equipa, nem proteção à defesa, ficando a anos-luz do que faziam, há precisamente um ano, Florentino e Enzo Fernández.
Este será mais um ponto a merecer reflexão cuidada de Roger Schmidt, porque se mudaram os intérpretes, e os novos solistas apresentam outras características, então o modelo de jogo também deverá ser repensado.
Embora as hipóteses europeias do Benfica tenham ficado comprometidas pelas duas derrotas iniciais (ainda há 12 pontos em disputa), no Campeonato, objetivo número um, especialmente nesta temporada que apura o campeão para a Liga dos 100 milhões, os encarnados estão na corrida, e já derrotaram um rival direto. Mas se não encontrarem o devido e necessário equilíbrio como equipa não sobreviverão a uma prova de regularidade, onde todos os jogos, contra grandes e pequenos, valem todos três pontos.
DESTAQUES
«Na época passada, o equilíbrio era o principal trunfo do Benfica. Na temporada em curso é o seu pior defeito»
«O Campeonato, que este ano apura o campeão para a Liga dos 100 milhões, ganha-se com regularidade, já que todos os jogos, contra grandes ou pequenos, valem os mesmos três pontos»