O presidente certo

OPINIÃO14.02.202305:30

Rui Costa fala sempre para milhares de sócios e milhões de adeptos espalhados pelo mundo e é essa colossal massa anónima que é a alma do Benfica

DEPOIS de alguns dias agitados e de muito falatório, creio ser do interesse do universo benfiquista concentrar-se no que é importante e não contribuir para a propagação de desavenças  menores que apenas servem para desviar  as atenções do essencial.

Há uma semana escrevi neste espaço que a visita do Benfica à capital do Minho devia ser encarada  com cautelas redobradas devido a  vários fatores, de que destaquei, por exemplo, o histórico de confrontos  entre os dois emblemas nas últimas quatro épocas, favorável  aos bracarenses, com acento tónico na estranha derrota sofrida pela águia (0-3), a 30 de dezembro do ano passado, em jogo referente à 14.ª jornada da Liga.

Desta vez, para a Taça de Portugal, pode dizer-se que o árbitro errou ao não assinalar um penálti sobre Gonçalo Guedes e que, em princípio,  colocaria o Benfica a ganhar por dois golos de vantagem, mas depois houve a ação disparatada de Bah, a respetiva expulsão e as precipitações que se lhe seguiram em que, sejamos claros, ninguém ficou bem na fotografia, começando no treinador e acabando no presidente:

Roger Schmidt porque não reagiu com a lucidez que se impunha,  mexendo depressa de mais na equipa em vez de  proceder a uma rearrumação para queimar os minutos que separavam a situação imprevista do intervalo, ver como a equipa respondia e amadurecer soluções em vez de reagir a quente e do meu ponto de vista mal, em vários níveis, mas é a opinião de quem nada  tem a ver com o assunto;

Rui Costa porque se excedeu. Não fica bem a um  presidente do Benfica, na linha dos  chamados grandes presidentes e tive oportunidade de conviver com alguns durante a minha vida profissional, falar nos corredores ou nas garagens, muito menos ir à cabina do árbitro para discutir com ele na presença de polícias,  bombeiros, delegados e do magote  que ali se juntou,  sujeitar-se a ser filmado às escondidas e surgir como protagonista de uma evitável cena profusamente difundida nos canais esterqueiros das redes sociais.

NÃO é minha intenção dar lições de boas práticas, não me atrevo a tal, mas entendo que o  presidente de um clube com o prestígio do Benfica não deve preocupar-se nem com movimentos internos de duvidosas intenções,  e  que não demoraram a dar sinal de vida, nem querer agradar aos frequentadores regulares das assembleias gerais  ou aos convidados habituais  da tribuna presidencial. 

Rui Costa fala sempre para milhares de associados e milhões de adeptos espalhados por todos os continentes e é essa colossal massa anónima que representa a alma do maior clube português, que é também a marca mais valiosa do País no mundo do futebol e que, amanhã, só não esgota  por inteiro a lotação do estádio do Club Brugge porque os dirigentes belgas agiram a tempo de conter a invasão benfiquista, sem  evitar, porém, que Roger Schmidt e os seus jogadores se vão sentir como em casa.

O atual líder foi escolhido em outubro de 2021, com 84,48 por cento de votos, na assembleia eleitoral mais participada na história do Benfica (mais 40 mil votantes) e está, pode dizer-se,   no primeiro ano a sério do seu mandato, em que escolheu o treinador e preparou a época de raiz. Sei que no seu discurso de vitória prometeu ganhar sempre em todas as competições. Sim, é normal, mas calma, ainda agora está a começar,  não precisando  justificar-se sobre as suas ações nem expor-se da forma como o fez.  Os adeptos da base, que são a principal força do emblema da águia, confiam nele, respeitam-no e reconhecem que é árdua a empreitada e longo o caminho porque  desde o verão de 2019 que o Benfica não regista no seu rico currículo uma única conquista.

UMA boa equipa de futebol, mesmo nos clubes endinheirados, não se faz reunindo onze bons jogadores. Demora tempo, é preciso fazer  correções, dar passos atrás para reparar erros de avaliação e quando se pensa que tudo está encaminhado os mercados encarregam-se de dizer o contrário.  No entanto,  em tão pouco tempo, Rui Costa arrumou a casa, formou um equipa para ganhar internamente, mas ainda não tem um plantel  para competir ao mais alto nível, tal como o próprio Roger Schmidt admitiu. 

Por outro lado, o Benfica já foi perturbado pela avareza dos países mais ricos, mas a vida continua, como também referiu o treinador benfiquista após a saída de Enzo Fernández:  a equipa não ficou mais fraca, apenas ficou diferente, razão pela qual não atribuo à eliminação da Taça de Portugal a carga dramática que lhe quiseram colar porque, é a minha opinião, as coisas vão-se fazendo e neste ano 1 da presidência de Rui Costa há duas prioridades a concretizar:

a primeira, ser campeão nacional, conquistar o título 38, e esse objetivo  está perfeitamente ao alcance, como atestam os cinco pontos de vantagem sobre o segundo classificado;

a segunda, consolidar a participação na Liga dos Campeões e tentar reforçá-la, estabelecendo os quartos de final como patamar de referência de modo a recuperar a dimensão europeia que foi perdendo durante este século.

Dois alvos que Rui Costa está em condições de prometer não falhar. Como ponto de partida, não está nada mal. A família benfiquista sente que encontrou o presidente certo.