O novo normal em Alvalade

OPINIÃO05.10.202003:15

Varandas é terrível a comunicar. Tão terrível que, por vezes, os silêncios são piores do que declarações que ferem de morte o bom senso. Alguém tinha de dizer aos adeptos, por muito que custe a todos, que este Sporting, a atravessar reconstrução profunda, está muito longe do patamar dos rivais. Estava antes, ainda Bruno Fernandes carregava a equipa às costas, e mais agora quando lá não moram outras referências como Mathieu, Acuña e Battaglia.
Há um justificado consenso que este tem sido o mercado mais assertivo e satisfatório dos últimos anos, mas não chega. Perante a insatisfação no pós-LASK, foi Amorim quem reparou no que era água em azeite e disse o que muitos adeptos precisavam ouvir. Não basta querer - esqueçam de vez que os jogos se ganham de dentes cerrados e por se correr e lutar mais que os outros -, o Sporting precisa de um ano 0, em que tem de evitar cair no abismo, consolidar alguns nomes para transferir e, muito importante, terminar em lugar de Liga dos Campeões, se possível com acesso direto. Se não o conseguir e o SC Braga assumir posição no pódio, arrisca-se a ver aumentar distâncias para o novo rival e hipotecar igualmente os próximos anos.
Na base do trabalho de Hércules que espera Amorim e o jovem grupo está um clube dividido. A bolha criada pela Covid-19 tem protegido os miúdos, mas não há redoma que resista à toxicidade das redes sociais e a toda a crítica. O momento é dramático e é nestas alturas que os adeptos têm de unir-se e encarar a realidade: ser-se eliminado pelo 4.º classificado de uma interessante liga austríaca, uma verdadeira equipa sem grandes nomes que já tinha dado mostras da sua qualidade, é o novo normal em Alvalade. Não é um escândalo, mas a dura realidade. O Sporting precisa de levantar-se, mas primeiro os adeptos têm de abandonar o estado de negação.