O novo Gyokeres
Gyokeres leva 31 golos em 2024 (IMAGO)

BOLA DO DIA O novo Gyokeres

OPINIÃO30.08.202409:30

Impacto do goleador do Sporting dita tendência no mercado de transferência que pode vir a cair num certo exagero

Conheço crianças que nem ligavam muito a futebol e agora andam por aí a entrelaçar os dedos à frente da cara enquanto marcam golos na praia. E alguns nem do Sporting são – ou pelo menos não eram. É essa a dimensão que Viktor Gyokeres atingiu de leão ao peito, e que faz, de resto, com que jogadores de todo o mundo imitem o icónico festejo do internacional sueco. Tal como fez Telma Encarnação, depois de iniciar a reviravolta da equipa feminina do Sporting na final da Supertaça, conquistada frente ao Benfica em jogo estupidamente coincidente com o da equipa masculina com o Farense.

Com esse hat-trick no Algarve, Gyokeres chegou aos 49 golos - e 17 assistências – em 54 jogos pelo Sporting. Deveras impressionante, o impacto do sueco não se vê apenas na forma como influenciou o jogar do Sporting, traçou também uma tendência na política de recrutamento do futebol português.

Existe, desde logo, uma atenção crescente para o mercado escandinavo. Basta olhar para o próprio Sporting, que perante as dificuldades para contratar o complemento que queria para GyokeresIoannidis -, virou-se para dois dinamarqueses. O perfil não é propriamente o mesmo – Conrad Harder (Nordsjaelland) tem mais a ver com Gyokeres do que Jonas Wind (Wolfsburgo) – mas a shortlist confirma que o mercado também é de modas.

Em processo de renovação da frente de ataque, perante a saída de Taremi, Evanilson e Toni Martínez, o FC Porto de André Villas-Boas viu potencial em Deniz Gul, jovem avançado sueco comprado ao Hammarby, que ainda está a trabalhar a veia goleadora mas já encaixa na ideia de avançado forte fisicamente, que concilia presença na área com potência a atacar os espaços (neste caso com tendência para a direita). E mesmo Samu Omorodion, embora recrutado no país vizinho, e não na Escandinávia, confirma igualmente a vontade de ter capacidade de explosão na frente.

A realidade do Benfica é diferente, ainda que Pavlidis, alvo antigo, tenha um raio de ação superior a Arthur Cabral, a grande aposta de 2023/24. Mas vale a pena lembrar, ainda assim, que as águias têm uma ligação histórica a este mercado, e até já tinham recrutado Tengstedt – e Schjelderup – antes de Gyokeres aterrar em Lisboa.

Certo é que a contratação do sueco, que tantos elogios tem rendido ao departamento de scouting do Sporting – desde logo por parte de Rúben Amorim -, criou uma espécie de jurisprudência no mercado de transferências. Um fenómeno que não é exclusivo de Portugal, contudo, se lembrarmos que um tal de Erling Haaland deu outro corpo ao poderoso Manchester City de Pep Guardiola.

A tendência é natural, mas é preciso cuidado com as imitações.