O mundo mágico de Schmidt
Roger Schmidt, treinador do Benfica (Foto: IMAGO / Maciej Rogowski)

OPINIÃO O mundo mágico de Schmidt

OPINIÃO16.05.202412:29

«Schmidt demonstrou-se pouco humilde e até desrespeitoso com os adeptos do Benfica». 'Desportiva_MENTE', por Liliana Pitacho

Roger Schmidt aterrou em Lisboa em maio de 2022, após o SL Benfica ter concluído duas temporadas em terceiro lugar. Em poucos meses, o treinador restaurou o orgulho e a competitividade benfiquista. A época 2022/23 correu de feição e o contrato do técnico foi renovado antes mesmo de se tornar campeão. Tudo indicava que Schmidt ficaria de pedra e cal no SLB, enquanto a relação com os adeptos ia de vento em popa.

No entanto, a história cor-de-rosa estava prestes a acabar e, desde o início da época 23/24, as polémicas começaram a rebentar e a cravar pedras na caminhada do treinador e do clube rumo ao bicampeonato. Destacam-se as polémicas com a comunicação social, as relações controversas com atletas, como, por exemplo, o caso com Odysseas, o descontentamento público de Di María, por exemplo na substituição no Bessa, a insatisfação de Morato e ainda a entrevista polémica de Kokçu. E, acima de tudo, as exibições menos conseguidas e os resultados menos positivos da equipa que levaram ao desagrado total dos seus adeptos. Apesar disso, Schmidt, ao longo da maior parte da época, resolveu ignorar, descredibilizar e até tratar de forma arrogante alguns destes casos e sobretudo a opinião manifestada pelos adeptos, recusando muitas vezes ver o que todos víamos.

No mundo mágico de Schmidt, ele continuou sempre a ter o apoio dos «verdadeiros» benfiquistas e, como tal, a sua continuidade no clube era inquestionável. Nessa realidade alterada, chegou a afirmar que não ouviu nem viu a contestação dos adeptos, negou que a mesma fosse dirigida a si e, por fim, assumiu que quem assobiava não era benfiquista e que esses adeptos «poderiam ficar em casa». Este tipo de discurso não só aumenta a quebra de confiança dos adeptos em si como corre o risco de contribuir para uma clivagem e confronto entre os adeptos.

É verdade que no futebol tudo muda à velocidade dos resultados e como tal, se Schmidt continuar no SL Benfica, nada disto significa que a má relação com adeptos ou a contestação vá continuar. Contudo, a teoria da confiança social diz-nos que existiu uma rutura, não só pelos resultados, mas sobretudo pela postura e discurso de Schmidt perante os adeptos, demonstrando-se pouco humilde e até desrespeitoso com os mesmos. Se é verdade que resultados positivos no início de 24/25 podem atenuar os contornos negativos desta relação, não menos verdade é que a tolerância para qualquer tipo de comportamento, exibição ou resultado mais negativo é inexistente, podendo esta estender-se também a Rui Costa como elemento central da tomada de decisão.