O Mundial e as avaliações

OPINIÃO12.06.201801:44

O Mundial está à porta. A estreia do Videoárbitro, agora em registo oficial, tem tudo para dar certo. E, na verdade, quem gosta de futebol e é adepto da verdade desportiva, tem que torcer para que assim seja.


Mais de trinta câmaras por jogo serão servidas, de bandeja, a uma equipa de quatro árbitros que, em cada partida, desempenharão atentamente essas funções. Todos a olhar para tudo, para que nada escape.

Mas importa sublinhar (nunca é demais fazê-lo) que essa vasta e bem preparada equipa continuará, ainda assim, amarrada ao rigor de um protocolo que só permitirá a sua intervenção em situações-limite (as que todos já conhecemos) e apenas quando o erro, nessas, for evidente e claro.

Expetativas sim mas controladas. Erros no assinalar de alguns pontapés-livre junto às áreas, simulações mal avaliadas, amarelos (ou segundos amarelos) mal exibidos e pontapés de canto trocados, são, por exemplo, cenários que nem a tecnologia - ou o homem por detrás dela - vendo, podem evitar. Nesta fase o objetivo não passa por tornar as arbitragens perfeitas. Passa por evitar erros grosseiros, com impacto óbvio e direto no jogo. A tendência futura, espera-se, deverá passar por tentar reduzir o maior número de falhas, sem ferir a dinâmica/emoção do jogo nem a autoridade do árbitro. Desafiante mas exequível.

Por cá, já são conhecidas as avaliações dos árbitros. Sabe-se que Artur Soares Dias foi eleito o melhor do ano e que outros três juízes, competentes mas com época menos conseguida, não irão manter-se na primeira categoria.


Tomar conhecimento da classificação é um momento sensível. As avaliações definem carreiras e vidas de pessoas. Pessoas que, durante anos a fio, dedicaram-se a uma atividade desgastante e exigente. Para muitos, a ideia de uma fim de semana em família é algo raro, que apenas acontece nas férias.


A entrega à arbitragem impõe restrições que, não raras vezes, afeta a estrutura pessoal e até financeira de muitos dos seus agentes. É, por isso, importante que esse seja um momento de transparência total e objetividade máxima.


Este ano e por decisão unânime dos árbitros e do Conselho de Arbitragem - devidamente assinada antes do início da época - os moldes das avaliações foram diferentes.


A somar às exibições em campo (cuja ponderação vale mais do que qualquer outra), contaram também as notas dos testes físicos, escritos e de inglês, bem como a assiduidade a cursos, polos, treinos e afins.


No final de muitos jogos, o mais consistente foi o melhor. Os menos regulares desceram. É assim com os árbitros, tal como é com as equipas que dirigem.


Sem prejuízo do direito à contestação - legítimo mas para exercer de forma elevada, de modo próprio, no lugar certo -aceitar esses resultados com fair-play é sinal de inteligência emocional e de respeito. Respeito pelas regras, pelos colegas e acima de tudo, pelo compromisso livremente assinado meses antes.


Dói ser despromovido, obviamente. Mas essa dor deve ser calculada e quando tudo começa, não lamentada quando as coisas acabam por não correr bem, no fim.


Descer de categoria pode ser visto como conspiração do universo (que, curiosamente, tende a ser justo quando beneficia ou promove) ou como um desafio para superar. Depende da atitude. Da atitude de quem prefere focar-se na derrota momentânea ou preparar, desde logo, a reviravolta seguinte.


Eu escolheria a segunda.