O melhor Aursnes é este
O norueguês teve de nascer de novo ao chegar ao Benfica
VOU escrever sobre Aursnes quando vejo Morita em campo e não posso deixar de parar para admirar o que o japonês trouxe ao Sporting. Um futebol de uma simplicidade e leveza tais que nunca deveria ter sido traído por aquele autogolo com o Arsenal. O japonês faz quase sempre tudo bem e quando não faz deve ser por distração dos deuses. Algum deve ter pestanejado para que acertasse em Fábio Vieira e falhasse o embate no Emirates. Entretanto, Edwards mostra mais uma vez por que deve jogar sempre e ainda bem que Chermiti se atrapalha, ou Nuno Santos não teria tirado aquela rabona espantosa da cartola, como Lamela fez há dois anos para levar o Puskás.
Vim aqui escrever-vos sobre Aursnes e sobretudo sobre o dos Barreiros. É o maior exemplo da razão por que não deve jogar no duplo-pivot, mas sim nos meios-espaços e entre-linhas, fazendo o resto da equipa girar à volta. Foi um tratado de como se deve participar no ataque posicional, sempre a oferecer apoio e a jogar no apoio, em progressão e em direção ao espaço. O norueguês nasceu para estar ali, ligar as pontas, mesmo que ao chegar ao Benfica tenha tido de nascer de novo, metros à frente de onde estava habituado a jogar.
Não sei quem será o campeão e, seja quem for, será sempre justo. No entanto, se olharmos para lá dos resultados, Roger Schmidt, ele próprio reinventado depois da travessia no deserto em Leverkusen, Pequim e Eindhoven - mesmo com as taças conquistadas -, já é um vencedor. Este é, provavelmente, o Benfica mais bem trabalhado que vi, capaz de pressionar e controlar a profundidade, de sair em transição ofensiva e de fazer pausas para se organizar e atacar equilibrado. Valerá de pouco se não for campeão, dizem-me. É certo, porém o futebol também nos ensinou que há mais vencedores do que aqueles que ganham.