O futebol é para meninas!

FC Porto juntou-se finalmente a Benfica, Sporting e muitos outros nas equipas femininas. Estádio do Dragão com mais de 30 mil adeptos é a prova de que não é possível andar para trás

Quando Villas-Boas prometeu a equipa sénior de futebol feminino do FC Porto, não sei se imaginaria que, uns meses depois, o Estádio do Dragão iria estar assim. Houve recorde de assistência, muitos golos e pormenores que entusiasmaram, mas o mais importante estava feito: a partir de agora, as meninas e as mulheres portistas podem imaginar-se com aquela camisola.

O futebol feminino não é o futuro, é o presente. Mais de 30 mil adeptos do FC Porto, como muitos outros pelo país fora, já o provaram. Porque o futebol feminino tem... futebol, protagonistas, um ambiente muito positivo e conquista simpatizantes que se afastam dos estádios quando há violência, intimidação, racismo e homofobia.

Depois do dia histórico no Dragão, espreitei as redes sociais para perceber o impacto nos mais resistentes (é um eufemismo, sim). O comentário mais comum é que o futebol feminino não presta. Avançámos um pouco em relação ao «Estavam melhor na cozinha»... Confesso que, da parte de alguém que já viu demasiadas horas de futebol masculino, em horários desadequados, estádios tristonhos e com muito pouco espetáculo (também é um eufemismo), tem alguma piada que a crítica seja um género de «Sou demasiado exigente como adepto de futebol para ver isto».

Ainda assim, vou tentar ajudar. O futebol feminino não tem as mesmas condições do que o masculino para «prestar». E começa muito antes da formação ou dos campeonatos profissionais, dos salários e das licenças de maternidade. Pense bem, se quando fizer a lista de prendas de Natal não vai escrever bonecas para as meninas e bolas para os meninos. Pense bem, se quando escolher as atividades das crianças não vai estimular ballet para a menina e futebol para o menino. Pense bem, de cada vez que o supermercado, a loja de roupa ou a escola dividir coisas para os meninos e para as meninas, se não estamos todos a puxar pelos nossos rapazes para isto e a deixá-las entregues à sorte.

Quando e se algum dia as condições forem as mesmas desde sempre, aí falaremos. Até lá, o exemplo tardio do FC Porto serve também para aprender com erros do passado: não basta apresentar a equipa no Dragão. É preciso garantir que a ligação entre adeptos e futebol feminino continua próxima, seja através da comunicação, ou pela garantia de que elas não serão esquecidas e afastadas para um campo qualquer. Nesta altura não é possível andar para trás, mas só assim se andará para a frente mais rapidamente.