O FC Porto merecia bem mais
(IMAGO / ZUMA Wire)

O FC Porto merecia bem mais

OPINIÃO24.03.202410:00

Campanha eleitoral coexiste com a ideia de que o pluralismo ofende o poder vigente

A campanha para as eleições do FC Porto está ao rubro. Uma telenovela, tais os episódios diários. No entanto, como qualquer sufrágio nos tempos em que vivemos, a discussão não é de ideias. E depois de umas legislativas em que as inverdades surgiram de todo o lado e tiveram de ser escrutinadas por polígrafos, em que foi a avó quem comeu lobo e capuchinho, roubando inesperadamente espaço mediático a outros assuntos mais merecedores, e a anormalidade no discurso veio quase sempre do mesmo, deparamo-nos agora com uma situação em que até o pluralismo habitual na democracia parece ofender o poder vigente. É futebol e a norma é que costuma refletir o que se passa no resto da sociedade.

Quem vota são os associados do FC Porto e se já há muito era mais ou menos claro os caminhos que cada um dos candidatos queria percorrer, hoje não resta qualquer dúvida. Quem se dirigir ao Estádio do Dragão a 27 de abril para deixar o seu voto não estará apenas a alinhar pela continuidade – esteja esta aliada a uma divida de gratidão ou seja a simples convicção de que continua a ser a melhor opção, por tudo o conseguido no passado –, ou pela mudança, como também a escolher um modo de estar e de liderar, e até uma forma diferente de olhar para o mundo exterior.

Certo é que grandeza do clube merecia uma maior nobreza de discurso, a capacidade de dialogar cara a cara com civismo e de até, quem sabe, se chegar a alguns consensos. Reconheço que é ideia um pouco romântica e até exigente em demasia para o clube portuense, quando o mesmo não passou, pelo menos que me lembre, nos rivais, no entanto se houve instituição que teve sempre muito clara a identidade e a necessidade de uma união coesa essa sempre foi o FC Porto.  O problema é que tal agora parece não chegar sobretudo no que diz respeito aos resultados desportivos e financeiros, e ao não satisfazer todos cria uma divisão que expõe quem até aqui se julgou e foi intocável na liderança.

Acredito que Jorge Nuno Pinto da Costa receie André Villas-Boas, embora nunca o vá reconhecer, e isso explica-se até pela forma como foi ao encontro das ideias do rival na questão da academia, da reestruturação financeira – que agora até se faz em três anos –, da aposta no futebol feminino e no futsal, entre outras, e tentou jogar com o lado emocional na imagem do pai traído e do filho ingrato. O antigo técnico avançou com coragem, recolheu apoios que muitos julgavam improváveis e promete ser um adversário bem mais perigoso do que aqueles que antes se perfilaram contra o atual presidente.

Não sei se o FC Porto deve ou não mudar, nem sinceramente me diz respeito. A decisão é dos sócios e é solene. No entanto, uma mudança boa já teria sido aceitar que um adversário não é um inimigo e que é através da discussão de ideias e de projetos, e não com o atirar de palavras azedas e acusações, que se pode evoluir de uma forma positiva.