O extorsionista
Esconde-se no argumento de que não tinha consciência de executar tentativa de extorsão
P OR mais que a sua entourage de opinion makers tente contaminar a opinião pública, não há credibilidade em determinadas considerações do próprio Rui Pinto no seu julgamento por 90 crimes e que engloba o célebre Football Leaks. Desde logo, a expressão leaks acarreta um problema conceptual de origem e que devia ter sido corrigido. Ou seja, tudo é leaks (fugas de informação). Independentemente da informação ter sido adquirida por meios ilícitos ou lícitos. E assim se tenta confundir os leitores para obter leverage através do branqueamento distorcido da imagem dos (também) prevaricadores e criminosos na história. Por esta altura, passa-se a imagem que esta coluna emitiu um cheque em branco às atrocidades que o Football Leaks revelou. Nada disso. Simplesmente, insiste-se com a necessidade de se assumir que, em cada situação, existiram motivos e formas de agir diferentes que podem condenar o próprio e eventual fim útil que acarretaria a publicação da informação sacada para a sociedade em geral. Vem isto a propósito da admissão de Rui Pinto em tribunal do seu ato «infantil», podendo «ter cometido o crime de tentativa de extorsão em relação à Doyen» e que faltou-lhe «consciência» na sua conduta. O jovem de cabelo porcupine assume que agiu com naturalidade mas esconde-se atrás do argumento de que não tinha consciência que executou uma tentativa de extorsão e reconhece, hoje, que a sua atuação pode ser enquadrada nesse tipo de crime na forma tentada. Vale tudo para tentar evitar a pena a que devem ser sujeitos. Até desonestidade intelectual. Tanto talento nas mãos para nenhuma inteligência da sua própria cabeça quando optou, conscientemente, por tentar extorquir ao invés de denunciar às entidades policiais o que de grave descobriu. Pinto é daqueles arguidos em que o seu silêncio vale ouro sobretudo quando decidiu roubar (pelos mesmos meios que roubou a informação relacionada com o futebol) uma quantia considerável de um banco para o seu próprio bolso e cuja condenação só não se reflete no seu cadastro por ter chegado a acordo com o ofendido. Pinto não é Snowden.