O 'eu' acima do 'nós'
Pepe e Cristiano Ronaldo após a eliminação de Portugal (foto: IMAGO)

O 'eu' acima do 'nós'

OPINIÃO07.07.202411:00

Não se procuram bodes expiatórios, mas compare-se o desempenho de CR7 e Pepe. Até que ponto o ego prejudica o coletivo? - 'Sistema tácito', o espaço de opinião do jornalista Paulo Pinto

Ponto prévio: considero Cristiano Ronaldo o melhor jogador português de todos os tempos, carregou às costas a Seleção Nacional durante anos, foi sempre um grande embaixador do nosso país além-fronteiras, um exemplo paras as gerações vindouras e este artigo, ao contrário do que se possa pensar, não é para fazer do internacional português um bode expiatório pela eliminação prematura de Portugal nos quartos de final do Europeu.

É meramente um texto baseado em factos e estatísticas indesmentíveis. Aos 39 anos, o astro nacional partia com legítimas aspirações de ajudar Portugal a chegar ao seu segundo título na competição, ele que ficou com o recorde de presenças em fase finais do Campeonato da Europa e tenta também ficar na história a marcar nos seis torneios, o que não veio a suceder.

Todas as opiniões são legítimas e válidas, mas, agora a frio, alguém fica convencido, sinceramente, de que o capitão da Seleção Nacional merecia o estatuto de titular na prova? Quantos golos fez, de bola corrida ou parada? Qual a preponderância que teve nos três jogos da fase de grupos e nos dois da fase a eliminar (Eslovénia e França)? É normal ver-se um jogador, por mais estatuto que tenha, querer a toda a força marcar livres diretos na zona frontal, longe da área e junto à linha lateral? Não é prática comum um capitão dar a cara na hora das derrotas, como contra a Geórgia e agora a França? Declarações? Nem vê-las...

É aceitável que um líder de um grupo, após uma vitória épica nos penáltis sobre a Eslovénia, se dirija ao herói Diogo Costa na flash-interview como o nosso guarda-redes, sem mencionar o seu nome? Se é, o meu conceito de equipa, em que o ‘nós’ tem de estar à frente do ‘eu’, está errado. Não foi por culpa de Cristiano Ronaldo que Portugal saiu mais cedo do Campeonato da Europa, mas a questão do estatuto foi por demais evidente, com Roberto Martínez, sempre bem-falante e simpático, a ser beneplácito com o poder absoluto que Cristiano Ronaldo tem no coletivo. Cabe na cabeça de alguém que no jogo com a Geórgia CR7 fosse titular, numa tentativa desesperada de marcar um golo e quebrar mais um recorde... pessoal, quando se impunha um descanso para a batalha seguinte com a Eslovénia?

Desconheço em absoluto se CR7 vao continuar a defender as cores da Seleção Nacional no Campeonato do Mundo do Estados Unidos, Canadá e no México se Portugal for apurado, mas na altura já terá 41 anos, os mesmos de Pepe, este sim, um exemplo de superação em prol do coletivo e sem olhar para o seu umbigo. Uma diferença abissal e também tem estatuto...