O equívoco!

OPINIÃO15.03.201903:00

TEVE o Benfica de sofrer, ontem, o que certamente não queria para poder manter acesa a chama europeia. E sofreu, sobretudo, por culpa própria. Deu , pelo menos, 45 minutos de avanço ao adversário e ainda se viu obrigado a jogar um prolongamento sempre tão inconveniente quando se sabe que daqui a três dias vai ter de enfrentar mais uma das finais do campeonato, com a deslocação que se prevê tão complicada ao campo da maior revelação da Liga 2018/19, o Moreirense.

Podia o Benfica ter evitado sofrer tanto como sofreu, ontem, diante do Dínamo de Zagreb? Podia. E devia. Sobretudo se o treinador benfiquista, Bruno Lage, não tivesse literalmente inventado um onze que dificilmente poderia esperar-se capaz de resolver o que o Benfica precisava de que fosse resolvido. E que foi um equívoco!

O Benfica tinha obrigação de eliminar o Dínamo de Zagreb. Mas fez um jogo tão irregular e tão ineficaz, mostrou tanta falta de confiança e tanta inadaptação às opções iniciais de Bruno Lage, que só podia mesmo sofrer o que sofreu e esperar, como sucedeu, que fosse o talento individual a decidir o que a equipa não foi capaz.

No fundo, além do insucesso da escolha inicial do seu treinador, talvez o Benfica tenha pago igualmente ontem ainda parte da fatura emocional que lhe foi cobrada pelo que lhe sucedeu, segunda-feira, na Luz, com aquele muito indigesto e surpreendente empate com o Belenenses.

PODE o Benfica ter comprometido o campeonato com esse empate na Luz frente ao Belenenses? Perdeu o Benfica apenas dois pontos para o rival FC Porto ou perdeu bem mais do que isso? É agora, quando a coisa não corre tão bem como correu durante os dois meses anteriores, que se vai ver o estofo desta equipa encarnada?

Parece, em primeiro lugar, não haver qualquer dúvida de que o Benfica perdeu bem mais do que dois pontos no jogo com o Belenenses. Perdeu também importante dose de confiança, e toda a confiança é pouca nesta altura da época, quando se aproximam os momentos das grandes decisões; perdeu ainda a vantagem pontual que tinha para o rival FC Porto e perdeu, sobretudo, e mais importante a meu ver, a vantagem emocional que tinha conquistado com a vitória no Dragão.

Perdeu o Benfica, em resumo, tanta coisa no jogo com o Belenenses, que o Benfica que começou por ver-se, ontem, no jogo da Liga Europa, foi um Benfica menor na dimensão e no futebol jogado. E com frágeis soluções atacantes para um jogo que precisava mesmo de vencer e de vencer, à partida, por mais de um golo mesmo que viesse a não sofrer.

O Benfica que saiu da Luz na última segunda-feira foi um Benfica naturalmente muito abalado; porque nenhuma equipa conseguiria ficar na mesma se lhe sucedesse o que sucedeu à águia. Ou o que a águia fez por lhe suceder.

E o Benfica que ontem começou o jogo com os croatas do Dínamo de Zagreb apenas confirmou o que se temia, num cenário agravado ainda, sublinho, pelo treinador Bruno Lage, com aquela opção de onze que veio a revelar-se, como se previa, ter muito pouco sentido.
O que esperava Lage de uma dupla atacante formada por Rafa e por mais um miúdo (talentoso, sim, mas ainda muito cru) como é Jota? Julgará o treinador do Benfica que é suficiente ter fé nos jovens do Seixal? E que basta lançá-los no jogo mesmo quando isso parece fazer pouco sentido?

Resultado: deu verdadeiramente o Benfica 45 minutos de avanço ao adversário e deixou em sério risco o desfecho da eliminatória, atirando para as costas de um outro Benfica na segunda parte a responsabilidade de resolver em metade do tempo o que devia ter começado a resolver-se na primeira parte. Foi tão pobre e tão inconsequente o primeiro Benfica que praticamente nem incomodou o Dínamo de Zagreb nos primeiros 45 minutos.

E por muito que Bruno Lage o venha justificar, não lembraria ao diabo querer que fossem Jota e Rafa a resolver como dupla atacante as necessidades de um Benfica que precisava mesmo de vencer o jogo e precisava de o vencer depressa (sem o indesejado prolongamento) e por mais de um golo de diferença se conseguisse não sofrer nenhum.

Pareceram, realmente, tantos os equívocos iniciais deste Benfica que ontem andou tanto aos soluços na Luz, que tiveram de ser as individualidades (com três golos fantásticos! e um deles apontado por Ferro, absolutamente o melhor em campo!) a resolver o que a equipa teve sempre tanta dificuldade em conseguir.

TRAUMATIZANTES para os benfiquistas, evidentemente, aqueles erros de Vlachodimos e Rúben Dias no arranque da semana encarnada, porque não foram apenas erros, foram erros determinantes para o resultado final do Benfica-Belenenses, que em condições normais teria resultado na vitória encarnada por 2-0. Quis o treinador do Belenenses inverter o ónus da prova, e é legítimo que o tenha tentado fazer em defesa da equipa que comanda (e bem) e dos jogadores que acabaram por ser, na realidade, os autores do tais dois golos, primeiro Diogo Viana, depois Kikas, esse mau da fita para os benfiquistas, que teve, na realidade, a audácia de acreditar que um eventual erro de Rúben Dias poderia conceder-lhe o privilégio de marcar pela primeira vez num grande estádio. Há uns meses, Kikas vestia, no Campeonato de Portugal, a camisola de um Benfica, sim, mas do humilde Benfica e Castelo Branco.

Num caso e noutro, com Vlachodimos e com Rúben Dias, tem Silas toda a razão, não se pode falar em erros não forçados. No primeiro caso, há uma bola colocada na área por Diogo Viana, e no segundo é Kikas quem nunca desiste de acompanhar Rúben Dias. Nesse sentido, repito, não se pode falar em erros não forçados. E compreende-se o discurso de Silas.

Mas a questão não está no forçado ou não forçado; a questão está na dimensão e na invulgaridade do erro. E até Silas reconhecerá que não é normal um guarda-redes e um defesa-central já com a experiência de largos meses de Benfica - e, no caso de Rúben, até com experiência já de Seleção Nacional - cometerem os erros que Vlachodimos e Dias cometeram no jogo com o Belenenses.

O problema não está, pois, no erro; está no tipo de erro. E quanto maior é o erro mais ele pesa. Mais mossa faz. Mais perturbação provoca. Ou não é assim?!  

LEMBRO que já tinha o Benfica saído esta época de Portimão com o peso na consciência de outros erros individuais, num jogo que foi ainda pior para a águia porque acabou derrotada e foi ainda mais traumatizante para o então treinador (Rui Vitória) porque lhe valeu, por fim, o despedimento.

Nessa noite algarvia do princípio do ano, também Rúben Dias esteve diretamente envolvido no resultado ao fazer o primeiro dos dois autogolos do Benfica, desviando para a baliza uma bola cruzada da esquerda, e, depois, se bem se lembram ainda os benfiquistas, foi aquele inexplicável golpe de cabeça de Jardel que ditou o resultado final.

São erros individuais a mais? São! E explicam, muitas vezes, a inconsistência e a imaturidade competitiva de uma equipa e a levam a comprometer o sucesso. Claro que é, igualmente, na reação ao infortúnio que se avalia o estofo de uma equipa. E se percebe a verdadeira capacidade, peso e influência de um treinador num determinado momento.

No caso de Lage, é no mínimo difícil compreender o critério e a coerência de algumas das opções que faz, como sucedeu, ontem, com o onze que apresentou, como se pudesse esperar simplesmente que todas as opções, sejam elas quais forem, resultem como resultaram, por exemplo, em Istambul. Quanto ao estofo, é o que faz os campeões. E não se ganha de um dia para o outro. Ou se tem ou não se tem!  

PS: Fez Cristiano Ronaldo o que a maioria de nós esperava que ele fosse capaz de fazer. Foi o campeão que sabemos que ele sempre é capaz de ser. E foi o monstro goleador que sabemos que a todo o momento ele é capaz de se tornar. O que Cristiano Ronaldo voltou a ser foi o Cristiano Ronaldo impressionante na Liga dos Campeões que há anos sabemos que ele é.

O que Cristiano Ronaldo fez foi voltar a ser aquele grande campeão sempre capaz de esmagar qualquer adversário, em qualquer circunstância.

O que Cristiano Ronaldo mostrou foi o que já todos sabemos que ele é capaz de mostrar: quanto mais difícil é o jogo, quanto maior é a pressão, quanto mais importante é a competição, quanto maior é o desafio e mais duro o obstáculo, quanto mais o adversário parece intransponível e quanto mais a montanha parece difícil de superar mais Cristiano Ronaldo se transforma e mais Cristiano Ronaldo se torna poderoso, decisivo e  gladiador. É o maior!