O dilema da bola fora, bola dentro

OPINIÃO09.06.202004:00

Um dos maiores dilemas dos árbitros são as decisões relativas às bolas que ultrapassam ou não as linhas do terreno de jogo. Vamos recordar a lei:

- «A bola está fora de jogo quando ultrapassa, completamente, a linha de baliza ou a linha lateral, quer junto ao solo quer pelo ar».

Como sabem, este assunto não nasceu agora nem acontece com frequência, mas custa a entender que, tendo em conta o peso tremendo que cada decisão tem nos dias de hoje, o futebol possa dar-se ao luxo de não investir no recurso tecnológico que permite desfazer este tipo de dúvidas em meia dúzia de segundos.

Por enquanto, vai vigorando o olhómetro, nada recomendável em lances que podem decidir jogos, campeonatos, subidas ou descidas.

Acreditem quando vos digo: em situações de dúvida (e são a essas que me refiro), é quase impossível garantir, em campo, se uma bola ultrapassou ou não, totalmente, a linha de baliza.

Para que isso aconteça, é necessário que o árbitro assistente esteja no enfiamento da linha de baliza (nem sempre pode estar) e com o ângulo livre e descoberto, ou seja, sem costas, pernas ou luvas a taparem, total ou parcialmente, a sua visão.

Essa conjugação de fatores, aliadas à rapidez do lance e ao facto da bola poder estar no ar e não no solo (onde existe referência da linha), torna a decisão humana muito falível.

Vem isto a propósito de um lance ocorrido no Rio Ave-P. Ferreira: perto do final da primeira parte, houve um cruzamento da direita que terminou em golo.

As várias repetições mostraram duas coisas: a primeira foi que o árbitro assistente estava bem colocado mas tapado pela cabeça de um defesa pacense, entretanto caído no solo; a segunda foi que todos nós ficámos com a sensação que a bola estaria para lá da linha de baliza no momento do passe.

Agora a parte chata que convém recordar: o VAR não pode intervir com base em sensações. Na verdade, só pode sugerir a alteração de uma decisão quando a equipa de arbitragem tiver cometido um erro claro, óbvio e inequívoco.

Neste caso particular, o VAR - que seguramente terá visto outras imagens além das que vimos - poderá até ficado com a ideia de que a bola estaria toda fora, mas sem ângulo de visão em condições, sem tecnologia para o garantir ou sem uma imagem filmada de cima, sobre a linha (perpendicular à bola) nunca o poderia garantir. E não garantiu.

Caso o lance tivesse sido invalidado em campo, a decisão teria de ser a mesma: não intervir por falta de provas em contrário. Estamos a falar de um lance objetivo (dentro/fora), não de um momento de interpretação que pudesse levar o árbitro a rever o lance no ecrã.

Na época passada, o Liverpool teve um golo anulado num lance em que a bola pareceu estar dentro... até a tecnologia provar que não estava. A goal line tecnology é cada vez mais indispensável: repõe a verdade desportiva e livra os árbitros de uma decisão terrível.