O craque!

OPINIÃO05.04.201904:09

O Benfica foi, em Alvalade, uma equipa esgotada, e por isso perdeu; o Sporting foi uma equipa revoltada, e por isso ganhou. Para as duas equipas, esta era a primeira de duas finais de Taça. A final de Alvalade e a final do Jamor. Esta semana, foi mais forte o Sporting e por isso vai jogar a segunda, em maio, com o FC Porto. Foi justa a vitória do leão? Foi! Sobretudo porque o leão foi mais intenso, mais focado, mais determinado, mais agressivo, mais esclarecido, cometeu menos erros e teve o craque do jogo.

Foi o Sporting uma equipa mais revoltada. Contra o destino de uma época difícil e irregular e contra o favoritismo que era, justamente, atribuído ao Benfica na eliminatória, porque o Benfica é o líder do campeonato, porque é a equipa que tem vindo a jogar melhor, porque tem, claramente, um plantel com melhores soluções, e porque vinha de dois triunfos sobre o leão, um para a Liga, em Alvalade, e outro para a Taça, na Luz, na primeira parte desta meia-final.

Pareceu, pois, o Sporting uma equipa também  revoltada precisamente  contra aqueles  dois últimos insucessos consecutivos com o rival e, talvez por isso, tenha cerrado igualmente mais os dentes que o adversário.

Por isso, talvez por isso, tenha o leão dado a ideia de mais querer ganhar o jogo, como se costuma dizer sempre que uma das equipas mostra ser mais intensa em cada metro do campo, no despique de cada duelo, de cada vez que luta pela bola. E foi isso que o Sporting foi. Mais forte na intensidade e, de algum modo, na personalidade com que olhou em todos os momentos para o jogo.

O Benfica perdeu porque falhou mais. E falhou muito. Falhou nas oportunidades que criou, falhou na definição, falhou na concentração, falhou na intensidade, no ritmo, ma dinâmica, na força mental, na reação, na pressão e na gestão. Tinha a vantagem mas não a soube gerir. Não teve, mais uma vez, estofo quando se tratou de decidir tudo num só jogo. Apenas se pode lamentar de si próprio.

E, quanto muito, de algumas decisões do treinador.

NÃO sei se Bruno Fernandes é ou não é o melhor jogador do campeonato porque no final do campeonato o melhor jogador talvez acabe por sair, mais ou menos consensualmente, da equipa que vier a sagrar-se campeã.

O que sei é que Bruno Fernandes é o melhor jogador português a jogar em Portugal e o terceiro melhor jogador português do momento, logo a seguir a Cristiano Ronaldo e Bernardo Silva.

Em Alvalade, esta semana, Bruno Fernandes apenas confirmou tudo o que já se sabe. É um grande talento e acrescenta ao jogo, e à equipa, coisas que poucos jogadores conseguem, porque Bruno Fernandes constrói, organiza, finaliza, faz golos de bola parada, de remates de meia distância, sobre a direita ou sobre a esquerda, de pé direito ou de pé esquerdo, mais em força ou mais em jeito.

Foi, na Luz, o homem que reacendeu a luz da Taça ao leão. E como na primeira mão bateu, de muito longe, um inexperiente, muito jovem, ainda frágil e pouco seguro Svilar na baliza encarnada, o que fez o treinador benfiquista? Voltou a apostar no inexperiente, muito jovem, ainda frágil e pouco seguro Svilar para a segunda mão, para, ironia do destino, voltar a ser batido pelo mesmo Bruno Fernandes, agora não de bola parada, mas de novo com um remate muito forte, sim, cheio de raiva, talento e pontaria, mas, ainda assim, a levar a bola a entrar do lado onde estava o jovem inexperiente, ainda frágil e pouco seguro guarda-redes de 19 anos que o Benfica sempre pareceu querer transformar numa espécie de novo Preud’homme, mas seguramente muito mais cedo do que devia.

E paga, como se vê, a fatura.

A responsabilidade não é, naturalmente, do jovem Svilar; a responsabilidade é a de quem insiste, numa antecipada final de Taça de Portugal, em manter a alternância de guarda-redes entre as duas principais competições nacionais, quando se sabe que um jogo desta natureza é, sobretudo, para ganhar e não para dar… oportunidades, e muito menos num posto onde as rotinas são tão essenciais e decisivas e num lugar tão específico como é o de guarda-redes, e ainda por cima, quando é de senso absolutamente comum no Benfica a diferença de qualidade e capacidade entre o guarda-redes titular Vlachodimos e este jovem número 2 que parece, na realidade, ter o potencial mas não tem claramente ainda a dimensão e o conforto de um conjunto de jogos e exibições que lhe validem a confiança e a confiança de companheiros e adeptos.

Defenderia Vlachodimos o remate-bomba de Bruno Fernandes? Talvez não. Mas não se questionaria a escolha e, no mínimo, não ficaria a dúvida.

Trocou Lage os laterais André Almeida e Grimaldo por Corchia e Yuri Ribeiro? E Rúben Dias por German Conti? Não trocou porquê? Porque os titulares lhe dão, obviamente,  mais garantias.

Porque não manteve, então, Vlachodimos na baliza?

Quis dar a Svilar a oportunidade de provar que o golo sofrido na Luz foi apenas um erro do acaso?

MAS não foi apenas com Svilar que Bruno Lage desafiou, agora, em Alvalade, a teoria da probabilidade da coisa correr menos bem; fê-lo também ao escolher Jardel (após dois meses sem jogar) e Fesja (que fez um jogo apenas nos últimos dois meses e meio).

É, obviamente, o treinador que decide e é o treinador que sabe porque decide.

Mas, no futebol, há coisas que devem, pelo menos, fazer sentido.

E faz sentido que nos grandes jogos joguem os melhores jogadores.

Ou não faz?

E não faz sentido que os melhores jogadores sejam aqueles que jogam mais vezes?

Eram esses que os adeptos quereriam, e talvez esperassem, ter visto nesta final de Alvalade, porque numa eliminatória destas não é muito importante saber quem foi melhor na primeira mão, como foi, claramente, o Benfica, no jogo da Luz, mas sim quem consegue ser mais forte no jogo da decisão.

Os melhores nos grandes jogos, é isso que os adeptos andam a ouvir desde que o futebol é futebol.  E não são Vlachodimos, Ferro ou Samaris, por exemplo, os melhores de momento?

Com os melhores jogou, e bem, o Sporting, de entre os que tinha disponíveis, mas não jogou, inequivocamente, o Benfica, que quis gerir o que pode, mas não deve, gerir num  jogo (queira ou não Bruno Lage) que era, para os adeptos, uma autêntica final.

Foi o Sporting claramente superior ao Benfica? Não. Mas foi superior naquilo que faz, muitas vezes, ou quase sempre, a diferença quando os jogos são mais equilibrados, como foi o caso, na noite de quarta-feira, em Alvalade. E o que faz a diferença quando os jogos são mais ou menos equilibrados é a atitude. E o craque!

Além disso, as finais não são para jogar, são para ganhar, não é que se diz?

Pois o Sporting soube ganhá-la!  E por isso estará, com todo o mérito, no Jamor, para tentar fazer esquecer a péssima memória da última que lá esteve.

PAGA ainda o Benfica, quer-me parecer, a fatura de ter andado a correr atrás do prejuízo entre janeiro e o fim de março, com aquela mão-cheia de jogos e de vitórias e de algumas boas exibições. E paga a fatura física e mentalmente, e por isso parece uma equipa mais cansada e mais esgotada, mais sem a ação e a dinâmica que teve quando andou na Liga a recuperar os pontos que tinha de atraso para o FC  Porto, e sobretudo sem capacidade de reação a um cenário mais desfavorável, como foi, de novo, visível em Alvalade, e como já tinha sido bastante visível, na Luz, quando se viu e desejou, no último fim de semana, para bater o aflitíssimo Tondela.

É dessa fatura que o Benfica precisa, agora, de cuidar, nesta reta de sete finais que o próprio Bruno Lage diz faltarem para decidir tudo no campeonato.

Uma fatura de desgaste físico e mental que pode ser bastante mais pesada sabendo agora o Benfica  que não conta mais com Gabriel até final da época e que Samaris, por exemplo, também fundamental nos últimos três meses, está num difícil processo de renovação de contrato, e todos sabemos como, por vezes, os difíceis processos de renovações de contrato (como também acontece, aliás, no candidato FC Porto) podem acabar por custar muito caro!