O colete crucificado

OPINIÃO17.07.202306:30

Não há jogadores iguais e nem todos podem ser líderes, é a diversidade que faz crescer o jogo

DEPOIS de ler e ouvir tantas opiniões monocromáticas sobre João Félix, daquelas em que praticamente só encontramos preto ou branco, quase desisti. Até me surpreende, de certo modo, que não expliquem de forma ainda mais simplista aquele momento de frustração, como, por exemplo... com a culpa ser do colete. Os que apontam para o fracasso às ordens de Simeone ou de Lampard deveriam ou ser treinados pelo primeiro ou ter conversas sobre táticas e dinâmicas com o segundo a pretexto de castigo, e depois logo falaríamos. Obviamente, há culpa própria, resignação quando tal não pode acontecer, porém esquecermo-nos do contexto é subtrair da equação o essencial. Ou será que estamos todos convencidos de que Messi foi tão bom em Paris como em Barcelona, ou que Maradona não teria precisado do calor de Nápoles para ascender a divindade? Cristiano iria, por exemplo, ser o mesmo se tivesse residido em Camp Nou e partilhado ideias com Xavi e Iniesta, ou teria ainda crescido tanto sem a proteção de Ferguson? Duvido. Mais do que nunca, Félix precisa de encontrar o contexto certo para si. Em nome do que ainda deve ao próprio potencial.

Não há jogadores iguais. Nem todos podem ser líderes (nem faz sentido que o sejam, ou o conflito abafaria qualquer tentativa de jogar futebol) ou agressivos mental e fisicamente na mesma medida. É precisamente a diversidade que faz crescer o jogo. É por isso que não se deve explicar um jogador com outro, ou uma equipa com a rival. E se, mesmo assim, o quiserem fazer, pelo menos façam-no quando os comparados partirem das mesmas condições. Isto se não quiserem continuar a culpar o colete.

Não sei o que vai acontecer com João Félix. Acredito que precise de se sentir um jogador importante numa equipa. Quem o contratar precisa sabê-lo. E ele, claro, está obrigado a dar resposta.