O campeão que não o sabe ser
Aos 60’ e com 4-1, foi Low e não Santos quem achou que já chegava e substituiu Gosens
PORTUGAL tem tantos argumentos individuais que ainda pode arrepiar caminho, mas os sinais, apesar da vitória diante da Hungria, não são positivos. Temos jogadores de classe mundial e uma faixa ao ombro, mas continuamos a achar que o nosso ADN é de equipa pequena: anular o adversário e meter-lhe bolas nas costas. Somos o campeão que não o sabe ser.
Mesmo que geneticamente fosse a nossa natureza e quiséssemos aceitar o testemunho da Grécia de Rehaggel ou do recorrente gioco all’italiana, que hoje até esta bella Itália coloca de parte, fomos demasiado quadrados no aspeto estratégico. A Alemanha apresentou-nos um problema que Fernando Santos, a julgar pela amostra, estaria até hoje para resolver. Com Portugal ineficaz na pressão, Low levou o jogo para trás do duplo-pivot português, onde quatro da linha de cinco se deslocavam para a direita, arrastavam os quatro portugueses, e deixavam o espaço todo para Gosens, o ala esquerdo, onde Kroos, Gundogan ou os centrais colocavam a bola descoberta. Faltava sempre um! Semedo tinha de acompanhar Muller ou Havertz, e Bernardo, primeiro, Renato e Rafa, depois, chegavam sempre tarde ao jogador da Atalanta. Aos 60 minutos e com 4-1, foi Low e não Santos quem achou que já chegava e substituiu o melhor em campo.
Por que razão não se baixou um Danilo sempre longe da bola para entre os centrais, ficando Semedo só com Gosens? Podia depois acertar-se no meio-campo Bernardo, Bruno e William com Gundogan, Kroos e Ginter, a funcionar como terceiro médio, e alinhar Ronaldo e Jota com os restantes dois defesas.
Claro que Portugal podia trabalhar o seu ataque posicional para jogar como a Alemanha, que conhecia os seus problemas defensivos, mas aceitou o risco. É que a história de que «agora jogamos mal e ganhamos» pode ter os dias contados.