O campeão das baixas
Sporting perdeu Porro depois de perder mais sete da equipa campeã em 2021. Mas ontem goleou o Braga e voltou à luta pela Champions…
Ojaponês Hidemasa Morita foi a grande figura do Sporting ontem em nova goleada (5-0) sobre o rival Braga. No primeiro jogo pós-Porro, os leões deram sinais muito positivos (Esgaio esteve solto e confiante; Morita encheu o campo e bisou; Edwards apontou um golo sensacional; o miúdo Chermiti deixou apontamentos muito interessantes, como a assistência de calcanhar no lance do 2-0 e o pedido aos adeptos para não assobiarem Pedro Gonçalves no penálti do 5-0; Matheus Reis acertou um míssil na baliza de Matheus) perante um Braga que só existiu nos primeiros cinco minutos. Rúben Amorim tinha dito que estava «satisfeito com o crescimento da equipa» e os jogadores esforçaram-se por lhe dar razão. Houve muito leão para tão pouco Braga - que desilusão! -, que encaixou nova mão cheia em Alvalade depois do 0-5 da Taça da Liga a 19 dezembro. O Sporting começa a segunda volta a reduzir três pontos ao avanço dos minhotos (que era de oito) na luta pelo 3.º lugar. Regressam os leões à luta pelos milhões da Champions que, recorde-se, só estão garantidos para os dois primeiros e dão aos adeptos motivos para continuarem ligados à equipa depois do soco que foi a perda de Pedro Porro.
Ruben Amorim disse, a propósito da venda de Porro, que o Sporting é [dos grandes] o que tem perdido mais titulares. Nesta época, sim: depois de João Palhinha e Matheus Nunes (sem esquecer o utilitário Tabata) foi-se um terceiro anel valioso com a venda de Porro ao Tottenham (o FCP ficou sem Vitinha e Fábio Vieira; o Benfica perdeu agora Enzo, mas tem investido muito). Perder bons jogadores faz mossa, claro, mas essa é a sina dos clubes portugueses, fatalmente vendedores. Veja-se que da equipa que foi campeã a 11 maio de 2021, o Sporting já perdeu oito elementos importantes: Nuno Mendes, João Mário e Tiago Tomás; João Palhinha, Matheus Nunes, Feddal, Bruno Tabata e agora Pedro Porro. O leão é o campeão das baixas também porque é dos três grandes aquele que, provavelmente, mais precisa de vender. Mas é razoável supor que os 170 milhões empochados no mercado de transferências no último ano e meio permitam a Varandas planear o futuro próximo com outra segurança.
VITINHA... LONGORIA…
Vítor ‘Vitinha’ Ferreira entrou com ímpeto no universo peculiar dos adeptos marselheses, pródigos em manifestações de carinho e paixão a quem sua a camisola do OM. No primeiro contacto com os adeptos e no próprio vídeo de apresentação, fez por justificar a espetacular manchete do L’Equipe de ontem, ilustrada com uma fotografia particularmente expressiva do jovem avançado português, que é só a maior contratação da história do Marselha (32 milhões). Já falei várias vezes na BOLA TV da interessante personagem que é o presidente do OM, o espanhol Pablo Longoria. Com apenas 36 anos, é um dos dirigentes europeus com maior conhecimento do mercado, dado ter trabalhado nos gabinetes de prospeção (como scout e chief scout) de vários clubes (Newcastle, Huelva, Atalanta, Sassuolo, Juventus, Valência e Marselha) antes de ser convidado pelo proprietário americano do OM para assumir a presidência do próprio clube (!) na sequência daquilo que foi considerado um excelente trabalho como diretor desportivo. Foi Longoria quem decidiu a contratação de Vitinha, ele quem em 2009 (no Huelva) tentou levar para o clube espanhol um dos adjuntos de José Mourinho. Chamava-se André Villas Boas e Longoria viu nele potencial para algo mais.
O que Pablo viu em Vitinha foi o suficiente para arriscar 32 milhões na maior contratação da história do clube. Sorte de Vitinha Fernando Santos não ser presidente do Marselha!!! Mas não foi só Longoria a reparar no impetuoso panzer bracarense. Assim como não quer a coisa, o Braga (leia-se: o parceiro Catar-PSG) apôs no contrato uma cláusula de recompra no valor de 60 milhões. Ou seja: Vitinha vai exibir-se para os dois maiores clubes franceses, Marselha e Paris SG. Boa sorte!
O CAMPEÃO DE TUDO (E DOS VERMELHOS)
OFC Porto venceu no Funchal (2-0) um jogo tradicionalmente muito difícil e Sérgio Conceição estreou com uma expulsão, a 22.ª da carreira (!), a condição de campeão absoluto (detentor em simultâneo de todas as competições domésticas: Campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga e Supertaça; só Jorge Jesus conseguira essa proeza, em 2014, com o Benfica). Convenhamos. São vermelhos a mais para um homem que pensa e respira azul, mas deve sublinhar-se, independentemente do que Sérgio disse a Fábio Veríssimo (uma grosseria, presume-se), que houve duas expulsões que pareceram falsas como as notas de quinhentos réis do grande burlão Alves dos Reis. Creio que o árbitro ajuizou mal três vezes: nem Bernardo Folha (dois amarelos forçados) nem Pablo Moreno (primeiro amarelo forçado) deviam ter sido expulsos.
De resto, o FCP repetiu a péssima primeira parte da final contra o Sporting e só não foi para o intervalo a perder graças a Diogo Costa. Depois surgiram notas de magia brasileira nos pés de Wendell (golaço!), Pepê e Galeno (pé quente) e o campeão de tudo resolveu a questão em cinco minutos. Fica a impressão que o FCP, tendo conseguido o essencial, pode fazer muito mais; que Taremi está a atravessar uma fase sombria; e que Pepe e Marcano parecem dez anos mais novos.
O CAMPEÃO DAS VENDAS
FANTÁSTICO o negócio do Benfica com Enzo sob todos os pontos de vista menos um: o desportivo. A equipa perde um jogador importante no último dia de mercado e, não havendo substituto evidente no plantel (o Benfica entendeu não recorrer ao mercado, ou então fiou-se no ‘eu fico’… e já não foi a tempo), isso obriga o treinador a um exercício de reinvenção no meio campo, sempre uma zona delicada. Schmidt precisa de encontrar rapidamente uma fórmula eficiente e o facto de ter uma vantagem relevante no campeonato retira-lhe alguma pressão (diga-se que ter ganho com folga o primeiro jogo sem Enzo foi importante para a equipa). Há um ano, por esta altura, o FC Porto liderava e também perdeu um jogador crucial, o talentoso e criativo Luis Diáz (para o Liverpool). Sérgio não gostou, mas arranjou maneira de suprir essa baixa. O FC Porto, sentindo-se fragilizado, ‘desistiu’ da Liga Europa, mas mostrou estofo suficiente para aguentar a pressão do Sporting e acabou por ganhar o campeonato com pontuação recorde. É esse o exemplo que deve inspirar Schmidt.
Os largos milhões que o Chelsea pagou por Enzo reforçam o estatuto do Benfica como potentado europeu de receitas com venda de jogadores (bem mais de mil milhões encaixados no séc. XXI, uma máquina de faturar!) e mantém o partner Jorge Mendes na rota dos grandes negócios / comissões embora neste caso não se perceba muito bem nem o motivo nem o alcance da sua intervenção, uma vez que a direção do Benfica declarou enfaticamente que não queria vender o jogador - Rui Costa disse várias vezes, alto e bom som que «Enzo só sai pela cláusula!» (intermediário para quê, então ?!?). Enfim, o mundo das transferências tem nuances difíceis de compreender mesmo quando o que está em cima da mesa parece tão simples como somar 1 mais 1.