O bom e o mau da vida

OPINIÃO08.06.202107:05

Um bem-haja ao Luís, ao AC Travanca e a todos aqueles que estão do lado certo da barricada

Na passada quinta-feira, o jogo entre o AC Travanca e GD Parada (a contar para o Campeonato Distrital da AF Viseu) teve um daqueles momentos mágicos que devem ficar na retina de todos nós. Um momento especial e muito bonito. Um dos espectadores da equipa visitante - que naturalmente assistia à partida do lado de fora do recinto - teve um problema de saúde aparentemente grave (segundo testemunhos presentes no local, um ataque de epilepsia). Os restantes adeptos (das duas equipas) procuraram prestar-lhe a assistência possível. No entanto o estado de saúde do senhor agravou-se de tal modo que, perante a ineficácia da multidão, o 112 teve que ser acionado.
O guarda-redes da equipa visitada apercebeu-se do sucedido e não hesitou em socorrer o adepto adversário. É que, além de futebolista, o Luís também pertence ao corpo de saúde do INEM (de Viseu). Naquele momento pensou apenas numa coisa: abandonar a baliza, sair do terreno de jogo e correr na direção daquele espectador para lhe prestar auxílio. Assim pensou, assim fez. O regresso ao relvado só aconteceu bem mais tarde, após a chegada ao local da equipa médica.
O gesto do Luís é raro e por isso valioso. Mereceu logo ali o cartão branco das mãos de um árbitro sensato, justo e inteligente e devia merecer (como seguramente merecerá) homenagem da sua Associação de Futebol e da CM Viseu. Um bem-haja ao Luís, ao AC Travanca e a todos aqueles que estão do lado certo da barricada. É assim mesmo!

Ao contrário do que diz por aí não se vive apenas uma vez. Vive-se muito. Vive-se todos os dias, a toda a hora. De manhã à noite. Uma e outra vez. Morre-se é uma vez. Uma vez apenas. Até lá é suposto procurarmos a felicidade da forma que queremos e podemos, sem atropelar os outros, sem magoar ninguém e sem prescindir do que é nosso por direito. O Rúben Baeta, árbitro da AF Leiria (32 anos) especializou-se em futsal e pertencia aos quadros da FPF. Era jovem, inteligente, humilde e muito boa pessoa. Infelizmente viveu menos do que podia e devia. Tinha demasiado tempo pela frente. Tempo para ser pai, para realizar-se profissionalmente, para viajar pelo mundo e para fazer o que bem lhe apetecesse. Era novo demais para partir, mas partiu.
Os nossos também caem. Como o Rúben, cedo demais, mal demais. O Soares Dias (pai), o Paulo Paraty e o José Pratas são apenas outros exemplos de homens que nos deixaram mais cedo do que queríamos.
A todos os familiares, amigos e colegas do Rúben deixo aqui um abraço apertado de quem sabe bem o que dói perder quem se ama. Para a família da arbitragem, uma palavra de força e incentivo: embora em minoria, somos uma fortaleza. O que não nos derruba torna-nos mais fortes. Hoje e sempre.