O ataque ao futebol

OPINIÃO18.08.202206:30

Para a segurança que o futebol carece, deve começar-se pela qualidade de serviço dos elementos das tutelas. Transparência sem dependências

OS últimos dias assistimos a uma manifestação de pesar que uniu as regiões, os clubes e o futebol nacional e não só: o funeral do miúdo do Barreiro que, com uma humildade exemplar, encantou os adeptos nacionais e deixou memórias a nível internacional. Falamos de Fernando Chalana. Por vezes, os desportistas conseguem superar o que os divide e unem-se, embora muito raramente, em momentos significativos. Mesmo a nível internacional, há alguns exemplos de paz e concórdia, como quando se chegou a admitir que o futebol poderia merecer o Prémio Nobel da Paz… O problema é que não há constância e essa irregularidade impede a valorização do jogo e da tolerância sem fanatismos. As claques surgiram (muito por protestos em relação a decisões políticas) e alastraram pelo mundo. Por outro lado, a crescente tendência do negócio atingiu valores imensos e uma indústria imparável que potencia investimentos mas deixa resíduos tóxicos com circulação de milhões, sem precisão das origens e alimentando ódios que impedem a festa do futebol, no sentido original. Mais do que o brilhantismo do jogo deseja-se a vitória a qualquer custo. Os adeptos foram desvalorizados, as claques cresceram do protagonismo e das transmissões televisivas muitas vezes tornando-se espaços de comentário parcial, logo sementes de problemas deixados por quem pretende captar maiores audiências, seja a que custo for. Fica a impressão de que quem vê esses programas não consegue uma opinião livre e prefere escolher aqueles que dividem e procuram valorizar apenas o clubismo, sem conseguir a liberdade de reconhecer o mérito aos outros clubes. Chalana deixou a herança do entendimento, dos dribles inesperados quanto fantásticos e o reconhecimento pela sua humildade.

Por outro lado, a violência está imparável. Quer a nível político, desportivo e social (incluindo a tragédia dos fogos e as contradições do costume) há hábitos e erros que perduram. Recentemente, aconteceu uma união estratégica internacional, ao juntar uma claque estrangeira com uma nacional para irem provocar desacatos à cidade berço, sem a resposta policial mais eficaz. Inclusivamente havia plano para essa aliança causar danos na cidade Invicta, particularmente na Ribeira. A epidemia do ódio (no desporto é uma contradição de raiz) já tem acordos entre claques de vários países para provocar danos nas claques nacionais. Trata-se de uma fenómeno que existe, talvez por falta de governos que nunca revelaram capacidade para envolver o fair play, apenas deixam correr o tempo e também potenciam o crescimento da violência. Aquilo que apoiam é a barbárie, a intolerância e falta de um entendimento/ação célere e rigoroso. Para acrescentar maior dimensão à intolerância, existem diversos programas televisivos que, para lutar pelas audiências, são capazes de manter ao rubro as inimizades que alimentam polémicas, acreditando mais no que ouvem dos comentadores que preferem do que o que conseguem ver em sucessivas repetições, mantendo a alienação como certeza.

Contudo, o jogo nunca deixou de ter um valor formativo e de ser uma escola para perseguir a crescente qualidade. Os governos e as instituições que tutelam o futebol acumulam sucessivos erros, inclinações que desvirtuam a realidade e uma incapacidade e ignorância por estar cativa, por pressão de lóbis. O fenómeno da violência associada ao futebol tem extremos nos casos em que há jogos, não só na Europa, em que os estádios só têm a presença dos sócios e nunca do adversário.
 

Claque do Hajduk Split causou o caos nas ruas de Guimarães


A questão essencial é sempre a competência das lideranças e o exemplo para ser seguido. Invasões de campo, lutas entre claques, inimizades sem sentido, nunca têm sido analisadas com a profundidade necessária, porquanto a governação tem duração curta e não permite criar planos de longo alcance, mediante acordos dos vários partidos políticos. Faltam linhas de orientação, projetos para futuro com sentido de responsabilidade e ações de players que deveriam ser analisadas corretamente, assim como os fluxos monetários imensos que circulam e dos quais temos dúvidas se são analisados com profundidade. Falta a Portugal (e não só) uma visão alargada e consensual para evitar mudanças de curto prazo, mas antes decisões para futuro. Governar para o imediato, em constantes alterações, acaba sempre por não resultar e por desperdiçar muitos recursos. Esse tem sido um dos mais graves problemas do nosso país, de onde sai a dúvida se governam para o crescimento sustentado e criação de riqueza para aumentar a qualidade de vida ou apenas para gerir curto prazo. Os clubes de futebol passam pelo mesmo problema, excetuando um ou outro caso, e ainda com a preponderância das SAD que, por vezes, constroem cenários com resultados catastróficos (para o futuro dos clubes) e a merecer investigação profunda. Recordar que recentemente foi colocada à venda da Taça de Portugal, de 2017/2018, num jogo em que o Desportivo das Aves venceu o Sporting por 2-1, deveria servir de motivação para mudar. O equilíbrio financeiro, a gestão saudável do clube com transparência, poderão reforçar os alicerces e manter o clubismo como família, como exemplo de cooperação e sem alinhar em guerrilhas de ódio e maldizer. Claro que o exemplo deverá vir de cima, embora as lutas pelo poder se tornem um problema constante, porquanto fica a impressão de haver filhos e enteados. Os vários Órgãos da FPF e a Liga Portugal, de uma vez por todas, convém recordar que não são proprietários do futebol, mas antes têm de estar ao seu serviço. Só dessa forma e numa visão estrutural poderemos caminhar com segurança e desportivismo. Estamos numa época em que poderemos ser eficazes e exemplares, atendendo à violência nos estádios de alguns países europeus e não só, mas para isso, o edifício do futebol tem de ter alicerces sólidos e todos serem tratados da mesma forma. Há funções e cargos que exigem humildade para servir o futebol e não para valorizar lideranças sem nunca esquecer um tratamento idêntico para todos. Para se conseguir a segurança que o futebol carece, deve começar-se pela qualidade de serviço dos elementos das tutelas. Transparência sem dependências. O que nos une é mais importante do que aquilo que nos separa. Para isso, em vez de guerras sem sentido, é preciso dar um passo em frente e criar diálogos com futuro, sem complexos nem autoritarismos; só assim se pode avançar no rumo do sucesso e do crescimento. Aproveitar os contributos válidos para o desenvolvimento e nunca cair na oposição doentia, viciada, sem nexo. 


TECNOLOGIA E VERDADE DESPORTIVA 

OVAR foi uma decisão acertada, embora falte muito caminho para percorrer. As arbitragens com esse apoio podem tornar-se prestigiadas e permitir resultados justos, sem erros que penalizam a credibilidade do futebol.

No final das transmissões televisivas, o comentário ao VAR tornou-se um hábito e, de facto, com o tempo os comentários e a análise dos lances ficam mais esclarecedores, desde que o foco esteja no facto concreto. Esses esclarecimentos podem ajudar a reduzir a violência e a desconfiança, desde que o esclarecimento seja rigoroso. Ter acesso ao diálogo Árbitro-VAR deverá ser o caminho para maior transparência.

Na segunda jornada do campeonato, assistimos a análises mais rigorosas, esclarecedoras, o que permite evitar desconfiança. Neste campeonato os pontos estão a ser cada vez mais difíceis de conquistar porque todos se organizaram e estão mais bem preparados para lutar sempre pela vitória. É urgente que os árbitros se esforcem ao máximo para manter a coerência e justiça indispensável, evitando erros que possam ter influência nos resultados: tolerância zero para falhas de arbitragem. A jornada inicial tinha conseguido 22 golos, mas na segunda jornada somente 19 golos, a merecer análise cuidada, pois só o SC Braga e o Portimonense fora e o Sporting em casa, conseguiram 3 golos cada…


REMATE FINAL  

Portugal, juntamente com a França, são os países com maior número de nomeados para a Bola de Ouro (Cristiano Ronaldo, Bernardo Silva, João Cancelo e Rafael Leão).

Mundial do Catar começará um dia mais cedo (20 de Novembro), para que, após a cerimónia de abertura, o jogo inaugural seja o anfitrião: Catar-Equador.

Diogo Ribeiro conquistou medalha de bronze nos 50 m mariposa, no Europeu de natação.

Mbappé revelou excesso de vaidade que o vai penalizar, caso não mude: o PSG derrotou o Montpellier, num lance em que Vitinha optou por passar para a sua direita e Mbappé, na esquerda, desistiu da jogada e alheou-se do jogo. Nas redes sociais foi muito criticado. O jogador francês deixa a certeza de que o egocentrismo extremo pode ser um caminho de risco.

O desportivismo no início e no final do jogo em Vizela, acrescentou uma imagem feliz: o abraço de amizade e respeito entre os dois treinadores.