Neymar pode, enfim, ser rei na Europa

OPINIÃO22.08.202004:00

Neymar poderá, enfim, deixar de ser o príncipe irrequieto e imaturo e subir ao trono do melhor jogador do mundo. Este é o ano certo. O PSG joga, amanhã, a sua primeira final da Liga dos Campeões, Messi foi para férias, humilhado com a impiedosa goleada do Bayern ao Barcelona, Cristiano Ronaldo fez muito, mas não o suficiente para apurar a Juve, aproveitando a silly season para passar estes dias de verão a mostrar-se no seu novo e luxuoso iate, e, num ano em que as seleções estão fechadas para balanço, sem campeonatos da Europa ou do Mundo para ajudar a tornar mais objetivo a atribuição dos prémios do The Best e com a anunciada ausência de entrega da Bola de Ouro, estranho seria se a atribuição do título do melhor do mundo por parte da FIFA não recaísse em alguém que fará parte da equipa vencedora da final da Champions, amanhã, em Lisboa.

Duas hipóteses mais óbvias, tendo em vista a persistente tentação da escolha recair em goleadores: o brasileiro Neymar, 28 anos, do PSG; e Lewandowski, polaco que ontem completou 32 anos de idade, e tem feito toda uma carreira de homem-golo, procurando, mais do que o prémio do melhor do mundo, um género de óscar de carreira.

Estes prémios, como o The Best, da FIFA, ou a Bola de Ouro, da France Football, são importantes de mais para serem entregues à inocência dos seus votantes. Há, sempre, um conjunto de fatores que influenciam, alguns mais notórios, outros menos visíveis. A política de bastidores tornou-se, aliás, mais intensa e menos transparente nos últimos resultados, que fizeram prolongar, muito provavelmente, além do admissível essa luta histórica entre Leo Messi e Cristiano Ronaldo, uma luta que, aliás, muito contribuiu para uma década fulgurante da presença do futebol no mundo, consolidando a sua dimensão universal.

Mas até a parte mais conservadora da FIFA e da UEFA entendem que é chegado o momento de encontrar um sucessor para a dinastia Messi/Ronaldo. Sendo que, na fase de transição, se torne ainda mais provável que fazer ou não fazer parte da equipa vencedora da Champions poderá e deverá fazer toda a diferença.

Não fosse isso e certamente que Neymar já estava muito próximo de ser finalmente coroado como o melhor do mundo. Porque merece. Porque o seu futebol envolvente, criativo, capaz de fazer explodir a arte do jogo, fazendo-o regressar à magia que sempre o celebrou, está a anos luz do futebol pragmático e intuitivo de Lewandowski. E, no entanto, duvido que a FIFA tenha coragem de atribuir o The Best a Neymar se o Bayern se impuser naquela sua máquina infernal de fazer futebol e vencer a final de Lisboa.

Neymar sabe, melhor do que todos, que está muito perto da consagração. Ele que nunca se deu especialmente bem na sombra de Messi e de Cristiano, chega, aos 28 anos de idade, a um tempo que  sabe que pode e deve ser dele. Não mostra sinais do miúdo irreverente, que levava o futebol pouco a sério e, por isso, continuava a divertir-se a jogar à bola. O que se tem visto de Neymar, sobretudo em Lisboa, é um jogador que usa o seu talento natural a favor da equipa e não, como acontecia, em vantagem exclusiva do seu insaciável apetite de deslumbrar.

Neymar tem, ainda, a vantagem de não estar sozinho e de ter, com ele, uma equipa sólida e desequilibradora. Além de um ataque maravilhosamente excêntrico, com o genial Di María (magnífica meia final) e o estonteante Mbappé, que se juntaram para fazerem um trio de exceção. E, no entanto, pode não chegar para vencer a melhor equipa da Europa.