Negociar direitos de que produto

OPINIÃO25.05.202004:00

A Liga não tem força, mas tem de ser esta a liderar o futebol profissional. É verdade que a Proença falta carisma e até tato, mas a questão é mais profunda. Benfica, FC Porto e Sporting não querem unir-se entre si e, depois, não querem unir-se aos outros. Entre trabalharem em conjunto ou isolados, não deixam dúvidas. Entre o bem comum e o controlo da sua quinta também não. Entre a aventura de uma taça europeia e esta liguinha a escolha é óbvia.


Quando se fala de forma simplista na negociação coletiva dos direitos televisivos como novo Graal do futebol português exagera-se. Para que o Benfica abdique da BTV e, tal como os rivais, de negociar por sua conta e risco, são necessárias garantias de que o retorno financeiro será maior, mesmo que só a médio prazo. Além disso, para que a competitividade cresça, o bolo dos pequenos tem também de ser bem maior. E, para isso, o produto tem de ser melhor.


Não se trata também só de reduzir o campeonato, e muito menos para as 16 equipas que sugere Varandas. Temos 16 boas equipas? O produto melhora com competitividade, que aumenta com mais jogos entre os melhores. Uma ideia: 12  clubes, quatro voltas. As duas últimas, com a tabela dividida a meio, para título e permanência. Ao todo, 32 jornadas e 12 clássicos possíveis. Mais público.


É tudo um processo. Um plano que não existe e ninguém quer conceber. A formação está no nosso ADN e deve continuar, mas transversal aos clubes profissionais. Ter uma academia e uma quota da formação em campo poderia e deveria ser obrigatório. Também ajudariam regras de inscrição mais rigorosas nas competições, uma justiça feita em horas e não em meses e o ruído fortemente penalizado. Por fim, seduzir lá fora. Aproveitar o que não foi aproveitado com o embalo dado pelo Euro-2016 e pela Liga das Nações. Infelizmente.