Não houve crimes sem castigo
Ou encontramos um modelo fiável, ou teremos um grande futuro atrás de nós...
A Justiça, que já tinha condenado os divulgadores de informação roubada, e ainda por cima truncada, trazida a público, decidiu agora punir quem roubou informação, dela se quis aproveitar, e por fim passou-a a terceiros. Tudo isto aconteceu no universo do futebol português, elevando a um patamar nunca antes visto a filosofia de ganhar a qualquer preço, numa lógica de os fins justificam os meios. Não é este o espaço - e A BOLA tem entre os seus colunistas especialistas em matéria jurídica - para discutir se a pena aplicada ao hacker e ao seu advogado foi severa ou suave. É, isso sim, o momento de saudar que não tenha havido crime sem castigo, e fazer votos - apesar de saber-se que de boas intenções anda o Inferno cheio - de que, a partir de agora, algo possa mudar, por razões não éticas e de higiene moral.
Em Portugal, de há muitas décadas a esta parte, tem havido bons presidentes de clube, que esgotam a sua atividade na defesa dos interesses do seu emblema, alheios ao mundo que os rodeia, e que se organizou de forma diferente, baseando a sua forma de estar não na saúde de cada árvore, mas na viabilidade da floresta. Há inclusivamente - veja-se o caso recente de Pinto da Costa - quem não perceba vagamente a razão da ausência de Portugal na Liga Conferência, razão principal para a nossa queda do ranking da UEFA! Dizia Javier Tebas, presidente da Liga espanhola, no último fim de semana, no Thinking Football organizado pela Liga Portugal na cidade do Porto, que quando a venda centralizada dos direitos televisivos chegar ao nosso futebol (previsivelmente em 2028), já será tarde demais. Na verdade, nos últimos 30 anos, o principal obstáculo ao desenvolvimento da indústria no futebol residiu na manutenção de um modelo que tornava quem andava à volta dos clubes cada vez mais rico, e estes cada vez mais pobres. Há, pois, necessidade de ir completando a mudança geracional, mas mais importante ainda a mentalidade de quem dirige e o escrutínio sobre os seus atos.
Independentemente de cores ou emblemas, os batoteiros, os oportunistas e os desonestos devem ser rejeitados pelos clubes que dizem defender, mas onde não estão para servir, mas sim para se servirem. Ou conseguimos engrenar num modelo de governação fiável, ou teremos um grande futuro atrás de nós.