Mudanças no fora de jogo?
Segundo estudo, diferença entre punir e não punir um fora de jogo passaria para metade
ACADA época, o International Board (IFAB) introduz algumas alterações às leis do futebol. A ideia base é sempre a mesma: tentar oferecer maior dinâmica e emoção ao jogo, protegendo ao máximo a integridade física dos seus principais ativos.
Uma das regras mais contestadas e que ao longo dos anos tem sido alvo de muita atenção, sem, no entanto, prestar-se a grandes mudanças, é a que regula o fora de jogo.
Não é difícil perceber porquê. Quem é fã da modalidade e domina o essencial na matéria, sabe que esta lei pode ser profundamente subjetiva, numa das suas variáveis: quando é que um jogador adiantado, que não toca na bola, deve ser sancionado por fora de jogo? Em que circunstâncias é que ele efetivamente impacta sobre a ação do adversário? Em que momento é que afeta a ação/visão do guarda-redes contrário ou a liberdade de movimentos e intervenção de qualquer outro dos seus opositores? A regra até teoriza bem o tema, mas a prática pode ser mazinha, levando a que a linha que separa legalidade de ilegalidade nem sempre seja clara.
Também nas situações em que o atacante adiantado joga a bola pode haver dúvidas. Apesar de estarmos a falar de algo bem mais objetivo, nem sempre é fácil avaliar se o tal adiantamento em relação ao adversário existe ou não. Claro que a linha tecnológica do fora de jogo veio resolver parte significativa do problema, mas apenas no futebol profissional e mesmo assim, sem terminar com as famosas especulações milimétricas. Quando a coisa se dá por um unha negra, cai o Carmo e a Trindade (mas só quando dá jeito).
Foi precisamente nesta vertente que o IFAB autorizou agora um conjunto de testes (em competições menores em Itália e Suécia), após proposta apresentada por Arséne Wenger. O antigo treinador do Arsenal e atual diretor para o desenvolvimento do futebol mundial da FIFA reuniu-se, a pedido de Infantino, com outros players e avançou ideia diferenciada: a de que só deviam ser punidos por fora de jogo os jogadores que estivessem totalmente adiantados em relação ao penúltimo defensor (o último é quase sempre o guarda-redes). Ou seja, se parte dos corpos de ambos estiver minimamente sobreposta, nunca pode haver irregularidade.
A ideia é elogiável porque, à partida, torna evidente a tentativa de contribuir para um futebol mais ofensivo e com menos infrações à Lei 11. Se os jogadores puderem estar um pouco mais à frente dos seus adversários sem serem punidos por isso, haverá com certeza menos offsides. Ganhará o adepto e ganhará o espetáculo, porque haverá mais movimentos atacantes e mais golos.
No entanto, parece-me óbvio que o ruído não deixará de manter-se volumoso quando os lances originarem velhas dúvidas. E se a diferença entre o corpo do atacante e do defesa for tão ínfima, tão pequena, que ninguém conseguirá assegurar se houve ou não infração? E se a diferença for daquelas que nem a tecnologia - que, recordemos, não está disponível nos jogos não profissionais, aos milhares a cada fim de semana - consiga garantir o que quer que seja? É que, não duvidem, vão continuar a haver situações milimétricas, em que sobreposição por um centímetro será igual a fora de jogo e não sobreposição pela mesma medida valerá golos e, quem sabe, campeonatos.
Mas não vale a pena sofrer por antecipação. O mais importante é valorizar a tentativa bem intencionada de tentar mudar algo para melhor. Isso justifica, só por si, que se aguarde serenamente pelos resultados dos testes que arrancarão nas próximas semanas. Uma coisa é certa, com esta medida o espetáculo terá tudo para ser mais atrativo.
Segundo um estudo encomendado pelo próprio Wenger (e que assentou em jogos da Premier League inglesa), a diferença entre punir e não punir passaria para metade. Ou seja, as quatro infrações que são sancionadas em média por cada jogo, passariam para duas.
Se for assim, chapeau.