Milhões das mil e uma noites
Aqui se fala da estratégia saudita para o desporto, que traz o golfe em pé de guerra, da glória do ‘Tour’ e do futuro de CR7
ARÁBIA SAUDITA, MUITA ATENÇÃO A ESTE ‘PLAYER’
— O regime de Riade está a colocar os seus bolsos sem fundo ao serviço do investimento no Desporto, tanto interna como externamente. O golfe é o alvo mais recente…
Oinvestimento da Arábia Saudita no desporto, a nível de sponsorização externa e desenvolvimento interno é, nesta altura, um dos factos mais significativos desta área da sociedade. Dizem os detratores do Reino saudita que tudo não passa de uma tentativa do regime de branquear ações que, no mínimo, deixam a desejar, em matéria de direitos humanos. Respondem os responsáveis de Riade com factos: dizem que faz parte do programa de governo a massificação do desporto e lembram que 70 por cento da população da Arábia Saudita tem menos de 40 anos.
Seja como for, os sauditas são líderes de mercado nos esports, que vale milhares de milhões de euros; assinaram parcerias com os quatro principais clubes locais, com relevância especial para o Al Hilal e o Al Nassr, até 2042, com um valor de dois mil milhões de euros; A Aramco, empresa saudita de gás e petróleo é um dos seis patrocinadores oficiais da Fórmula 1 (os mais antigos lembrar-se-ão do patrocínio histórica da escuderia Tyrrell, que tinha a palavra SAUDIA impressa nos seus bólides) e financiam várias versões do desporto automóvel, onde têm uma mulher-piloto entre as principais figuras; acabaram de comprar o Newcastle United, que deverá seguir o caminho deep pockets do Manchester City (dos Emiratos) e do PSG (do Catar); e estão a ser protagonistas da maior revolução de que há memória no golfe.
Aqui chegados, é bom lembrar que a indústria do golfe, à escala global, vale 80 mil milhões de euros anuais (um terço do PIB de Portugal…), sendo suportada mais diretamente pelos 66,6 milhões de jogadores espalhados pelo planeta, que utilizam cerca de 40 mil campos, 8940 dos quais na Europa, onde Portugal conta com 75, assimetricamente colocados (com predominância para o Algarve e para a faixa entre a Comporta e Óbidos. Valerá ainda a pena dizer que a Espanha, que tem mais 4,6 por cento da população que Portugal, tem 6,6 vezes mais campos, 497).
O que os sauditas fizeram no golfe, dominado, ao nível do topo competitivo, pela PGA, baseada nos Estados Unidos e pelo DP World Tour, com sede na Europa, foi criar uma competição alternativa, o LIV Golf, uma espécie de Superliga, se quisermos uma analogia futebolística, que dispôs de um investimento inicial de dois mil milhões de euros e já fechou contrato com muitos dos melhores jogadores do Mundo, estando outros na calha: Phil Mickelson, Bryson DeChambeau, Dustin Johnson, Louis Oosthuizen, Patrick Reed, Lee Westwood, Richard Bland, Ian Poulter, Laurie Canter, Hennie Du Plessis, Oliver Fisher, Sergio Garcia, Talor Gooch, Branden Grace, Justin Harding, Sam Horsfield, Matt Jones, Martin Kaymer, Chase Koepka, Jinichiro Kozuma, Pablo Larrazabal, Graeme McDowell, Viraj Madappa, Jediah Morgan, Kevin Na, Shaun Norris, Andy Ogletree, Wade Ormsby, Adrian Otaegui, Turk Pettit, James Piot, David Puig, JC Ritchie, Charl Schwartzel, Travis Smyth, Ian Snyman, Hudson Swafford, Hideto Tanihara, Peter Uihlein, Scott Vincent, Bernd Wiesberger, Blake Windred, Kevin Yuan.
Por exemplo, para termos um valor de referência, Dustin Johnson recebeu um prémio de adesão ao novo circuito de 120 milhões de euros e cada vitória nos oito torneios anuais (cinco nos Estados Unidos, um no Reino Unido, na Tailândia e na Arábia Saudita) valerá ao vencedor quatro milhões de euros. Se levarmos em linha de conta que Justin Thomas, vencedor do último Major, levou para casa 2,5 milhões de euros, percebe-se a ferocidade da concorrência introduzida pelo circuito saudita.
A reação do PGA e do DP World Tour não se fez esperar, banindo todos aqueles que aceitaram jogar no LIV das suas competições, seguindo-se uma batalha judicial que deverá acabar com um veredicto favorável aos jogadores trânsfugas.
Este episódio está a ser a cereja no topo do bolo desta incursão, de recursos ilimitados, da Arábia Saudita no desporto internacional, que está a mexer com inúmeros interesses instalados…
O golfista Dustin Johnson
BICICLETA É RAINHA NO REINO DA DINAMARCA
— Extraordinário o acolhimento que os dinamarqueses deram ao Tour, ‘ex-libris’ de uma modalidade que tem sabido reinventar-se e deixar as polémicas do ‘doping’ para segundo plano
QUEM gosta de desporto não ficou indiferente, por certo, à adesão dos dinamarqueses ao troço do Tour de France, composto por três etapas, disputado no seu país. A páginas tantas, a ideia que deu foi a que a Dinamarca saiu em peso à rua para celebrar a Grande Boucle, um evento icónico que há muito transcendeu as fronteiras do Hexágono. Ao mesmo tempo, e apesar dos casos pontuais que continuam a ensombrar a modalidade, merece análise a forma como o ciclismo se reinventou, através de uma organização superprofissional, que lhe permitiu não só granjear patrocinadores como ainda arrastar multidões. Pena é que esta evolução não tenha chegado a Portugal e que a nossa Volta esteja nas linhas mais baixas da tabela de importância das corridas de bicicleta. Se à afirmação de João Almeida, o verdadeiro sucessor de Joaquim Agostinho, acompanhado por uma série de bons ciclistas no pelotão internacional - Rui Costa, Nélson Oliveira, Rúben Guerreiro… - juntarmos a tradicional afición dos portugueses pelo desporto velocipédico, é inevitável que saiba a muito pouco o atual panorama nacional.
Nova etapa para Cristiano Ronaldo?
CRISTIANO COM VONTADE DE NOVA MUDANÇA
— CR7 está desconfortável num clube que o venera, mas que não lhe dá condições para competir verdadeiramente por títulos. Adivinha-se nova etapa na vida de Cristiano…
TAL como há um ano, quando começou a ser insistentemente badalada a saída de Cristiano Ronaldo da Juventus, estamos perante novo bombardeamento informativo, ainda que por vias oficiosas, quanto à iminente partida do capitão da Seleção Nacional do Manchester United. Puxando a cassete atrás (as cassetes eram uma coisa que gravava música e/ou imagens e se liam num aparelhómetro, algures no século passado), mais ou menos por esta altura em 2021, a notícia era que CR7 ia reforçar o Manchester City, sendo divulgadas (e nunca desmentidas), inclusivamente, conversas entre o madeirense e Pep Guardiola. Reza a lenda que foi por intervenção de Alex Ferguson que Cristiano Ronaldo mudou agulha, em nome da história e à última hora, do Etihad para Old Trafford. Disse-o na altura e repito-o agora, que embora a parte sentimental tivesse sido salvaguardada, o regresso de CR7 a uma casa onde tinha sido muito feliz foi um erro, essencialmente por falta de enquadramento. Acabou por ser o português a andar com a equipa às costas, forçando a passagem à fase a eliminar da Champions, mas mostrando-se impotente para apagar todos os fogos que grassavam no Teatro dos Sonhos. Tivesse CR7 optado pelo City e, perante a produção ofensiva da equipa de Guardiola, seria normal que o português acabasse a época com mais de cinquenta golos. Porque, e isso viu-se nos red devils, Cristiano mantém intacta a sua fabulosa e inigualável capacidade goleadora, traduzida no facto de, no Mundo, desde que há futebol, ninguém ter marcado mais golos em jogos oficiais seniores do que ele.
Pelo andamento da carruagem, olhando para os reforços do City e do Liverpool, para a sede com que o Tottenham e o Newcastle estão a ir ao mercado e, também, para vontade do novo dono do Chelsea mostrar serviço, a incapacidade do Manchester United em dar um murro na mesa e afirmar autoridade é quase chocante. Creio que se CR7 continuar red devil, não jogando a prova onde é rei e senhor, a Liga dos Campeões, não será nem bom para ele, nem bom para o clube.
Em Espanha e Inglaterra têm dado como certo o interesse de três clubes em Cristiano Ronaldo; o Bayern para suprir a anunciada saída de Lewandowsky; o Chelsea para poder aproximar-se de City e Liverpool, dominadores da época passada; e o PSG, caso os parisienses consigam despachar Neymar. Dos três, o Bayern cairia como sopa no mel em CR7 e vice-versa, permitindo-lhe a entrada numa engrenagem oleada e afinada que seria garante de rendimento imediato. Mas nenhuma das outras opções é, obviamente, desinteressante. Antes pelo contrário.
Aguardemos, porque este caso promete ser dos mais intensos e interessantes do mercado de verão de 2022 do futebol internacional.