Mercado de inverno: racionalidade nas decisões

OPINIÃO05.02.202305:30

O futebol deixou de ser desporto e tornou-se em espetáculo e quem teve esta perceção mais cedo está a tirar proveito dessa estratégia

JANEIRO trouxe-nos um mercado de Inverno muito animado, como já não tínhamos há alguns anos. Num investimento total de 1.600M€ (+33% que no ano anterior), a Premier League continua a ser a liga dominante com 830M€.

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PORQUÊ INGLATERRA?

ANO após ano o futebol continua a surpreender-nos com valores de transferências consecutivamente superiores aos anos anteriores. Muitos diziam que a iminente recessão que podemos estar a atravessar, poderia representar um travão nesta tendência. Tal não aconteceu nem deverá suceder no futuro próximo, por um motivo que tenho abordado com alguma frequência: o futebol deixou de ser um desporto e tornou-se num espetáculo e quem teve esta perceção mais cedo, acaba por estar a tirar proveito de toda a estratégia que tem vindo a seguir. Naturalmente que estou a falar do contexto inglês. 

A Premier League é um produto de excelência: estádios cheios, incerteza nos resultados, competitividade e intensidade são alguns dos ingredientes que tornam este campeonato muito mais atrativo. Existe ainda outro fator determinante que permite que a liga inglesa se esteja cada vez mais a destacar das restantes: a cultura desportiva ou a forma como os adeptos olham para os seus clubes é totalmente diferente dos restantes países. E isto permite atrair cada vez mais investidores por diferentes motivos, mas todos eles assentes no mediatismo que o futebol proporciona. Para os adeptos, o importante é que os seus clubes mantenham o seu trajeto, consigam ter a capacidade de ser competitivos e que lhes permitam assistir a um bom espetáculo semana após semana. Já os investidores, têm a perfeita noção de que, para rentabilizarem e tirarem proveito do seu investimento, devem respeitar o contexto, a tradição e história dos clubes onde estão a investir. Conseguindo-se unir estes pressupostos, cria-se uma capacidade de crescimento enorme e que se reflete na forma como os clubes ingleses tiram proveito do mercado, seja na rentabilização conjunta do produto que estão inseridos, quer na capacidade de atraírem os melhores executantes e treinadores.
 

Enzo Fernández foi, para Diogo Luís, transferência que nenhum clube podia recusar


BENFICA: UM BOM MERCADO 

OBenfica acabou por ser um dos grandes agitadores do mercado, mas do lado das vendas. Enzo foi, ao mesmo tempo, o médio, argentino e também o jogador mais caro de sempre a entrar na Premier. Impressionante valorização em apenas 6 meses. Muito mérito para a forma como o Benfica facilitou a sua adaptação a uma nova realidade e, sobretudo, pela capacidade de Roger Schmidt em potenciá-lo no relvado. Claro que o Mundial trouxe o carimbo de qualidade final, o que o tornou aos olhos dos grandes clubes um jogador diferenciado e decisivo. 

A gestão por parte do clube da luz deste difícil dossier também foi muito positiva. Criaram condições para o jogador permanecer sem ser penalizado financeiramente, mas este mostrou-se intransigente em querer sair no imediato. Nesse caso, a direção e equipa técnica decidiram bem, por vários motivos: o primeiro é que se trata de uma transferência magnífica e que nenhum clube português pode ou deve recusar; o segundo e talvez o mais decisivo, é que numa fase em que tudo corre bem e o ambiente é positivo, todos remam para o mesmo lado, pelo que a permanência de Enzo contra a sua vontade poderia transformar-se num fator negativo e de contágio incontrolável. Mas o mercado do Benfica foi muito mais do que Enzo.

A chegada de Gonçalo Guedes foi uma cartada fantástica. Trata-se de um jogador que pode jogar em todas as posições, que traz imprevisibilidade, explosão, intensidade, experiência e que conhece a realidade portuguesa. Todas estas características encaixam na perfeição na forma de trabalhar de Roger Schmidt, que sem Enzo terá de criar uma dinâmica coletiva diferente. Outros pontos positivos foram a redução do plantel e de alguns dossiers dos considerados excedentários, assim como a chegada de Tengsted e Shelderup que são jogadores que encaixam na política desportiva (e financeira) do Benfica. Tendo em conta todo o contexto e as oportunidades e obstáculos que se foram colocando, o mercado foi positivo para o Benfica. 
 

FC PORTO: ESTABILIDADE

OFC Porto, em minha opinião, foi outro dos grandes vencedores do mercado de inverno. Não mexeu, não teve instabilidade e não teve o foco mediático em si. Conseguiu passar ao lado de toda a turbulência que este período acaba por trazer. Sérgio Conceição conseguiu trabalhar com tranquilidade, com todos os jogadores concentrados e focados apenas no FC Porto. Ainda assim, não deixou de começar a preparar a próxima época com a contratação de Fran Navarro, que no Gil Vicente demonstra ser muito acima da média, restando apenas a dúvida de como será a adaptação a uma realidade diferente.
 

SPORTING: GERIR COM CONVICÇÃO 

Asaída de Porro marca o mercado do Sporting. Um jogador com qualidade muito acima da média, que se potenciou e valorizou na equipa de Rúben Amorim. Acredito que dentro da estrutura ninguém quereria vender o jogador. Mas a verdade é que o valor da cláusula foi alcançado e o compromisso estabelecido com o jogador foi assumido. Este é o exemplo do que deve ser uma gestão: racional, transparente e sincera. Porro saiu para um campeonato de maior dimensão, com condições substancialmente superiores. O Sporting vê-se privado de um grande ativo, mas cumprindo a sua palavra e dando um exemplo para os restantes jogadores, permitindo que a sua administração reforce a credibilidade. Realço a capacidade de negociação que permitiu uma transação de 47,5M€ (acima da cláusula) e 15% do passe de Edwards. Em alternativa, a entrada de Bellerín, no imediato, acrescenta qualidade e transmite uma mensagem importante para os adeptos. Por último, o investimento de 7,5M€ em Diamonde é uma clara convicção da administração e treinador no potencial do jogador. Sinceramente é assim que se devem gerir os clubes: com um caminho definido, com convicções as vezes difíceis de explicar e com a responsabilidade para assumir os erros e as conquistas.
 

SC BRAGA 

SC Braga ganha cada vez mais importância no panorama nacional. A venda de Vitinha é mais um exemplo da forma como o clube se organiza e se projeta. Necessita de continuar a evoluir e ter a noção da importância das competições europeias, para a sua valorização. Será importante complementar o desenvolvimento desportivo e financeiro com a presença de público, porque são os adeptos que validam o crescimento das instituições. No geral, um bom mercado com as aquisições de Pizzi e Bruma que serão mais duas soluções para Artur Jorge, que ficou sem a revelação Vitinha.
 

A VALORIZAR

Palhinha. Mais uma enorme exibição do médio do Fulham que jogo após jogo tem vindo a reforçar o seu estatuto no futebol inglês.

João Mário. Em menos de uma semana 4 golos marcados. Está a fazer uma época incrível. É atualmente o melhor marcador do campeonato.
 

A DESVALORIZAR

Liverpool. Mais uma derrota por três golos frente ao Wolverhampton. O comboio da Liga dos Campeões fica mais longe.