Mentir é feio
Rúben Amorim e Sérgio Conceição — tão parecidos; 25 de Abril sempre Alegre; Romário, esse é o cara
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A sinceridade é um bom princípio numa relação, pessoal ou profissional, mas o excesso de partilha, explicam os psicólogos, pode provocar insegurança e ansiedade sobretudo pelo perigo de se entrar em contradição ou ver a informação revelada ser utilizada como futura arma de arremesso. Quando Rúben Amorim decidiu, dia 11, garantir que «não vai haver entrevistas ou acordos com o treinador do Sporting», além de se mostrar «apenas focado como sempre em defender o clube» que representa, referindo-se a notícias sobre o interesse do Liverpool, o técnico leonino, na ânsia de ser sincero, partilhou em demasia e não honrou as próprias palavras. Sem eufemismos: mentiu para… inglês ver.
Mesmo que não tivesse informado Frederico Varandas e Hugo Viana — que com ele formam o triunvirato responsável pela mudança de face do leão —, Amorim seria livre de viajar para Inglaterra para conversar com o West Ham ou outro clube. Apesar de ter contrato por mais dois anos, a cláusula de rescisão de €20 M digamos que ratifica a decisão. Poder… podia, mas deveria ter voado para Londres? Com o título a seis pontos de distância, enquanto pede aos jogadores concentração no grande objetivo, Amorim não foi coerente com o que transmite no balneário e não deu bom exemplo ao grupo, como admitiu no sábado.
Por muito bom comunicador que se seja, se a mensagem não for verdadeira e coerente tudo não passará de um embuste.
A dois dias das eleições, o FC Porto anunciou a renovação de Sérgio Conceição, informação ilustrada com aperto de mão entre o técnico e Pinto da Costa. «Não é no final de um mandato que se vai renovar com um treinador, isso é óbvio para todos», dissera SC, a 2 de fevereiro, uma entre várias declarações ao longo dos últimos meses em que procurou distanciar-se da disputa eleitoral, não obstante a presença com evidente significado na apresentação da candidatura de PC.
O agora antigo presidente dos dragões, em recente entrevista, afinara pelo mesmo diapasão: «Algum treinador de algum clube vai renovar sem saber com quem vai trabalhar? Não quero envolver nenhum profissional de futebol nesta matéria.»
Por muito bom comunicador que se seja, se a mensagem não for verdadeira e coerente tudo não passará de um embuste.
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«O meu sentimento é o sentimento de que valeu a pena lutar contra o fascismo, valeu a pena lutar pela liberdade e pela democracia, valeu a pena, já depois do 25 de Abril, lutar contra a deriva da revolução, por uma democracia constitucional», eis excerto de entrevista de Manuel Alegre a A BOLA, palavras que hoje, 50 anos depois de termos visto a cor da liberdade, continuam a fazer sentido.
Como escreveu Alegre em Trova Do Vento Que Passa, «mesmo na noite mais triste em tempo de servidão, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não». Sempre.
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Romário volta aos relvados para cumprir o sonho de jogar com o filho, Romarinho, no América, clube do coração. Aos 58 anos, senador com trabalho elogiado, após ter sido um dos melhores avançados da história do jogo, continua a ser personagem fascinante.
«Quando eu nasci, o Papai do Céu apontou o dedo e falou: esse é o cara», disse um dia, coberto de razão, acrescento eu.