Martínez sim, porque não?
Martínez tem ideia ofensiva, de posse e domínio, que junta a uma transição letal
TENHO lido variadas opiniões negativas sobre Roberto Martínez, aparentemente o sucessor de Fernando Santos na Seleção. Não sei se há algum tipo de xenofobia associada (e potenciada por se tratar de um espanhol, um velho inimigo) - algo de que os portugueses se orgulham de não existir por cá - ou apenas expetativas (excessivamente altas) de que um Zidane aceite tomar conta da equipa das quinas, porém, mais do que tudo, parecem-me análises precipitadas. Não só porque com naturalizados numa Seleção que até já teve treinadores brasileiros tal é desajustado, como também não existe ninguém consensual (nem mesmo Mourinho) além-fronteiras. Mais, quantos portugueses há com o perfil ofensivo que tem o espanhol? Isso conta e muito.
Também o escrevi aqui: não é obrigatório um grande nome, apenas um que tenha boas ideias, e estas se enquadrem no atual modelo do futebolista indígena, convencendo-o. A verdade é que, nisso, Martínez acerta em praticamente todas as alíneas: filosofia moderna e de ataque, que assenta na posse e no domínio, e é ao mesmo tempo capaz de enquadrar pressão alta agressiva, forte reação à perda e transição letal. É ainda versátil, tendo utilizado vários esquemas: 4x4x2, 4x3x3, 4x2x3x1 e ainda o 3x5x2 e o 3x4x3 de que abusou na Bélgica. É que o espanhol olhou para as debilidades defensivas dos Diables Rouges e recuperou a linha de três implantada no Wigan, na segunda experiência inglesa. Cirúrgico.
A imagem que fica do Qatar é, contudo, má. A eliminação precoce resultou muito da tensão entre jogadores, por sua vez provocada pelo envelhecimento na defesa e pelo momento de figuras como Eden Hazard, o que deixa uma dúvida pertinente: será capaz de contrariar estatutos e provocar roturas necessárias numa equipa com pontos de contacto com a belga? Terá aprendido a lição?