Mais uma!

OPINIÃO30.03.202206:30

Com dois tiros de Bruno, Portugal estará no Catar: 12.ª qualificação seguida desde 2000, quinto Mundial para Ronaldo, 8.ª fase final para Fernando Santos

D ESTA vez foi Bruno Fernandes a decidir - com dois tiros esplêndidos - e a cobrir-se de glória num jogo que ficará gravado a letras de ouro na carreira do médio red devil. Assistido pelo colega de equipa Cristiano Ronaldo no lance do 1-0, e pelo rival Diogo Jota no lance do 2-0 (uma grande execução técnica!), Bruno deitou para trás das costas o ferrete de craque avesso a brilhar na Seleção e materializou uma vitória justa de Portugal num jogo duro, intenso e raramente bem jogado. Apesar de nenhum jogador da Seleção se encontrar em grande momento de forma, creio que nunca esteve em  dúvida a superioridade da equipa nacional e só com muito boa vontade se poderá estabelecer algum paralelo entre a final de ontem e aquela que a Itália perdeu em Palermo com o mesmo adversário. Os portugueses mostraram aos futebolistas da  Azzurra como se vence uma equipa compacta e obstinada e pode dizer-se que, no somatório das finais com turcos e macedónios, a Seleção mereceu amplamente a qualificação.
O Mundial do Catar perdeu ontem dois craques como Mohamed Salah e Zlatan Ibrahimovic, mas terá o lendário Cristiano Ronaldo como cabeça de cartaz ao lado do lendário Lionel Messi, e de Kylian Mbappé, Robert Lewandowski e Neymar. Palmas para Fernando Santos por ter conseguido mais uma qualificação (a quinta em seis possíveis), apesar de a Seleção continuar a dar a ideia de ficar aquém do seu potencial; e uma menção muito especial para os integrantes da verdadeira geração de ouro presentes no Dragão. Falo de Rui Patrício, Pepe, José Fonte, Cédric Soares, Raphael Guerreiro, Danilo Pereira, João Moutinho, William Carvalho e Cristiano Ronaldo, todos campeões europeus em 2016: seria uma crueldade que não tivessem possibilidade de se despedirem do futebol internacional - se for essa a sua vontade, bem entendido - numa competição como o Mundial. Uma palavra final para o caloroso público do Estádio do Dragão, inexcedível no apoio à Seleção ao longo das duas finais. Foi ali que Portugal ganhou a sua única final caseira (1-0 à Países Baixos na Liga das Nações) e é ali que Portugal deverá jogar com mais frequência.
Carlos Queiroz, outro treinador português não propriamente consensual entre críticos e adeptos, não conseguiu o apuramento com o Egito de Mohamed Salah. Ontem, em Dakar, numa réplica fiel da final da Taça de África (em Yaoundé, a 6 de fevereiro), os egípcios foram novamente batidos pelo Senegal no desempate por penáltis (1-3), com o último a ser novamente apontado por Sadio Mané. O Catar perde uma estrela de primeira grandeza com a eliminação de Salah (desperdiçou o seu penálti) e Queiroz falha o seu quarto Mundial consecutivo por um triz, num jogo marcado pelo comportamento inaceitável dos adeptos senegaleses, que passaram o jogo a massacrar os jogadores egípcios com raios laser, nomeadamente no shoot out final. Foi um episódio vergonhoso e será um escândalo se a FIFA o deixar passar em claro.  Queiroz não conseguiu passaporte para aquela que seria a sua nona  grande competição internacional (ao serviço de cinco seleções), deixando a primazia para Fernando Santos (oito). Com Paulo Bento já apurado com a Coreia do Sul (perdeu ontem nos Emiratos Árabes Unidos, 0-1), Portugal terá dois treinadores no Catar. Menos mal.
 

Bruno Fernandes fez os dois golos que garantiram presença de Portugal no Catar


O QUARTO RESISTENTE

P ORTUGAL cumpriu a sua obrigação - viste como se faz, Itália? - e estará no Catar. A Macedónia não podia tirar-nos o oitavo Mundial, sexto consecutivo desde 2002. Formamos com a Alemanha, a Espanha e a França o quarteto de seleções europeias que não falharam uma única fase final (Mundiais e Europeus) no séc. XXI. Elite, portanto. No nosso caso, vamos em 12 qualificações consecutivas (seis Mundiais, seis Europeus) e já passou quase um quarto de século desde a última ausência (Mundial de 1998, França). Fernando Santos é o primeiro treinador a conduzir Portugal em dois Mundiais e a dois Europeus, sem esquecer que também nos liderou na  Taça das Confederações de 2017 e na final four da Liga das Nações de 2019. Se juntarmos as duas fases finais em que esteve com a Grécia (Europeu 2012 e Mundial de 2014), concluiremos que o engenheiro disputa no Catar a sua NEGRITO oitava competição internacional (!!!), o que faz dele o treinador mais experiente do torneio - pode ver no quadro o registo das principais seleccões europeias no que toca a apuramentos.


RONALDO: DOZE FASES FINAIS!

C RISTIANO apura-se para o seu quinto Mundial (como Messi, vai juntar-se aos recordistas Antonio Carbajal, Lothar Matthäus, Gigi Buffon e Rafael Marquez), ele que já era o único jogador com cinco Europeus, e completará no Catar a sua 12.ª fase final com Portugal (13.ª, se considerarmos o Torneio Olímpico de 2004), já que também disputou a Taça das Confederações de 2017 (Rússia) e a Liga das Nações de 2019 (Porto). Lembre-se que CR7 marcou golos (um total de 26 em 49 jogos) em todas as anteriores presenças, um recorde absoluto no futebol internacional. Quanto ao seu arquirrival Lionel Messi, vai para a 11.ª fase final com a Argentina (12.ª, se considerarmos o Torneio Olímpico de 2008). Refira-se que Cristiano foi o melhor marcador da Seleção na campanha de apuramento (6 golos), o que acontece pela sexta vez consecutiva, sétima no total. Normal para quem marcou 12 dos 17 golos da Seleção nas três últimas grandes provas...  
O central Pepe disputará o seu quarto Mundial e a sua 10.ª fase final (total: 32 jogos, 4 golos), enquanto o médio João Moutinho (31 jogos) e o keeper Rui Patrício (28 jogos) correm para o terceiro Mundial e para a 9.ª fase final. Este é o quarteto com mais presenças e mais jogos em grandes competições na história da Seleção Nacional, a grande distância de todos os outros. O mais próximo é William Carvalho, com 6 fases finais (serão sete se for ao Catar) e 19 jogos. Note-se que entre os cinco primeiros só Pepe não foi formatado pelo mestre Aurélio Pereira, o que comprova a importância ímpar na história do futebol português do homem que moldou Ronaldo, Figo, Futre e Nani, entre outros. O Catar pode marcar a despedida dos campeões europeus de 2016, a verdadeira geração de ouro (já sem Nani, Quaresma, Adrien e, possivelmente, João Mário) e o passar de testemunho para a fornada de Jota, Bruno, Cancelo, Bernardo…