Lucidez

OPINIÃO19.10.201804:24

A entrevista de José Peseiro publicada em A BOLA de sábado foi um dos maiores exercícios de lucidez a que assisti nos últimos anos. O treinador do Sporting disse algumas coisas que podem desagradar a uma boa franja de adeptos do clube mas que são verdades incomensuráveis. O Sporting, por todos os motivos e mais alguns, é um gigante do desporto, mas um gigante que ganha pouco no futebol e que está a levantar a cabeça depois da página mais negra da sua história.

Após anos de investimento feroz, esta época os leões não têm os mesmos recursos dos rivais, pois não está na Champions e não dispõe das verbas daí provenientes; alguns dos seus principais ativos saíram sem que os leões tenham sido compensados financeiramente - Frederico Varandas está a tentar solucionar o problema; já antecipou e gastou uma parte significativa do dinheiro proveniente dos direitos televisivos e a formação já não tem a qualidade de excelência e exceção de outrora. E, nos leões, a formação sempre foi o principal recurso de qualidade e foi ela que criou os jogadores de referência da equipa principal, pelo menos nos últimos dez anos.

José Peseiro foi lúcido mas arriscou e sabe que arriscou porque tem a consciência de que, malgrado todos os condicionalismos, a fasquia de exigência dos adeptos está sempre em patamares elevadíssimos. Os primeiros focos de contestação surgiram após a derrota em Portimão e se surgir outro desaire os fantasmas voltarão a agitar-se.

Em caso de novo dissabor, será então altura de subir ao palco Frederico Varandas. Sabe-se que Peseiro não foi escolha deste ex-diretor clínico, mas é sabido que alguns dos fatores explicitados pelo treinador na entrevista também foram explanados pelo agora presidente na campanha eleitoral. Frederico Varandas é capitão do exército, mas se a nau leonina abanar pedem-se-lhe qualidades de categorizado marinheiro porque nunca se encontra o porto de abrigo desejado com o barco sempre a mudar de rota.