Tudo o que disse Vítor Bruno: no fio da navalha, a liderança em campo e a revolta que é preciso capitalizar

INTERNACIONAL19:51

Treinador do FC Porto assumiu as responsabilidades pelos maus resultados, aceita que momento é delicado e compreende a contestação dos adeptos. Acredita que os jogadores estão vinculados à ideia de ganhar ao Anderlecht, algo que o clube nunca conseguiu na casa dos belgas

- De que forma projeta esta partida?

- O nosso objetivo é terminar esta jornada com sete pontos, que já devíamos ter nesta altura. Queremos entrar forte, mas humildes e respeitando o adversário, sem nunca deixar de olhar para aquilo que somos e impondo aquilo que é nosso.

- Na partida para a Bélgica, o presidente disse que o Vítor Bruno tinha todo o apoio da Direção. Sente isso?

- Terá de ser o nosso sentimento. Viver o momento, senti-lo e tentar transformar o nosso último jogo e a série recente em alguma revolta. Não uma revolta contra ninguém, mas revolta connosco perante o que não temos feito. Sinceramente vi os títulos, os rodapés, não ouvi e a forma às vezes é diferente de ler o conteúdo. O presidente fez o que achava que tinha de fazer. É o líder máximo do clube, respeito-o muito. É ouvir e operacionalizar o que diz, pois é quem defende intransigentemente os interesses do clube. Ele numa esfera, eu noutra. Tentamos fazer o melhor, alinhados, sintonizados, de mão dada e querer muito que o Porto ganhe.

- Mas sente ou não esse apoio?

- Sim, sim.

- Tem havido muita contestação ao seu trabalho, e até precisa de segurança providenciada pelo clube. Como é que tem vivido estes dias?

- Faz parte da vida de treinador. Sou muito prático, porque sei a minha profissão. Tenho cinco meses de experiência, mas tenho uma vida desde que nasci ligado ao futebol. Por isso não me espanta. Quando não aparecem resultados, sei em quem cai a pressão, em quem é colocado o rótulo. O que quero é ver uma equipa contente depois do jogo, de sorriso no rosto, porque os jogadores merecem, porque trabalham muito, são honestos, sérios e apaixonados pelo treino. É isso que me dói mais. Não é por mim, que desvalorizo muito o que recai sobre mim. Não tenho problema nenhum. É óbvio que detesto perder, detesto empatar. Sou viciado em ganhar. Mas não tanto por mim, mas por eles, que merecem ganhar.

- O FC Porto nunca ganhou na casa do Anderlecht. O que tem de fazer para inverter isso?

- Tem de ser um propósito a guiar-nos. Fazer o que nunca foi feito. O FC Porto já jogou quatro vezes e nunca ganhou aqui e nunca fez golos. Queremos deixar marca positiva e não negativa. Somos muito positivos, acreditamos muito no nosso trabalho, temos uma crença inabalável no que fazemos todos os dias. Há ciclos. Tocou-nos a nós, tudo o que aquilo aconteceu. Em Moreira um golo de um lance inofensivo, um penálti... Não há lances claros para fazer golo, mas toca-nos a nós.

- Inicialmente dizia-se que este seria um ano de transição, até depois das eleições foi assim entendido. Portanto, reforçamos, entende este nível de contestação?

- São questões políticas, sinceramente. A parte desportiva é demasiado importante para me perder nisso. A contestação é normal, o FC Porto não está a ganhar. Tem de recair em alguém. Quem é o rosto visível? É o treinador. E sou eu o responsável, não fujo a nada disso. O grande responsável sou eu, não são os jogadores nem a direção. Assumo por inteiro. Agora, durmo de consciência tranquila, porque faço tudo em prol do FC Porto e para que o FC Porto ganhe, para ter uma voz forte em competições internas e europeias.

- Em vários jogos da Liga Europa notou-se falta de concentração da equipa, também visível em termos defensivos. Por que é que isso acontece? Arrepende-se do onze que apresentou em Moreira de Cónegos?

- Só me arrependo daquilo que não faço. Ponto. Começamos a tocar em demasia no que é passado e tocar pouco no futuro. É um jogo importante, temos 4 pontos, estamos no fio da navalha, não há que esconder. Mas não é nenhum drama amanhã... queremos muito ganhar! Agora a prova não acaba manhã. Temos 4 jogos, queremos muito ganhar amanhã e fazer sete pontos. É isso que nos guia. Como temos de fazer, como temos de atuar, como sentimos, como ferve o ambiente, como controlar o Anderlecht... Isso é o que nos preocupa, foi isso que trabalhámos nestes três dias. Tristes, revoltados, magoados, doridos. Sim, três dias difíceis, mas amanhã... o bom do futebol é que há sempre para nos reinventarmos e procurar um desafio diferente. Amanhã é um desafio muito importante para nós. Queremos muito atacar, atacar de forma séria, apaixonada e honesta e com sentido muito claro: ganhar. Essa foi a nossa maior preocupação, foi vincular os jogadores a um pensamento único: a vitória.

-Que sinais os jogadores lhe têm dado para acreditar que é possível dar a volta?

-É a qualidade que eles têm!

- Aponta-se a ausência de um líder no relvado, de uma voz forte. Concorda?

- Concordo que têm de aparecer novas lideranças no clube, no balneário. Eles sabem disso. Independentemente de terem 17 anos, como o Mora, ou 37, como o Marcano. Independentemente da idade, da experiência que possam ter, têm de aparecer lideranças novas, que agarrem a equipa em alguns momentos. Obviamente que isso não se consegue de um dia para o outro. A equipa é nova, muita gente nova que não começou no momento certo, no ponto de partida. Isso vai-se conquistando, vai-se ganhando. O tempo não há e urge ganhar e é isso queremos fazer.