Liga Portugal ou Brasileirão, qual o melhor?
JAM Sessions é o espaço de opinião semanal de João Almeida Moreira, correspondente de A BOLA no Brasil
Da mesma forma que comparar Pelé com Maradona é árduo por falarmos de tempos diferentes, contrapor ligas europeias a sul-americanas é espinhoso porque falamos de espaços diversos — a UEFA não classifica o Brasileirão, nem a Conmebol avalia a Liga Portugal.
Entretanto, para respondermos à pergunta do título, socorremo-nos de números: segundo o site Give Me Sports, que usa o Opta, método que analisa 13000 equipas todas as semanas, a Liga Portugal ocupa o sexto lugar mundial, atrás só do costumeiro top-5, e o Brasileirão, melhor competição não europeia, o décimo.
Já o Team Form, que acumula dados de 700 ligas no mundo inteiro e garante usar um «raro e sofisticado algoritmo», é a Série A do Brasil, sexta, que leva a melhor sobre a liga portuguesa, sétima, ambas logo atrás do quinteto de sempre.
Segundo o Transfermarkt, que avalia jogadores do mundo todo, Sporting, FC Porto e Benfica têm planteis na casa dos 300 milhões de euros, bem acima do trio brasileiro da frente, composto por Palmeiras, Flamengo e Botafogo, entre os 213 e os 136 milhões.
Porém, o quinto elenco mais caro do país europeu, o do Famalicão (o SC Braga é o quarto, claro), seria apenas o 16.º no país americano.
Três conclusões, portanto. A primeira é que, se jogassem no Brasil, os três grandes de Portugal seriam, na teoria, as equipas mais fortes — o que não quer dizer, na prática, que o vencessem porque primeiro teriam de se adaptar ao calendário insano, às viagens continentais semana sim, semana não, às torcidas ainda mais emocionais, aos relvados maltratados, etc.
A segunda é que o Brasileirão é, claro, mais competitivo do que a Liga Portugal, basta ver o aproveitamento de pontos altíssimo dos campeões da segunda por comparação com os do primeiro.
A Liga Portugal assemelha-se mais a uma prova de ginástica olímpica em que um mínimo passo em falso — leia-se um empate em casa ou uma derrota fora com clubes pequenos — pode significar a diferença entre o ouro e o fracasso. Já o Brasileirão é uma espécie de Tour: longo, cruel, interminável, inclemente, cansativo, doloroso, mas em que um dia mau — leia-se uma derrota com um dos muitos clubes médios — não significa, necessariamente, a perda da camisola amarela, afinal, há mais etapas de montanha, mas contra relógios, mais oportunidades de retificação.
E a terceira conclusão é que a Liga de Clubes, melhor ou pior, vai otimizando, quase ao limite, o produto que tem em mãos. Enquanto a CBF desperdiça, quase ao limite, o descomunal potencial do Brasileirão.