Lendas

OPINIÃO28.06.201904:05

Esta semana, Cristiano Ronaldo surpreendeu meio mundo ao colocar uma notável fotografia na conta pessoal do Instagram, lado a lado, com Michael Jordan. Que me lembre, é a primeira vez que Ronaldo e Jordan se cruzam com direito a fotografia, e confesso que sempre me fez alguma confusão que ninguém tivesse conseguido promover, e concretizar, mais cedo o encontro entre estas duas autênticas lendas do desporto mundial.

Jordan, o mágico do basquetebol norte-americano, absolutamente mítico e histórico como maior figura de sempre da NBA - e para a minha geração, então, verdadeiramente o maior (!) de uma das maiores indústrias desportivas profissionais do planeta! - e Cristiano, ainda no ativo, como maior figura do futebol atual, superando, na minha opinião, Messi pela capacidade de competir em palcos tão diferentes e pela diversidade de sucessos já obtidos em tão diferentes equipas. Sem esquecer (porque é sempre bom lembrar os mais distraídos) que Cristiano se transformou no maior goleador da história do Real Madrid, reconhecido como maior e mais bem sucedido clube do mundo, e já logrou até ser campeão da Europa pela Seleção de um pequeno país como o nosso.

Ronaldo e Jordan, porventura ainda os únicos atletas mundiais com contrato vitalício com a Nike, o mostro norte-americano de equipamentos desportivos, representam, no fundo, o que o desporto de competição promove como essência - ganhar, tentando ser o melhor. Foi o que Jordan fez toda a vida, é o que Cristiano Ronaldo tem vindo a fazer.

Mas o que a foto de Cristiano Ronaldo com Michael Jordan me fez foi remeter-me ainda para outro momento de verdadeira inspiração, este de outro português de sucesso como é Carlos Queirós, o treinador que deu ao futebol português os primeiros títulos de dimensão mundial (nos campeonatos de sub-20 de 1989 e 1991) e está agora a mostrar, mais uma vez, competência ao serviço da seleção da Colômbia, que joga (até ver, com êxito) a Copa América.

Pois Queirós, que foi o número 2 de Alex Ferguson anos suficientes no Manchester United e com trabalho suficientemente reconhecido para ter saído (para o Real Madrid) e voltado (e recebido de braços abertos em Old Trafford), teve a premonitória frase diretamente para o jornalista que assina esta página: «Ronaldo poderá ficar para o futebol como Jordan ficou para a NBA».

Ao ver a foto de Ronaldo com Jordan, juro que me deu enorme vontade de recordar as sábias palavras de Queirós, porque se hoje é fácil elogiar a maior estrela portuguesa de sempre, bem mais difícil era dizer o que Queirós disse em fevereiro de… 2007, quando Ronaldo ainda não tinha ganho praticamente nada (nenhuma Bola de Ouro e nenhum título europeu) e exibia apenas (e o apenas pelo que entretanto veio a conquistar…) um título de campeão inglês e um talento (e caráter competitivo) do tamanho do mundo.

Queirós foi muito importante nesses primeiros anos de carreira de Ronaldo no Man. United, e, com toda a franqueza, nunca soube a verdadeira razão pela qual os dois terão acabado de costas, pelo menos, meio voltadas após a eliminação nos oitavos de final do Mundial de 2010, quando Queirós comandou a Seleção Nacional na África do Sul e Ronaldo a capitaneou. Mas sei a dimensão que Queirós sempre atribuiu a Ronaldo e fui testemunha, repito, do que disse Queirós numa tarde cinzenta de fevereiro de 2007, quando me mostrou (em reportagem para este jornal) o mundo do United.

Declarações tão marcantes como esta: «Não tenho medo de dizer publicamente que o Cristiano Ronaldo poderá vir a estar para os próximos dez anos do futebol mundial como Michael Jordan esteve para os seus anos de sucesso na NBA». Justificando: «Nunca vi um jogador reunir harmoniosamente tantas qualidades. Cristiano é fantástico! Que Deus lhe guarde o dom».

Prestando, pela enésima vez, homenagem ao capitão da seleção portuguesa (e, singelamente, a Michael Jordan), presto também homenagem a um grande homem do futebol (que alguns, em Portugal, tentaram liquidar…) como é Carlos Queirós, que há 12 anos já via naquele menino nascido na Madeira a potencial lenda do futebol mundial em que veio a transformar-se esse português brilhante que é Cristiano.

Queirós não se enganou, nem um bocadinho: o nosso Ronaldo ficará, na verdade, para a história do futebol, como Jordan ficou para a NBA.

Só faltava mesmo vê-los juntos!

PS: Jonas decidiu terminar a carreira. É a triste notícia que ninguém queria ouvir mas já todos esperavam. Ficam as extraordinárias memórias deixadas por um dos melhores jogadores que alguma vez passaram pelo nosso País. Jonas é um dos grandes!