Leão mais longe águia mais perto
O Sporting a partir de agora tem de olhar para a Liga Europa como prioridade equivalente à da ‘caça’ ao Braga
OSporting perdeu ontem em Barcelos uma grande oportunidade de se aproximar de Braga e FC Porto e, eventualmente, beneficiar de resultados negativos do campeão e dos minhotos nas visitas à Luz. O nulo cedido ao Gil Vicente aconteceu na pior altura: o Sporting estava em crescendo e os adeptos contavam que os leões, no final do jogo, tivessem diminuído três pontos à diferença para Braga (seis) e FC Porto (oito). Não aconteceu. O leão continua longe da «remontada» e falta menos uma jornada para o final do campeonato. Assim, parece cada vez mais improvável que o Sporting consiga apanhar o rival minhoto (ainda menos o FCP), que tem feito um campeonato notável e dá mostras de estar muito focado no objetivo Champions. Duro golpe para Rúben Amorim e também para Frederico Varandas que, na entrevista à Sporting TV, não deixou de sublinhar a importância do 3.º lugar para as finanças do clube. O VAR anulou dois golos aos leões a quem faltou poder de fogo e um pouco mais de frieza na hora de atirar à baliza. Não vale a pena associar o nulo à ausência de Paulinho. Mal estariam os leões se dependessem dele para vergar o Gil Vicente. Uma consequência óbvia do empate-derrota em Barcelos é o aumento de importância da Liga Europa como via de acesso à Champions. Ou seja, o Sporting a partir de agora tem de olhar para a eliminatória com a Juventus como prioridade equivalente à da ‘caça’ ao Braga. A dificuldade de chegar à Champions começa a ser idêntica nas duas competições, com uma pequena diferença: a conquista da Liga Europa dá acesso direto aos milhões.
BENFICA SEM ANGÚSTIAS
Já o clássico da Luz é fácil de abordar. O Benfica tem uma vantagem muito confortável de dez pontos sobre o FC Porto e com ela ficará mesmo que empate. O FC Porto tem uma vantagem muito desconfortável de dez pontos e só lhe interessa ganhar - mesmo o empate pode valer-lhe a perda do segundo lugar (de apuramento automático para a Champions) para o SC Braga, que joga em casa com o Estoril. Julgo que o Benfica ganhará este campeonato com inteira justiça e merecimento mesmo que volte a tropeçar em casa com o velho rival. Se isso acontecer, nenhuma surpresa. O FCP tem sido consistentemente superior ao Benfica nos duelos dos últimos anos (seis vitórias e apenas uma derrota nos derradeiros dez clássicos) e nem o facto de o jogo ser na Luz alivia uma certa desconfiança encarnada. O FCP tem o dobro de vitórias do Benfica (8 a 4) em 19 duelos neste estádio e o próprio Sérgio venceu ali três vezes em cinco visitas. Roger Schmidt saberá que o campeão vai forçosamente entrar com tudo, mas se há clássico em que o Benfica tem razões para entrar confiante e sem qualquer tipo de angústia ou ‘tremedeira’ é precisamente este. Porque tem a sua favor uma vantagem muito grande e um aliciante extra: a perspetiva de poder resolver o assunto em casa, perante 60 mil adeptos em festa.
O Benfica só tem de olhar para este duelo como se fosse da Champions e agir em conformidade. Talvez aconteça um belo jogo.
PS - Uma semana depois de ser conhecida a acusação a César Boaventura, nem Luís Filipe Vieira (posto em causa pelo alegado corruptor, conforme escuta constante do processo) nem a atual direção do Benfica entenderam reagir. Nem uma palavra. É um silêncio inesperado e, a meu ver, perturbante. A gravidade da acusação exigia, por razões óbvias, uma demarcação clara dos dois relativamente ao visado.
O silêncio não só não clarifica nada como adensa dúvidas e abre a porta a interpretações indesejadas.
Na 1.ª volta o Benfica foi ao Dragão bater o FC Porto (1-0); pode selar o título agora, na Luz
NÃO TE DESPERDIÇES, RAFAEL…
SILVIO BERLUSCONI foi durante muitos anos presidente do AC Milan. No seu consulado vestiram a camisola rossonera avançados de classe mundial como Ruud Gullit, van Basten, Papin, Shevchenko, Ronaldinho Gaúcho e Ibrahimovic. Daí o valor do elogio que Berlusconi fez ao nosso Rafael Leão por ocasião do recente Nápoles-Milan (0-4): «Leão ha lo stile dei più grandi!» («Leão tem o estilo dos maiores!»), disse ele. Leão confirmou a declaração do presidente no estádio Maradona com dois golos sensacionais e mostrou que tem, de facto, estilo de fora de série (velocidade, potência atlética, fantasia, drible, remate poderoso e golo fácil). O problema é que este Leão genial e devastador de Nápoles só se tem visto muito de vez em quando… e não regularmente, como aconteceu na época passada.
O mais irritante nas suas intermitências é perceber que, querendo, o avançado é quase imparável. Então, por que não quer mais? Mistério. Espero que Stefano Pioli, treinador do Milan, continue a dar-lhe na cabeça e não desista de tentar melhorar-lhe o foco e o comprometimento com a equipa. Como espero que Cristiano e Pepe, no espaço da Seleção, puxem por ele e expliquem-lhe o que é preciso para se atingir a verdadeira grandeza. Era um pecado que um jogador com estas características não cumprisse o destino grandioso que traz inscrito nos genes.
CR834, REGRESSO À ‘NORMALIDADE’
RONALDO conseguiu mais um bis na terça feira - o 149.º da carreira e o terceiro consecutivo depois do duplo-duplo com a Seleção - e voltou a mostrar que está a caminho da (sua) normalidade. Readquirido o ritmo de competição e a confiança, o seu extraordinário e intocado killer instinct (comprovado por 834 vezes) encarregou-se do resto. Fez 15 golos (!!!) nos últimos 11 jogos e já tem média de um golo por jogo com o Al Nassr (11 em 11). A continuar assim, será um pecado vê-lo golear numa liga periférica como a saudita. O regresso de Cristiano, orgulho de Portugal, aos números de sempre, é uma ótima noticia para milhões de fãs do maior goleador da história e uma péssima noticia para os que lhe têm decretado o fim da carreira quase à força. Calma, senhores. O homem não só ainda mexe como está prestes a tornar-se o primeiro a marcar 20 ou mais golos durante 17 épocas seguidas (!!!) - falta um.
Deixem-no trabalhar!