Justiça desportiva

OPINIÃO01.09.202206:30

A CI da Liga deve caminhar para a profissionalização, até para evitar prazos muito alargados que acabam por criar problemas

NÃO são necessárias grandes renovações legislativas, apenas bom senso, rigor e inteligência, para se conseguir a imparcialidade. Quando a justiça é protagonista no futebol, algo vai muito mal. O líder da Comissão de Instrutores (CI) da Liga desde 2019, numa entrevista alargada e oportuna, focou alguns aspetos dessa área e também o relacionamento institucional com a Conselho de Disciplina (CD) da FPF. Apesar de não esclarecer se os membros da CI são ou não remunerados, ficamos a saber que é constituída por 5 elementos (presidente e quatro vogais), nenhum a tempo integral. O exercício da função sem exclusividade é, desde logo, uma realidade que não se coaduna com o elevado profissionalismo do futebol. Talvez, também por isso, a opinião pública tem uma ideia de aparente falta de tempo e de recursos, para agir com celeridade. Muitas vezes as decisões do CD da FPF são contraditórios com as decisões da CI da Liga, o que não prestigia o nosso futebol, porque alguns processos causam perplexidade generalizada. Um bom entendimento institucional é sempre uma vitória importante. Será que as regras definidas carecem de atualização, porque poderão ser uma das origens dos problemas? São inúmeros os recursos que impedem velocidade de ação/decisão, para mais com tão poucos elementos na CI e a tempo parcial. A celeridade dos processos e os direitos de defesa dos arguidos, por vezes acabam por dar a impressão de entraves à justiça. Os processos de uma época, só a nível excecional poderiam transitar para a época seguinte.

Com mais instrutores, certamente que se pode exigir maior eficácia. Quando os adeptos e claques têm comportamentos que ultrapassam os limites legais, surge a necessidade da prova da culpa dos clubes, algo muito complexo e difícil, com a legislação em vigor. Trata-se de um problema que afeta a credibilidade do nosso futebol a nível nacional e internacional. Por vezes, um processo começa com uma moldura penal, criando paradoxos que não servem a justiça nem o futebol, verificando-se que a CI da Liga pede arquivamento e o CD da FPF opta por acusação. Não haverá forma de agilizar com competência? Ficamos a saber como se processou a prescrição da pena de um clube da capital, sem cumprir os jogos de interdição com que tinha sido penalizado. A separação de poderes da Constituição da República Portuguesa contempla os poderes de investigação e de julgamento. Fica uma ideia de frágil relacionamento entre CI e CD, mesmo que as tutelas se reúnam para aperfeiçoar o modelo de comunicação. Evitar penas para jogadores que já abandonaram a atividade, ou o famoso caso do 5.º amarelo a Palhinha, com o árbitro que o sancionou em campo, a defender posteriormente que esse cartão mostrado ao jogador não deveria contar, como se tivesse sido um erro (do próprio que o mostrou) que deveria ser anulado, deixaram nuvens que ensombram as decisões, porque estranhas e a destempo: só em Portugal! A CI da Liga deve caminhar para a profissionalização, até para evitar prazos muito alargados que acabam sempre por criar problemas e suspeições. Uma acusação recorrente à CI é a lentidão da investigação… Quanto ao Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) há uma tendência para o desvalorizar e responsabilizar pelo atraso das decisões que alguns pretendem desvalorizar: afinal, o TAD tem ou não tem competências especializadas na área desportiva? Campanhas de esclarecimento sobre casos atuais do nosso futebol que o podem desprestigiar, é sempre uma boa sugestão para momentos de valorização. Adeptos informados podem contribuir para um futebol melhor. Quando dirigentes pretendem ser o centro das atenções, com afirmações de guerrilha constante, por vezes ridículas, subverte-se o essencial. Atingimos um ponto em que está em risco o próprio prestígio do futebol português, mas facilmente se poderá contribuir para o engrandecer, mudando atitudes e respeitando adversários.
 

Presidente da Comissão de Instrutores da Liga, Fernando Torrão, deu entrevista oportuna


URGENTE 

Acompetitividade é imprescindível para qualificar o nosso futebol. Para isso, o tempo útil tem de aumentar, acabar com tantas perdas de tempo e simulações, dando ao jogo o prestígio e a qualidade superior. Mas isso implica um forte compromisso para elevar o nosso futebol para níveis de exigência superiores e sem a enorme clivagem de 5 ou 6 equipas muito distantes das outras 12, que acabam quase todas a tentar fugir da despromoção. Quando o universo do nosso futebol sentir que juntos podemos fazer muito mais e melhor, então todos assumirão as responsabilidades para conseguir competir na Europa com prestígio, sem receios e maior confiança. É no nosso campeonato que está a solução, desde que as diversas entidades exijam mais e saibam apoiar um desenvolvimento global, sem perder tempo, com casos particulares que atrofiam os rumos do desenvolvimento. Como exemplo, analisemos a eliminatória do Gil Vicente que foi goleado, nos Países Baixos, pelo AZ Alkmaar e perdeu em casa por 1-2. Ambos terminaram, nas respetivas Ligas, em quinto lugar. A diferença de pontos em relação aos primeiros classificados, em cada um dos países, foi de 40 pontos em Portugal e 22 nos Países Baixos. Para além disso, o número de jogos nas competições internacionais não tem comparação possível. O futebol português continua a aguardar o reforço da competitividade.  
 

FUTEBOL NACIONAL

A Supertaça feminina de futebol, com novo formato, incluiu meias-finais, final e jogo para o terceiro e quarto lugar. As quatro equipas envolvidas foram o Benfica, vencedor do campeonato, o Sporting, vencedor da Taça de Portugal, o SC Braga, que venceu o Benfica na final da Taça da Liga, e o quarto classificado do campeonato, o Famalicão. As meias-finais, Benfica-SC Braga e Sporting-Famalicão, apuraram para a final o Benfica e o Sporting (que venceram os jogos pela mesma marca: 3-0) e as equipas derrotadas disputaram o terceiro e quarto lugar, no Estádio de Leiria. Resultados: Famalicão, 0-SC Braga, 2 e Sporting, 1-Benfica, 4 (após prolongamento). A Supertaça foi conquistada pela equipa da Luz e tem margem alargada de crescimento.

A Liga Portugal apresentou alguns resultados inesperados, particularmente a primeira vitória do Chaves em Alvalade, num jogo que revelou também as consequências da derrota no Dragão, assim como eventuais decisões contraditórias entre treinador e Direção, sobre alguns pontos que criaram dificuldades, por saídas de jogadores decisivos como, entre outros, Matheus Nunes e Palhinha, cujas transferências ainda não foram compensadas.

O FC Porto foi a Vila do Conde defrontar o Rio Ave. Os azuis e brancos entraram displicentes e sem pressão. O Rio Ave aproveitou erros defensivos e conseguiu 3 golos em lances em que o FC Porto não teve a concentração habitual. Usando mais jogadas individuais do que coletivas, os dragões não se conseguiam organizar com acerto. Até o desperdício de uma grande penalidade trouxe maior ansiedade. Faltou uma reação intensa e organizada, que as substituições deveriam ter conseguido, mas sem a eficácia que se esperava. Certamente que uma reflexão profunda conseguirá o regresso imediato à dinâmica muito forte. Jogo para nunca mais ser esquecido, para alertar a necessidade da concentração total. O futebol exige o máximo do primeiro ao último momento. Que este jogo sirva de exemplo para regressar ao futebol pressionante e eficaz que permite alcançar títulos! 


REMATE FINAL 

Verdade ou mentira? As eventuais críticas, após a derrota frente ao Rio Ave, caso tenham sido atribuídas, num tom jocoso, ao treinador e jogadores do FC Porto, pelo vice-presidente do Conselho Superior do clube (e Presidente da CM Porto), merecem censura firme pela ligeireza com que publicamente foram ditas palavras desprestigiantes. O clube merece apoio incondicional de todos e não o tratamento sem a elevação que merecem. O futebol é imprevisível e, por isso, os adeptos podem ficar tristes mas devem apoiar em todas as ocasiões o clube: isso é saber ser adepto. Caso essa publicação seja ‘invenção’ repudiamos a sua origem que, nesse caso, merece investigação para devida sanção. Sérgio Conceição, no final do jogo assumiu, com a dignidade de sempre, tudo o que aconteceu porque ser líder exige coragem e frontalidade, sempre!

O presidente do Sporting foi suspenso por 70 dias, pelo Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, na sequência de ofensas ao presidente do FC Porto. Para além da suspensão, o presidente do Sporting terá de pagar uma multa de 13.260 euros. Quando presidentes de clubes não conseguem relação institucional com dignidade, quem sofre mais é o próprio futebol, pelas consequências que separam!

Derlei, antigo jogador do FC Porto, que esteve presente em títulos nacionais e internacionais, considera Sérgio Conceição como um dos melhores de sempre, quer pela exigência que impõe a si próprio e aos seus jogadores, quer pela dedicação extrema ao nosso emblema. Derlei, a quem os adeptos portistas chamavam ‘Ninja’ afirmou: «O que tem feito com Pepê é extraordinário. É o jogador que mais tem impressionado e nota-se que há muito de Sérgio ali. Quando se vê uma adaptação assim, há muito mérito do treinador.» Pormenor curioso é que Pepê utiliza a camisola 11 o mesmo número da utilizada por Derlei.

O estado do relvado do Marítimo volta a ser um problema que desprestigia o futebol nacional.