Jogo decisivo
A competição é um tesouro fantástico desde que não se possa fazer ‘batota’
ALGUNS clubes do futebol nacional têm de perder o vício de arremessar polémicas (antigas ou atuais) que promovam ódios, que lançam confusões e criam um clima de guerra sem perdão. Usam o modelo de lançar culpas para os adversários. Faltam lideranças, pacificação e respeito pela competição. Passado é passado e nunca pode continuar a ser argumento para todos os males. Não é preciso esquecer, mas também não é útil recordar. Os diretores de comunicação dos clubes também podem ser importantes se, em vez de alimentarem polémicas, contribuírem na luta contra a corrupção para salvaguardar a integridade do futebol. Com ataques baseados em passados mais ou menos longínquos, dificilmente poderemos avançar com sustentabilidade. E quase tudo parte de relações grupais controversas, que depois criam alianças de conveniência. Os clubes têm de ser todos grandes, em função das suas capacidades e desempenhos, mas também nos procedimentos de todos os momentos. Tem de existir uma supervisão eficiente. Saber vencer e saber perder, ou seja, não utilizar meios ilícitos (falsas lesões, suspeições, clima de violência verbal que pode passar para violência física…) mas antes ter orgulho nas suas prestações, na qualidade do jogo que apresentam, em função das suas capacidades, de uma organização competente, fazendo com que a sua voz seja ouvida com atenção, numa análise dos seus projetos e sugestões. É urgente os clubes conseguirem saúde financeira para não criar dependências de risco.
Pedro Proença e Fernando Gomes, presidentes da Liga Portugal e FPF, respetivamente
Dentro das quatro linhas, temos de impedir perdas de tempo e jogar sempre com a intenção da vitória. Basta de culpar os outros, mantendo a mesma intensidade em TODOS os jogos, argumentando com factos, sem ir o baú das memórias, mas apresentando sugestões para ficar cada vez mais fortes. É indispensável assegurar transparência, seriedade e organização. As entidades que dirigem o futebol, a FPF e a Liga, têm de manter diálogos periódicos para se poderem identificar os erros a corrigir e as benfeitorias a acrescentar. Essas instituições e os respetivos órgãos têm de ser constituídos por gente capaz, sem entrada de clubismos exacerbados. O exemplo da melhor liga do Mundo (Premier League) é simples e transparente, porque cumpre regras e critérios universais e precisos. Anualmente, a reflexão sobre o universo do futebol e dos seus intervenientes é imprescindível para definir calendários competitivos que não coloquem em risco a saúde dos atletas, procurando aumentar o tempo útil de jogo (e não valores que nos inferiorizam), distinguindo intensidade de violência. Mas para que se consiga colocar a Liga portuguesa nos lugares cimeiros é importante criar condições para arbitragens de qualidade. Mal se divulgam os árbitros que vão atuar, as páginas de jornais e os comentários televisivos levantam precocemente intoleráveis suspeições. A nossa arbitragem não está no seu melhor momento: falta qualidade, competência, uniformidade, rigor e personalidade. São necessários especialistas que acompanhem o jogo sem quebra de ritmo e que penalizem falsas lesões de cura milagrosa.
Estamos a atravessar um momento difícil, com falhas sistemáticas e decisivas, muito permissivo às perdas de tempo e a decisões contraditórias no mesmo jogo. Os órgãos da FPF e da Liga existem para defender todos os clubes, para fazer cumprir os compromissos e as regras assumidas, para se evitar situações que causem desprestígio ao futebol. Os erros acontecem! Para ajudar a evitá-los integrou-se a tecnologia (o VAR tem função muito exigente) aumentando a credibilidade do nosso futebol. É verdade que temos árbitros sem ritmo, longe da bola e com decisões incoerentes. Trata-se de uma área que precisa de melhorar muito e de selecionar os mais qualificados. O futebol é um universo de várias componentes, onde todos fazem sentido se praticarem a coerência e o apoio ao desenvolvimento do jogo. As lideranças devem ser exemplares em tudo o que fazem. Os clubes são a base essencial do futebol e, por isso, não pode haver maior ou menor proximidade com as tutelas, para se impedirem decisões parciais. Os clubes e os adeptos formam um núcleo consistente e essencial ao jogo. Claro que a perfeição é inatingível, mas podemos tentar o máximo possível. Isso implica que todos os intervenientes têm de saber qual o seu papel e como podem ajudar para que o seu clube se sinta apoiado. Os treinadores e os jogadores são protagonistas imprescindíveis nos fóruns onde se decidem alterações significativas, com a voz dos seus respetivos representantes, pela sua imprescindível importância. Temos treinadores, jogadores e clubes que prestigiam o futebol português. Quanto à justiça, tem de ser célere, num prazo razoável e com processos transparentes, evitando a acusação de perseguição e coincidência por morosidade exagerada. Se for necessário aperfeiçoar o modelo (e é urgente) devem evitar-se acumulações de cargos de justiça com cargos na política, para não alimentar suspeições. Uma palavra para os clubes de competições não profissionais e de jovens: a formação de diretores desportivos para esses clubes não deve seguir o rumo da burocratização excessiva mas antes a aprendizagem de modelos simplificados com qualidade e de fácil acesso (coordenados pelas Associações de Futebol Distritais/Regionais) e promovendo reuniões periódicas.
A relação dos dirigentes do futebol jovem com os familiares deve ser de entendimento e cooperação, com princípios assumidos. Os treinadores de jovens devem merecer formação paralela, pois cada escalão tem especificidades que urge saber identificar. A recuperação dos cursos de massagistas de futebol carece de reflexão para ser retomada, pois em várias situações contribuíram para salvar vidas e agir com eficácia, por todo o País. Arbitrar jogos de escalões de formação pode servir como motivação para integrar jovens e descobrir talentos: uma área onde temos de renovar sistematicamente. Há sempre mais a melhorar, porém, mais do que uma grande entrevista, é imprescindível uma liderança inteligente, competente e aberta ao diálogo, para que as palavras ganhem sentido efetivo e se cumpram em ações concretas. Manter a pirâmide do nosso futebol em equilíbrio estável exige atenção diária. Os representantes portugueses na UEFA e na FIFA deveriam comunicar alguns dos seus projetos para que nos possamos preparar convenientemente! É importante acabar com as acusações sistemáticas e o clima de conflito permanente que criam muitas dificuldades, por fanatismos sem sentido!
Quantos de nós aplaudimos as equipas portuguesas (mesmo nossas adversárias internamente) nos jogos com equipas estrangeiras? Certamente menos do que deviam; muitos preferem a derrota das equipas nacionais se não forem as nossas. Ora, no ranking da UEFA continuamos em 6.º lugar, mas com mais apoio temos condições para nos aproximarmos da França. A entrada de capitais também deve obrigar a controlo apertado e conhecimento do seu percurso total, para evitar que consigam passar pelos buracos que facilitam o contorno do fair-play financeiro.
REMATE FINAL
A intolerável invasão da Ucrânia é um atentado à Humanidade. De imediato se criou um movimento de solidariedade global, incluindo o universo do futebol e do desporto em geral. Jogadores (como o polaco Lewandowski), clubes e Federações recusaram-se jogar com a Rússia. Os estádios pintaram-se de azul e amarelo: sinal para mostrar ao mundo e aos ucranianos que estamos juntos contra a prepotência. Os clubes e a UEFA retiraram das camisolas o patrocínio da empresa russa Gazprom. A FIFA inicialmente aceitou que a Rússia participasse nos play-offs do Mundial-2022, e que a seleção russa continuasse a jogar, embora em campo neutro fora do país, sem espectadores, sem hino e sob a bandeira da Federação: decisão muito infeliz perante a trágica realidade. Por fim, a FIFA acabou por seguir o rumo da UEFA e suspendeu os clubes e a federação russa. Várias entidades manifestaram a sua profunda revolta contra o abuso de poder de quem invadiu um país vizinho, causando uma guerra inaceitável e muitas tragédias que deixam sinais de horror e que vão perdurar nas memórias de todos, com consequências devastadoras. O mundo precisa de coragem e determinação perante essa agressão que ninguém pode aceitar. Este é um jogo de união, que nunca se pode perder!