Início(s) de temporada
Benfica muda de paradigma, FC Porto vende mais do que compra, Sporting privilegia estabilidade
É o arranque da preparação para temporada com formato muitíssimo diferente do habitual, com Campeonato do Mundo marcado para os meses de novembro e dezembro a impor mudanças importantes na programação das provas nacionais e internacionais. O Benfica, obrigado a lutar pelo apuramento para a Liga dos Campeões, depois da 3.ª posição na Liga de 2021/2022, iniciou 2022/2023 mais cedo que os rivais FC Porto e Sporting. Nas águias, paradigma novo, com a contratação do técnico alemão Roger Schmidt, prenúncio de revolução: sem títulos desde a vitória na Supertaça de 2019, os encarnados ambicionam colocar um ponto final num jejum demasiado prolongado, considerando o muito dinheiro que investiu neste período. Os 23.470 adeptos nas bancadas da Luz no treino de domingo, 3 de julho, confirmam a dimensão de expectativa.
Rui Costa, que prepara temporada como presidente pela primeira vez, compreendeu a empreitada que tem nas mãos. Sem surpresa, contratou um técnico estrangeiro - os portugueses conseguiram apenas 9 dos 37 títulos nacionais das águias, a maioria (6) sob a liderança de Luís Filipe Vieira; ganhou-os com Jorge Jesus, Rui Vitória e Bruno Lage, mas apenas depois de tentá-lo com José Antonio Camacho, Giovanni Trapattoni, Ronald Koeman e Quique Flores. Sucesso com o italiano, em 2004/2005. Antes, exceção à regra, no título de 1993/1994 com Toni.
Roger Schmidt, de 55 anos, não tem a expressão mediática de compatriotas como Jurgen Klopp (Liverpool), Thomas Tuchel (Chelsea) ou Julian Nagelsmann (Bayern Munique), mas integra, legitimamente, geração nova de treinadores alemães adepta de um conceito moderno de futebol, que privilegia a criatividade, a disciplina, a formação e o talento, características que não vimos no Benfica de 2021/2022! Também na forma de comunicar, o ex-Red Bull Salzburgo, Paderborn, Bayer Leverkusen, Beijing Guoan e PSV Eindhoven, logo na chegada a Lisboa, surpreendeu(-nos) pela frontalidade e simplicidade como assumiu o interesse no bracarense Ricardo Horta.
O sistema de Roger Schmidt admite muitas variantes (4x3x1x2, 4x3x3, 4x2x3x1, 4x4x2), mas a base não muda: ataque, posse de bola e muita pressão. E o êxito do alemão, como sempre, depende dos resultados! No imediato, redução de excedentários num plantel muito extenso, integração dos reforços Bah, João Victor, Ristic, Enzo Fernández (?), Neres ou Musa e das promessas da formação, e implementação do modelo de jogo. Promete.
N O FC Porto, compreensivelmente, outro arranque de época com perda de jogadores essenciais nos sucessos da temporada anterior, devido à incapacidade para renovar contratos a tempo e horas, vide Mbemba, e manter craques emergentes como Fábio Vieira e Vitinha, Sérgio Conceição necessita de reforços. O crédito do técnico é ilimitado, o dos dirigentes portistas está quase, quase esgotado. Valem-lhes os títulos, o que não é pouco, e o blá, blá, blá comunicacional para consumo dos dragões, o que não soma qualidade ao grupo de trabalho. Os €20 milhões pagos por David Carmo talvez diminuam a irritação do treinador com mão cheia de trabalhos notáveis!
O Sporting, na era Rúben Amorim, acerta muito mais do que erra (entra agora Rochinha; sairá Matheus Nunes?), mas nem o treinador que recolocou os leões nos carris do sucesso é à prova de erro. Confirma-o Rúben Vinagre, que pela compra de 50% do passe, obrigou a investimento musculado: €10 milhões! Número à dimensão de João Palhinha, médio importante no campeão de 2020/2021 vendido ao Fulham por €20 milhões fixos. Nesta história (como no episódio Slimani...), se os fãs leoninos não morressem de amores pelo técnico, aqui-d’el rei!...