Imagine que Sérgio Conceição era o árbitro daquele torneio infantil...
Sérgio Conceição, treinador do FC Porto (GRAFISLAB)

Imagine que Sérgio Conceição era o árbitro daquele torneio infantil...

OPINIÃO31.03.202410:00

Como seria o técnico que 'salvou' o FC Porto se fosse árbitro? Menotti e Chilavert; Abel Ferreira

O trajeto de Sérgio Conceição (SC) no FC Porto resume-se, para mim, numa frase: nunca um treinador fez tanto ao leme dos azuis e brancos com tão pouco e em contextos competitivos tão complicados. Desde 2017, quando anunciou que chegara para ensinar e não para aprender, deparou-se com finanças depauperadas, rivais com argumentos de peso e uma SAD sem os padrões de qualidade de outros tempos. Dizia Mário Wilson, nos anos 70, que quem treinava o Benfica arriscava-se a ser campeão, a mesma expressão poderia ser utilizada relativamente aos dragões no período em que SC cuspiu fogo encostado à linha.

O mundo pula e avança — infelizmente raras vezes como bola colorida entre as mãos de uma criança — e a realidade que encontrou como técnico é diferente, conforme sinalizou até em cíclicas críticas públicas. Não fosse a relação paternal com Pinto da Costa e estou convencido de que há muito teria dito basta. Dez troféus, brilharetes na Champions, jogadores valorizados, sucesso desportivo, milhões faturados. Se há figura unânime no universo portista, SC é uma delas, talvez a única nesta fase de fratura pré-eleitoral.

Mas ninguém está imune a reparos e SC — não é exceção — já tomou decisões com a melhor das intenções que 90’ depois se percebeu não terem surtido. Nem sempre é possível golear o Benfica ou encostar o Arsenal às cordas. Se após as derrotas com Estoril e Arouca, na Liga, ou selado o adeus à Taça da Liga de novo com o Estoril um adepto do FC Porto entrasse em campo para questioná-lo sobre as suas opções, como reagiria SC? E se esse adepto lhe passasse a mão esquerda na face direita enquanto lhe perguntava por que razão demorou meia época a descobrir a fórmula para solucionar a saída de Otávio e o apagamento de Taremi? Suspeito que SC não comesse e calasse, que não fizesse ouvidos de mercador às provocações, que não aturasse maus modos olhos nos olhos, enfim, suspeito que SC explodisse perante o atrevimento desse adepto.

Agora... Imagine se era um SC, em modo castelhano, o árbitro daquele torneio infantil de Huelva que SC, no papel pai, confrontou no relvado. Teria dado passo atrás para se afastar da confusão como fez o juiz espanhol? Apuesto que no... Mais que estar onde não devia, SC fez aquilo que não toleraria nem ao papa se colocasse em causa o seu trabalho.

José Luis Chilavert

Atormentado por sucessivos atos de racismo, Vinícius, internacional brasileiro do Real Madrid, não conteve as lágrimas em conferência de imprensa que antecedeu o Espanha-Brasil, no Bernabéu. «Ele que não seja maricas, o futebol é para homens», comentou, algures nas cavernas mais profundas, José Luis Chilavert, antigo guarda-redes paraguaio. Com a devida vénia, faço minhas as palavras de César Luis Menotti (técnico que guiou a Argentina ao Mundial-1978), proferidas em 1998: «O que devem fazer com Chilavert é levá-lo às escolas e universidades para que os jovens vejam como era o homem há 40 milhões de anos. Primeiro Chilavert, depois o macaco, a seguir o ser humano.»

Abel Ferreira

Abel Ferreira inicia hoje, frente ao Santos, na 1.ª mão da decisão do Paulistão, a 14.ª final  (sete conquistas, mais dois Brasileirões, palmarés de luxo) desde que assumiu o Palmeiras em novembro de 2020. No verão será nome falado para um dos grandes em Portugal...

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