Horizontes do futebol

OPINIÃO25.08.202206:30

Os dias acabam sempre por julgar os que merecem pela sua simplicidade e os que se julgam deuses, mas com pés de barro

Ofutebol não é apenas um jogo simples e ancestral, é também uma manifestação cultural que deve envolver as capacidades para o tornar mais qualificado e apaixonante. Daí a necessidade de cooperação e respeito mútuo entre todos os participantes. A presença de várias gerações potencia diálogos, cria entendimentos e reforça o apoio aos talentos, independentemente do clube que cada um prefere. É nesses momentos que se aprende a reconhecer a qualidade dos nossos e também dos adversários. O jogo é sentido, vivido, por isso no final até os adeptos saem cansados, embora umas vezes felizes e outras não tanto. Mas é dessa contradição que se aprende a valorizar o desportivismo. Hoje festejam uns e amanhã será a vez de outros. Assim se forjam memórias, se valorizam ídolos, ou se fará história para contar aos mais jovens. No futebol, apesar das constantes notícias de guerrilha (dos que ainda não o compreendem), há uma cultura que aproxima e não cria guerras, particularmente após um drible único, uma defesa em voo prolongado, um golo do outro mundo.
 

A VAIDADE DE QUEM NÃO PENSA

SÃO muitas as referências de grandes talentos do futebol, os últimos dos quais conseguem auferir muitos milhões. No passado, Garrincha, Jaburu e Vítor Batista (infelizmente muitos outros) são alguns dos inúmeros craques internacionais e nacionais que tiveram um fim sem glória e lamentável esquecimento. Kylian Mbappé, jogador talentoso, com o novo contrato milionário, foi invadido pela prepotência como atitude e pela contradição, ao integrar uma equipa onde pretende ser o máximo. Se ainda fosse um desporto individual, os seus exageros não entrariam em conflito com colegas… embora arranjassem outros, porquanto há mentalidades que nunca param de surpreender pela negativa. Se o tempo não o ajudar a corrigir comportamentos, por mais jogadas e golos decisivos, acabará como muitos, não pelos lances extraordinários, mas pelas atitudes abusivas num coletivo. Deveria refletir nos vários talentos que o tempo e a falta da razão deixaram no profundo anonimato. Os dias acabam sempre por distinguir os que merecem pela sua simplicidade e cooperação e os outros que, de um minuto para outro, se julgam deuses, mas com pés de barro e só na sua mente… Depois é tarde e mesmo que consigam fortunas enormes nunca serão ídolos para a eternidade. Há vários exemplos contrários, nos quais os geniais, acabado o futebol jogado, souberam transformar-se em cidadãos simples, atentos e solidários. A simplicidade não está ao alcance de todos e é ela um dos maiores triunfos que imortalizam. Há sempre tempo para mudar, mas uma equipa com jogadores que disputam vaidades egocêntricas, pode vencer títulos mas a memória saberá julgá-los com eficácia. Mbappé (e mais alguns) podia ser um ícone para a posteridade, mas pensamos que dificilmente a atingirá… Para mudar é preciso inteligência e humildade.
 

Mbappé em polémica no PSG


A DEPENDÊNCIA DE QUEM NÃO SABE

JURGEN KLOPP criticou a UEFA e o presidente Ceferin ao destacar que «ninguém pensa nos jogadores». Já anteriormente, e por diversas vezes, o jogador do Manchester City, Kevin De Bruyne, tinha feito a mesma crítica insistentemente. O treinador do Liverpool insurge-se contra a densidade competitiva exagerada que obriga os jogadores a competir de 3 em 3 dias: por isso, critica a UEFA. Ainda há pouco tinha feito críticas idênticas, incluindo ao presidente da UEFA, alertando para a necessidade de defender o futebol e os jogadores. Klopp mantém críticas insistentes contra a UEFA, pela enorme carga competitiva, originada pelas provas europeias, mundiais e ainda pelas novas competições (referindo-se à Conference League). Entrevistado por uma revista alemã, manteve as críticas à UEFA, acusando-a de prejudicar o futebol.

Refere que há um movimento imparável de criação de novas competições que prejudicam bastante o jogo fantástico. O treinador alemão afirmou: «Agora estamos a aumentar o Campeonato do Mundo, para que outras seleções possam participar. E também estamos a aumentar o Campeonato da Europa. É fantástico! Em todos os desportos, o requerimento básico é o treino. Mas não temos tempo para treinar, porque estamos sempre a jogar.» Klopp atribuiu responsabilidades ao presidente da UEFA, alertando para o curto período de férias dos jogadores, que pode ter consequências graves. O treinador do Liverpool realça que o futebol encanta quando os melhores jogadores estão em campo. E se mantiverem o caminho da excessiva carga competitiva, as consequências poderão ser negativas. Já anteriormente Sérgio Conceição e Pep Guardiola também destacaram as mesmas críticas. O futebol tem a tarefa de continuar a aperfeiçoar-se sem perder a sua especificidade: a arte do jogo!
 

FÓRUNS NA CIDADE DO PORTO

NOS dias 5 e 6 de setembro, na Cidade do Futebol, vai decorrer o Football Talks, que poderá ser acompanhado online. Para além dos membros do Governo, estarão presentes os presidentes da FPF e da UEFA. Os temas a analisar incluem o Plano Futebol 2030 da nossa Federação. Cinco áreas importantes: Infância a Crescimento; Futebol para Todos e Todas; Qualidade do jogo; Envolvimento; Sustentabilidade do Ecossistema. Mais importante do que os temas e as comunicações, serão os planos concretos para cumprir. Entre 18 e 20 de novembro próximo, decorrerá no Super Bock Arena (Pavilhão Rosa Mota) no Porto, mais uma edição da Thinking Football Summit, com convidados de todo o mundo e com oradores nacionais, entre os quais o presidente Pinto da Costa, Tiago Gouveia, diretor de marketing, e também Fernando Gomes, administrador da SAD do FC Porto. Confirmada a presença de presidentes de clubes nacionais, do presidente do COP, de Javier Tebas, presidente da La Liga, e de Pedro Proença, presidente da Liga Portugal, entre outros. O tema principal será a indústria do futebol profissional: aguardam-se conclusões muito importantes, caso contrário será uma desilusão.
 

O PRIMEIRO CLÁSSICO DA ÉPOCA

ESTÁDIO cheio e emoções ao rubro. Jogo intenso prometendo surpresas, Sporting com dureza excessiva e FC Porto com oportunidade para mostrar a sua raça. Azuis e brancos mais ligados, procurando criar lances de perigo, num jogo a passar os limites da pressão. Os cartões amarelos poderiam ser exibidos mais cedo, com o Sporting utilizando excesso de agressividade. Jogo com muitas interrupções, o que afetou a qualidade dos desempenhos. Por vezes o árbitro permitiu protestos exagerados a jogadores leoninos. Aos 42’, num lance disputado por Taremi e o guarda-redes leonino, a bola sobrou para Evanilson, que não desperdiçou: 1-0. Diogo Costa, enorme exibição, respondeu na outra baliza, com lances de grande qualidade. Ao intervalo o resultado traduzia a eficácia dos dragões. Na segunda parte o FC Porto entrou, deixou o adversário avançar e o controlo do meio campo foi conseguido pela estratégia de Sérgio Conceição. Aos 72 minutos, o FC Porto poderia ter aumentado o resultado, seguindo-se as diversas substituições que o FC Porto realizou com eficácia e controlo do jogo. Jogadores leoninos revelaram-se muito nervosos, protestando em demasia sem tolerância zero. Num lance em que a bola foi cabeceada para a baliza, Pedro Porro defendeu com a mão, originando grande penalidade e expulsão. Penálti marcado por Uribe e aos 78’, resultado 2-0. Mantendo dureza desnecessária, o Sporting perdeu capacidade de ligação com eficácia. Aos 86’, o  guarda-redes do Sporting fez falta sobre Galeno, originando nova grande penalidade que ele transformou no terceiro golo azul e branco. As substituições no FC Porto foram eficazes e aos 90+3’, a falha maior da arbitragem, ao não validar golo de Veron, perfeitamente legal. FC Porto venceu o primeiro clássico desta época.
 

REMATE FINAL

– No Campeonato Europeu, em Munique, o destaque vai para Pedro Pichardo que venceu o triplo salto, juntando a essa proeza os títulos Olímpico e Mundial; vários atletas têm vindo a prestigiar Portugal conseguindo diversas medalhas, de ouro, prata e bronze: muitos parabéns.

– O Conselho de Disciplina da FPF finalmente arquivou o processo de inquérito, iniciado em abril passado, em função da equipa apresentada pelo Portimonense, com goleada azul e branca por 7-0, no Estádio do Dragão. A base do protesto foi a escolha dos jogadores da equipa do Algarve pelo respetivo técnico, nessa altura com 4 jogadores castigados e um que pertencia ao FC Porto e não podia jogar. Tema polémico e infeliz (porquanto cada treinador tem o direito de definir a equipa que pretende), não só para esse jogo mas em função das possibilidades  e dos jogos seguintes, porque havia riscos de descida. Será que o treinador não é o principal responsável pela escolha da equipa ou terá de pedir licença ao Conselho de Disciplina?

– Depois de vencer a Youth League, o Benfica derrotou o Peñarol, no Estádio Centenário, em Montevideu, conquistando a primeira edição da Taça Intercontinental de Sub-20.