Gyokeres: números quentes do sueco frio
Gyokeres: 3 jogos na Liga, 6 golos (IMAGO)

Gyokeres: números quentes do sueco frio

OPINIÃO27.08.202416:14

A absurda entrada em cena do Famalicão e os números quentes do frio sueco do Sporting. Por fim, Martínez. Será agora que junta um pouco de imprevisibilidade à lista de convocados?

Adoro ciências exatas e adoro, sobretudo, a mãe de todas as ciências exatas: a matemática. Pode argumentar-se que a matemática é fria e impessoal, pois coloca de lado toda e qualquer emoção. É uma tese com a qual não concordo. Há algo mais emocionante, por exemplo, do que ver o Famalicão, ao fim de 3 jornadas, somar 9 pontos, mais 5 do que há um ano, com 6 golos marcados e 0 sofridos, algo que em 10 presenças na Liga nunca conseguira, estando agora coladinho a 2 dos 3 grandes?

Claro que umas pitadas de emoção em cima de números elabora um prato mais saboroso. Olhemos para Gyokeres: 6 golos em 3 jogos da Liga, um golo a cada 45 minutos. Isto é pura matemática. Porém, se falarmos da influência que o sueco tem no jogo do Sporting, na emoção que faz transbordar nos adeptos leoninos e na catadupa de máscaras gyokerianas que vão aparecendo um pouco por todo o Mundo do desporto, podemos dizer que o 9 de Alvalade junta matemática às mais diversas emoções. Os sportinguistas sentem alegria por ele vestir de verde e branco; os benfiquistas sentirão tristeza por o sueco não ter passado, há ano e meio, do crivo de estar apenas e só referenciado; os defesas adversários sentirão raiva, pela impotência que sentem quando Gyokeres impõe o físico; e há, claro, o medo dos adversários que o vão defrontar. O sueco é, de momento, o jogador em Portugal que melhor une a mãe de todas as ciências exatas à mais pura condição do ser humano: a emoção. Engraçado ainda que Gyokeres nasceu na Suécia, cujos habitantes são vistos como frios e racionais, ao contrários dos latinos. Tem sido um sueco, no último ano e meio, a desbloquear as emoções leoninas.

Tentemos agora juntar razão e emoção. Ou seja, pôr uma pitadinha de açúcar e de sal em cima da matemática. Quais os defesas centrais que Roberto Martínez levou ao Euro 2024? Cinco: Pepe, Rúben Dias, Gonçalo Inácio, António Silva e Danilo. Agora não há Pepe (final de carreira), não há Danilo (0' em 2024/2025), há pouco António Silva (90’ com o Casa Pia), há muito Rúben Dias (3 jogos, 270’) e Gonçalo Inácio (4 jogos, 371’). Há também algum Toti Gomes (2 jogos, 180’) e muito Eduardo Quaresma (4 jogos, 351’), Tomás Araújo (3 jogos, 265’) e Zé Pedro (4 jogos, 390’), entre os que estiveram na Alemanha. Poderá o selecionador português, por fim, colocar alguma imprevisibilidade na próxima lista de convocados? Rui Patrício, João Cancelo e Francisco Conceição, tal como Danilo, ainda não têm minutos em 2024/2025, Gonçalo Ramos está lesionado e Nélson Semedo jogou apenas 76' nos sub-23 do Wolverhampton. E se Martim Fernandes e Eduardo Quaresma/Tomás Araújo, já não falando nos mais que óbvios Francisco Trincão e Pedro Gonçalves, chegassem à Seleção Nacional? Seria juntar a emoção à racionalidade dos números. O que é sempre bom.