Futebol, inspiração ou perdição?

OPINIÃO22.09.202206:30

Os fundamentalismos tornam-se casos diários e ninguém assume a responsabilidade. As crianças são vítimas inocentes, o que é muito grave!

NO nosso futebol, o talento não falta, quer a jogadores, quer a treinadores, contudo há uma lacuna grave que é a constante guerra entre dirigentes de clubes que deveriam refletir para chegar à conclusão de que a união faz a força. Da FPF e da Liga Portugal todos sabemos o que se pode esperar, ou desesperar. Contudo, os clubes têm os mesmos objetivos e a mesma atitude para se reforçarem economicamente: o endividamento constante tem de ser substituído por decisões com sustentabilidade. Isso tem de ser o destino próximo: qualificar o futebol, eliminar quem prejudica o jogo e qualificar arbitragens com rigor e critérios. A liberdade de opinião é uma conquista a preservar, mas não pode valer tudo. Organização, formação de talentos, melhores instalações, especialistas competentes e treinadores com noção do que se lhes exige: mais do que a vitória, é imprescindível termos uma escola de futebol português que se imponha internacionalmente. Pensar o jogo com as nossas especificidades, intensidade nas emoções, mas evitando conflitos e polémicas desprestigiantes.

A mudança é uma constante da vida, por isso, é urgente debater o futuro, indicar as metas e as estratégias, envolver quem gosta e defende o futebol, com dedicação total. A base tem de ter alicerces seguros e a competitividade não pode alimentar violência mas cooperação. Com objetivos focados, poderíamos caminhar para sermos uma potência do futebol europeu, desde que todos sintam esse desejo e o consigam manter. As polémicas que enchem páginas de jornais, dividem mais do que unem e maltratam o jogo. O negócio aumenta sem limites, as dívidas impedem futuros porque somente visões imediatas estão a apertar a sobrevivência do nosso futebol. 

Os planos de que se fala, as iniciativas e experiências, nunca dão resultados porque são metas de conjuntura e não de estruturação futura. A política interfere no futebol e alguns presidentes de clubes mantêm visões curtas. Os recentes casos de provocação a crianças que acompanham os pais aos estádios e são insultados sem que os autores pensem nas eventuais consequências futuras para os jovens, não podem ser tolerados, assim como apedrejamentos a automóveis por causa de resultado desportivo não favorável. 

O tempo de ódio ganhou dimensão total e invasora. Convém que todos os adeptos entendam o jogo e no final, no regresso a casa, consigam preservar a racionalidade. Os fundamentalismos tornam-se casos diários e ninguém assume a responsabilidade. Começa a ser hábito que as crianças sejam vítimas inocentes, o que é muito grave! O futebol é arte e inteligência com emoção, por isso deve potenciar condições de convivência em segurança. Devemos estar atentos aos elevados lucros que envolve o negócio do futebol, enquanto a maior parte da população empobrece diariamente. 

Um plano certo, sem muitas páginas mas com perceção do que é preciso fazer, pode tornar-nos, em pouco tempo, uma ainda maior potência da formação e do futebol profissional e das Seleções Nacionais. Assim, teremos oportunidades de desfazer guerras de ódio, desperdício de verbas, estádios como arenas de gladiadores e um novo tempo que procure a qualidade, a competência para competirmos internacionalmente e um país que pode ajudar a inaugurar uma nova fase, defendendo opiniões pessoais mas aprendendo a dialogar para o bem comum.

Que venha para o futebol quem o quer aperfeiçoar! É urgente pacificar e torná-lo num templo de eleição e de emoção, sem cair nos extremos da violência e do fanatismo. Mais do que palavras, precisam-se exemplos concretos que invadam positivamente o universo do golo, com tolerância perante os adversários e unidade no apoio ao clube das suas cores.
 

NEGÓCIO IMPARÁVEL!

Ofutebol é de facto um negócio mas não pode cavalgar o futuro exclusivamente para tornar o jogo numa exposição diversificada e constante. Os treinadores, dos mais mediáticos a muitos outros, levantam a questão do exagero da densidade competitiva, com risco para os atletas e logicamente para o próprio futebol. O novo proprietário do Chelsea, Todd Boehly (convém recordar que além de dono do Chelsea é também detentor de 20% dos LA Dodgers, equipa de basebol), numa conferência de imprensa, falou do despedimento do técnico Thomas Tuchel, criticou a falta de diálogo da equipa profissional com a academia e adiantou que prefere as ideias do desporto norte-americano. A seguir ao dinheiro árabe, agora vem com força o dinheiro dos EUA. Pretende criar o Jogo das Estrelas, num jogo Norte-Sul. Por outro lado, pretende criar um play-off entre os últimos quatro classificados da Premier League, para decidir quem desce ao Championship, e fundar uma rede de clubes afiliados em vários países. 

A americanização do futebol na Europa poderá ser uma enorme contradição. Jurgen Klopp, treinador do Liverpool, questiona se Boehly não pretende também criar uma equipa de jogos de exibição, do género dos  Globetrotters… O treinador do Liverpool é um opositor firme ao aumento do número de jogos, pelos riscos de lesão nos atletas e termina afirmando que o futebol europeu não precisa de jogos Norte-Sul mas de união. O futebol que conhecemos na Europa corre sérios riscos de se tornar apenas mais uma área exclusiva de negócio. Futebol como feira de entretenimento! Todd Boehly já encarregou o diretor da academia do Chelsea para tratar de analisar eventuais clubes para serem adquiridos, na mesma perspetiva  do Manchester City e de cerca de 10 clubes em vários países. 

A Europa tem agora mais um desafio que não pode perder, caso contrário o futebol passará a ser menos do que um jogo, um mercado para ganhar milhões, alterando radicalmente o paradigma do futebol. Como a FIFA e a UEFA parecem revelar muito interesse em receitas milionárias, indo ao encontro do dono do  Chelsea, atravessamos fase decisiva e, por isso, o futebol como o conhecemos poderá afastar-se cada vez das suas raízes. Tem a decisão a UEFA e a FIFA… 

Os tempos trazem muitas dúvidas e é preciso que o futebol se una e mantenha a sua dignidade. Acrescentemos mais um exemplo da enorme força do negócio que vai tomando o poder do futebol: a Budweiser, cerveja americana que integra o grupo de patrocinadores da FIFA, colocou como exceção às regras islâmicas a permissão de bebidas com álcool até nos camarotes dos estádios. Catar é país islâmico mas nos últimos tempos, com aposta forte no turismo, vai abrir a legislação relativamente às bebidas alcoólicas. Depois das polémicas pelo desrespeito dos direitos humanos sobre os trabalhadores emigrantes que construíram os estádios, agora junta-se também a questão das bebidas alcoólicas; para já, as entidades do Catar solicitam que sejam consumidas em zonas específicas. O futuro a mudar de hábitos e tradições? O negócio a invadir espaços que se julgavam impossíveis…
 

FUTEBOL NACIONAL E INTERNACIONAL 

A jornada 7 da Liga Portugal acrescentou grandes surpresas: no Estoril, o FC Porto começou a perder, desperdiçou oportunidades, revelando uma fase de intranquilidade, mas ainda conseguiu o golo do empate e perdeu várias situações de golo para vencer: resultado 1-1. No Bessa, o Sporting começou a perder, empatou e nos momentos finais o Boavista, numa grande penalidade, venceu o jogo: resultado 2-1. O Benfica recebeu o Marítimo que ainda não pontuou e goleou por 5-0 e o SC Braga recebeu o Vizela triunfando por 2-0, mantendo os dois primeiros lugares.

Na Liga Europa, no passado dia 15, o SC Braga, em casa, venceu o líder da Bundesliga, Union Berlim (1-0).


PAUSA PARA SELEÇÕES

PARA a Liga das Nações, Portugal tem dois jogos que precisa de vencer: dia 24 na República Checa e a 27 o jogo com a Espanha em Braga. Tarefa muito complexa mas a nossa Seleção está habituada a jornadas difíceis, porque também é constituída por grandes jogadores com prestígio internacional. Os eleitos de Fernando Santos têm capacidade e qualidade para nos dar mais uma grande alegria. O importante é deixar tudo no campo, jogar unidos, com posse de bola, fechando espaços aos adversários e aproveitando com eficácia as oportunidades surgidas. Temos talento para isso. 

Por muitas vontades e escolhas que cada um de nós possa pensar, essa tarefa cabe exclusivamente a Fernando Santos, que já nos deu títulos internacionais. 
 

REMATE FINAL 

A arbitragem de alguns jogos da Liga Portugal continua a deixar muita preocupação porque nunca se sabe para onde vai o jogo. Continua a faltar coerência, discernimento e eficácia, perda de tempo e falta de autoridade sem ter de dar nas vistas; bastaria aplicar as leis sem demoras.

Taremi responde com coerência e eficácia às perguntas colocadas no fim do jogo: «O meu pé esquerdo estava no pé de Witsel e o direito tem de ir para a esquerda, certo? Não é simulação. Quando há um contacto, não é simulação.» Por mais que o tentem prejudicar, mantém confiança inabalável e continua convicto: «Foi um jogo difícil. Na segunda parte jogámos melhor, criámos várias oportunidades, fizemos mais remates, tivemos bola nos ferros e fomos melhores do que o Estoril. Merecíamos ganhar e fomos um pouco infelizes (…) Vai ser uma semana difícil mas temos de seguir em frente (…) Temos de nos manter focados e confiantes, porque no futuro será melhor.»

Rúben Amorim afirmou: «Temos de aproveitar as oportunidades, temos de ser melhores com a bola à frente da área. O Boavista foi duas vezes à nossa baliza e marcou (…) Não podemos evitar aquele grande remate, mas podíamos evitar que eles saíssem pela esquerda.»

«O Estoril Praia condena todo e qualquer ato de violência, seja ele de que natureza for. Temos mais de 80 anos de serviço ao desporto e à formação, com respeito integral pelo fair play. Este é o nosso ADN e não desistimos da nossa missão. Lamentamos profundamente a situação vivida pela filha do adepto do FC Porto no Estádio António Coimbra da Mota, pedindo-lhe desculpas e desejando que nunca deixe de apreciar a verdadeira essência do Desporto.» Exemplar.

Na primeira edição da prova de futsal organizada entre a UEFA e a Conmebol, que colocou frente a frente as duas melhores equipas europeias e as duas melhores da América do Sul, a equipa de Portugal venceu o troféu da Finalíssima de Futsal, ao derrotar a Espanha no desempate por penáltis.