Foi bom enquanto durou!

OPINIÃO06.11.202003:00

O julgamento do processo relacionado com o Football Leaks já vai longo. Esta semana apresentou aquela que, porventura, será a peça mais relevante: a audição do ex-CEO da Doyen, principal ofendida no processo, a debitar o que se lembra e a descrever o modus operandi daquela que foi uma das mais importantes máquinas privadas de financiamento junto das principais SAD portuguesas e outros clubes europeus.

Era de esperar a posição assumida em relação ao Sporting sobre o facto de que este poderia ter ganho mais dinheiro se tivesse mantido a sua parte do acordo. Ainda que subscrito por Direções anteriores e por mais prejudicial que seja, excetuando, claro, a possibilidade de ser ilegal, tentar anular um acordo é um primeiro prego no caixão. A própria SAD leonina que o diga depois de ter sido forçada a pagar uns milhões à Doyen quando podia ter optado por se sentar à mesa com vista à alteração do acordo tal como fez no âmbito da renegociação (e indulgência) bancária quanto à sua dívida.

O passado já lá vai e há que saber enquadrar, hoje, o papel de anjo e diabo que a Doyen desempenhou na vida dos clubes portugueses quando a banca se afastou. De anjo quando surgiu como salvador financeiro. De diabo quando a própria expressão de Nélio Lucas é reveladora: nunca perdia dinheiro. Pudera, a casa (Doyen) ganhava sempre pois cada negócio extravasava a usura e ainda ficavam com parte do bolo (direitos económicos).

Nos negócios deve-se assumir o compromisso, mas, ao invés de tentar anulá-lo, porque não tentar alterá-lo para evitar aquisições como o Ferrari  Imbula e a dupla Bilal Ould-Chikh & Ola John ou Rojo & Luc Castaignos? Se a Doyen não tivesse sido garganeira e se tivesse pensado em transformar-se num fundo propriamente dito sem exigir garantias que não podia deter seria, atualmente, uma XXIII Capital. No futebol, como noutros setores de atividade, não há milagres. Os juros são elevados? E os dos bancos não?