Fim de contas

OPINIÃO15.05.201801:30

No passado sábado, dois homens receberam em Guimarães merecida homenagem: Moreno, capitão do Vitória e homem de medida cheia, que fechou com chave de ouro uma longa carreira, recheada de êxitos desportivos; Nuno Roque, árbitro assistente, que terminou na Cidade Berço uma viagem de 28 anos dedicada à arbitragem. Foi bonito ver um e outro visivelmente emocionados, com as esposas de um lado e os filhos do outro, a receberem em pleno relvado o reconhecimento público, pela entrega de uma vida à carreira de que tanto gostam. Esteve bem a Liga naquele gesto simbólico. Fê-lo da forma certa, no local próprio e no momento adequado.


A época terminou ali, para Vitória SC e FC Porto, mas em muitas outras paragens, jogou-se o tudo ou nada. Na Luz, nos Barreiros, em Vila do Conde, Portimão, Setúbal e Vila da Feira houve partidas de interesse máximo para o apuramento das contas finais. Era importante que, na jornada final, tudo corresse bem. E o certo é que as arbitragens foram de excelente qualidade, contribuindo para um final de época tranquilo e sem casos. Felizmente.


É tempo agora de projetar o futuro, recordando premissas importantes. De que tenha memória - e ando cá há muitos anos - esta foi uma das épocas mais violentas no que diz respeito a guerrilhas verbais e ao levantamento de suspeitas, insinuações e acusações. Sem prejuízo de toda a verdade que parte delas possa encerrar (e confio que a justiça a descubra rapidamente), não há indústria que resista a tanta agressão diária. O esforço para que esta atividade evolua deve partir de quem tem responsabilidade. Deve ser um esforço genuíno, pensado no bem maior e não estratégico, virado para o benefício do umbigo.


As pessoas estão cansadas de fait-divers e de faltas de respeito. Estão cansadas de má-educação, charadas e palhaçadas. Por muito que achem piada e, aqui e ali, até gostem ou partilhem, na verdade o que estão mesmo é fartas. Ninguém minimamente equilibrado gosta de ver uma atividade que adora, um jogo que admira, vandalizado às mãos de quem tem obrigação e o dever de cuidar dele. Está na hora de parar. De refletir. E de mudar.


Quem serve os clubes, os órgãos do futebol e as instituições desta enorme indústria não se pode esquecer de que apenas ocupa um cargo. Um cargo momentâneo.  São pessoas eleitas para exercer uma função que um dia terminará. O pior que podem pensar é que são imortais ou insubstituíveis. Que são as próprias instituições. Não são. Depois delas, outras virão. O melhor é que, nesta curta passagem pelas zonas de poder, sejam dignos representantes dos seus cargos. Que o exerçam com responsabilidade, com competência e com ética. A história encarregar-se-á de imortalizar todos eles, elogiando os mais corretos, empenhados e competentes e satirizando todos os outros, como hoje já faz com meia dúzia de atores.


O destino do futebol português não está nas mãos dos adeptos, dos jogadores, dos árbitros ou treinadores. Está nas mãos de quem o conduz. Se isso não for motivo mais do que suficiente para o levar a bom porto, não sei o que será.