Fica o repto

OPINIÃO02.06.202004:00

A Liga NOS regressa amanhã. A retoma, longe de acontecer da forma ideal, acontecerá da forma possível. A alternativa seria catastrófica e sobre isso não parecem existir grandes dúvidas. É agora que começam a surgir as dúvidas em relação a questões importantes, relacionadas com os protagonistas:

- Qual será a qualidade competitiva dos jogos? O que será diferente para quem estará em campo? Quem será o campeão, quem descerá de divisão, quem será o melhor marcador, quem será o GR que sofrerá menos golos? Quem será o melhor jogador, quem será o melhor treinador? Que clubes irão apurar-se para as competições europeias? Quem terá acesso aos milhões da Champions? Existirão casos positivos de Covid-19? De quem, onde, quantos? Como estarão os índices físicos de jogadores e árbitros? E como estará a sua motivação, o seu foco, a sua concentração?

Depois existem as questões extrínsecas, relacionadas com tudo o que rodeia este processo:
- Como será o comportamento generalizado dos dirigentes, face aos resultados desportivos que surgirem? Qual será a sua conduta? Que tipo de estratégia comunicacional adotarão? Que encaixe terão na vitória e, sobretudo, na derrota? Que respeito existirá entre uns e outros? Que tipo de discurso será utilizado por eles e por quem se identifica com eles? Que tipo de comentários públicos serão feitos pelos seus adeptos e seguidores, nomeadamente por aqueles que formam opinião?

Pessoalmente, reconheço que este é um momento crucial para o nosso futebol, para a sua sustentabilidade e sobrevivência. Reconheço ainda que a retoma será um processo emocionalmente delicado, capaz de exponenciar emoções, toldando a razão. Mas é precisamente por isso que gostaria de lançar um repto. Um repto a quem estará em campo e, sobretudo, a quem estará do lado de fora:
- Não cedam à pressão, agindo da forma como toda a gente espera que ajam.

Há no ar a sensação de que o ruído será grande e que existirão acusações e insinuações graves. Há no ar a ideia de que os próximos tempos serão de guerrilha verbal, levantamento de suspeitas e acusações sistemáticas. Há no ar a sensação de que o ambiente será escaldante e que, quando for a doer, as coisas ficarão feias e insuportáveis. Sabem uma coisa? Não tem nem precisa de ser assim. Se há algo que aprendemos nos últimos meses é que o futebol vale bem menos do que a nossa saúde e a saúde de quem mais amamos.  Sem essa segurança e bem-estar, nada faz sentido. As brigas que travamos cá fora têm importância zero se, em casa, não tivermos a alma cheia e o coração preenchido.

Este é o momento para provarem a vossa grandeza de caráter. Este é o momento para se afirmarem enquanto líderes, pessoas e homens de bem. Este é o momento para surpreenderem quem vos associa a condutas menores, mostrando que mais importante do que qualquer estratégia comercial, é a demonstração plena da vossa dignidade, honra e verticalidade. Não cedam à tentação de seguir o caminho mais fácil, aquele que todos esperam que sigam, só para se rirem nos cafés e picarem-se nas redes sociais. Não lhes deem esse gosto. Sejam maiores do que o penálti, que a picadela maliciosa ou do que o piropo envenenado. Ignorem. Sorriam. Respondam com silêncio e trabalho. Respondam sendo fantásticos nas variáveis que controlam. Quem está na vida assim, desse modo, ganha sempre, mesmo que pelo meio perca uma ou outra vez. Acreditem. Vai dar-vos um gozo tremendo.
Bom regresso!