Fernando Mamede

OPINIÃO30.07.202107:05

Fraquezas da máquina humana; breakdance em Paris; os verbos trabalhar e alcançar

A propósito dos demónios de Simone Biles, capazes de obrigar a ginasta norte-americana - no Rio2016 conquistou quatro medalhas de ouro e uma de bronze e cinco anos depois era anunciada como a sucessora de Michael Phelps e Usain Bolt rumo ao estrelato olímpico reservado só aos predestinados - a renunciar às provas individuais após se ter retirado do concurso por equipas, lembrei-me de Fernando Mamede. Ainda hoje me emociono sempre que ouço o antigo atleta alentejano recordar os Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles, onde chegou com o estatuto de principal candidato ao ouro nos 10 mil metros - batera o recorde mundial da distância no mês anterior numa corrida inesquecível em Estocolmo, à frente de Carlos Lopes, marca inultrapassável durante cinco anos - e regressou a Portugal  sem sequer ter conseguido terminar a final. Uma das mais fantásticas máquinas humanas da história do atletismo nacional e internacional, em pista, corta-marto e até em estrada, assim o definia Moniz Pereira, conviveu com os demónios de Biles em tempos que a saúde mental, dos desportistas e da população em geral, era tema secundário e desvalorizado. Manias, apenas, diziam alguns... Mesmo que se despeça do Japão sem subir ao pódio as vezes que desejava, a passagem de Simone Biles pelos Jogos de Tóquio já lhe valeu ouro pela coragem e inspiração  para tantos que sofrem em silêncio.

Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Algumas das novas modalidades nos Jogos, casos do skate, do surf, do basquetebol três contra três e da escalada, revelam adaptação aos novos tempos e uma atenção especial ao público jovem. Os mais conservadores terão agora três anos para digerir a inclusão do... breakdance em Paris2024.

Jorge Fonseca trabalhou para o ouro e alcançou o bronze - nesta frase os verbos trabalhar e alcançar têm a mesma importância. Nem todos podem ser medalhados...