Espera-se mais dos videoárbitros
ESTA não tem sido uma fase boa para a arbitragem do futebol profissional. É verdade que estes são tempos difíceis, que perturbam os árbitros na sua concentração, motivação e preparação. É verdade que também eles têm sofrido na pele o peso de um momento atípico, que impôs mudanças na forma de trabalhar, de estar e viver, mas isso não justifica tudo.
Nas últimas jornadas, aconteceram erros que são inadmissíveis em jogos que contam agora com o apoio da videotecnologia.
Todos sabemos (agora mais do que nunca) que lá dentro, a olho nu, é quase impossível ver tudo. O suor escorre pela cara, o cansaço tolda a lucidez, os holofotes encandeiam a visão, o sol, a chuva e o vento dificultam a movimentação, o ruído perturba a concentração, enfim, o que não falta são condicionalismos que tantas vezes fazem a diferença entre tomar uma excelente decisão ou cometer um erro capital. Acontece.
Mas em sala não. Em sala o VAR não está sujeito à fadiga, a obstáculos visuais ou a barreiras de natureza mais terrena. Não se desgasta a gerir emoções e tensões nem a correr num relvado escorregadio. Não se preocupa em encontrar a melhor posição para decidir. Em sala, tem tudo o que precisa: condições de trabalho, tranquilidade total, tempo e imagens. Imagens de vários ângulos, mais ou menos ampliadas e mais ou menos aceleradas, para que decida com calma, serenidade e qualidade.
É certo que o protocolo (ainda) não é tão football friendly como gostaríamos. Impõe demasiadas restrições. Mas, descontando as situações de dúvida, os lances de opinião subjetiva, os momentos discutíveis, há decisões que não podem nem devem acontecer em alta competição. E quando acontecem, mostram que quem está na Cidade do Futebol não está qualificado para ser videoárbitro. É tão simples quanto isto.
É importante que quem desempenhe a função perceba que este é um trabalho a sério, que tem impacto direto na credibilidade da arbitragem e na verdade do jogo e da competição.
Ser VAR pressupõe concentração máxima. Facilitismo, relaxamento ou descontração sabem bem, mas é para as folgas ou férias. Lá dentro, é a sério. Lá dentro podem até pensar que estão sozinhos, mas não. Estão acompanhados por milhões de pessoas que, culturalmente, têm tolerância zero à classe e não perdoam erros que não podem nem devem acontecer quando há recurso à tecnologia.
É preciso que nunca se esqueçam disso quando vão a jogo. É preciso que levem na mala doses extra de profissionalismo e responsabilidade. Em sala não há desculpas. É preciso ver, rever e voltar a ver. É preciso desconfiar, confirmar e reconfirmar. É preciso checar tudo, a toda a hora. Sem falhas nem pretextos. Sem suposições nem deduções. É para isso que estão lá. É só para para isso que lá estão.
Há quem saiba que é assim e desempenha a função de forma insuperável. E depois há quem veja ali uma coisa engraçada, que se faz bem e que até é leve e giro. Não há espaço para a mediania, porque o Ferrari não é para as unhas de qualquer um.