Opinião É só mostrar as contas
Já não basta fazer a conta, como diria António Guterres sobre o PIB, agora é preciso mostrar as contas. Villas-Boas percebeu isso e deu mais um passo na boa relação com os adeptos
O FC Porto divulgou esta semana o novo Portal da Transparência, uma promessa de André Villas-Boas que mostrou, às claras e com uma comunicação simples, transferências, comissões e remunerações. Uma iniciativa de louvar, numa altura em que os adeptos se tornam cada vez mais exigentes em relação a contas. Não por de repente todos gostarem de Matemática ou serem especialistas em capitais próprios e resultados líquidos, mas porque já todos terão percebido que, sem uma gestão eficiente, não há resultados desportivos que resistam durante muito tempo - e o FC Porto que o diga.
Também é verdade que, normalmente, esses mesmos adeptos se viram mais para as contas quando os resultados desportivos não aparecem. Antigamente pedia-se sempre a demissão do treinador, agora os CFO’s e CEO’s também não se safam. O melhor é mesmo aliar as duas vertentes, porque se houver títulos e contas positivas ninguém se chateia - e o Sporting que o diga.
Os clubes também vão percebendo que com essa atenção para área financeira vem ainda uma necessidade de maior transparência. Já lá vai o tempo do futebol só ao domingo à tarde (por falar nisso, que bom um FC Porto-Farense nesse horário!), com acesso reduzido às imagens e à informação e com o debate centrado apenas na mesa do café. Hoje, qualquer adepto, a qualquer altura, descarrega um pdf de uma auditoria com centenas de páginas e vai às redes sociais comentar ou consultar a opinião de outros, gerando uma bola de neve que nenhum parágrafo a dizer que não há qualquer problema consegue travar – e o Benfica que o diga.
André Villas-Boas e a sua equipa parecem ter percebido isto. Há hoje no FC Porto uma sensação de que se respira ar puro, de que uma nova era começou, mais bem preparada para 2024 e o futuro (até se começa a falar numa mulher presidente...). O Portal da Transparência podia parecer só uma promessa bonita de colocar num programa eleitoral, mas a redução de comissões e remunerações pode fazer tanto pela estabilidade do clube como os resultados desportivos (que ninguém deixará de exigir, mas que poderão surgir sem o sufoco anterior) e um bom mercado de transferências.
O FC Porto parece nesta altura mais próximo dos seus adeptos, seja através de iniciativas que os convocam, como pela maior transparência na sua relação. E isso, quando os resultados desportivos ainda estão em causa e as contas ainda sofrem muito, é meio caminho andado para que o trabalho acabe por ser bem feito – e Villas-Boas talvez o diga.